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AAUS Associação de Alunos

Atividades

Atelier de Escrita e Leitura:

Índice por Autores

Regulamento


Obras e Autores



Obras Publicadas em 23-7-2021

Maré de Cores - Luísa Faria

71 Anos Subindo - Eliseu Pinto "O Gralha"


Obras Publicadas em 14-7-2021

Sou um Poeta Menor - Eliseu Pinto "O Gralha"

Amanhecer Diferente - Maria José Domingos


Obra Publicada em 22-6-2021


A Minha Bela Palmeira - Eliseu Pinto "O Gralha"


Publicado em 6-6-2021


Obra: Acidente Rodoviário

 De: Maria Florênça Costa


Publicado em 24-5-2021


Obra: ''Partida'' do Meu Amigo

 De: Eliseu Pinto "O Gralha"


Obra: A Ferreirinha

   De: Maria Florênça Costa


Obra:O Meu Girasol

   De: Maria Florênça Costa


Publicado em 4-5-2021


Obra: A Lenda da Flor da Esteva

   De: Luísa Faria


Obra: Aromas da Vida

 De: Maria José Domingos


Obra: Tenho o Privilégio e Alegria

 De: Eliseu Pinto


Publicado em 21-4-2021


Obra: Roubo (Desproporcional)

   De: José C. Fael


Obra: Imperfeição

 De: Lino Solposto


Obra: A Senhora do Manto Verde

 De: Luísa Faria


Publicado em 4-4-2021


Obra: Dia da Mulher

    De: Maria José Domingos


Obra: Monólogo Frente ao Espelho

 De: Eliseu Pinto - O Gralha


Obra: Chegou o Inverno

 De: Luísa Faria


Publicado em 28-3-2021


Fotos: Crepúsculos da Luísa

De: Luísa Faria


Publicado em 8-3-2021


Obra: Antónimos

    De: José C. Fael


Obra: As Minhas Bizarrias

 De: Eliseu Pinto - O Gralha


Obra: As Vacinas

 De: Lino Solposto


Publicado em 27-2-2021


Obra: Para o Sr. Ramalho

    De: Gilberto de Paiva


Obra: Dão-se Beijos

 De: Mário Oliveira


Obra: Um Inferno no Inverno

 De: Emídio Duarte


Publicado em 19-2-2021


Obra: Um Amigo Improvável...

De: Emílio Duarte


Obra: Acta Única

De: Lino Solposto


Obra: Tralhará-lhe

De: José C. Fael


Publicado em 7-2-2021


Fotos: Outono na Quintinha

De: Luísa Faria


Publicado em 7-2-2021


Obra: Laços do Outono

De: Luísa Faria


Obra:

Nem Só de Pão Vive o Homem

De: Gilberto de Paiva


Obra: O Rio

De: Maria José Domingos


 

Publicado em 28-1-2021


Obra: A Moda dos Laçarotes

De: Maria Fernanda Calçada


Obra: Dia de Reis

De: Gilberto de Paiva


Obra: Espirito Natalício

De: Arlete Alves de S. Pereira


Publicado em  20-1-2021


Obra: Outono na Quintinha

De: Luísa Faria


Publicado em  7-1-2021


Obra: Podas para que vos quero

De: Lino Solposto


Obra: Novo Ano

De: Maria José Domingos


Obra: Bactírios

De: José C. Fael


Publicado em  19-12-2020


Obra: O Que me Faz Feliz

De: António Henriques


Obra: A Vingança da Ciência

De: Lino Solposto


Obra: Amanhã é Que Vais Ver

De: Mário Oliveira


Publicado em  12-12-2020


Obra: O Abraço Que Nos Falta

De: Maria José Domingues


Obra: Saudades

De: Lino Solposto


Publicado em  6-12-2020


Obra: Arte Fotogr. ao Por do  Sol

De: Eliseu Pinto "O Gralha"


Publicado em  26-11-2020


Obra: Viagem a Maiorca

De: Mário Oliveira


Obra: Resistir é a Palavra

De: Eliseu Pinto


Obra: Saudações 25 de Abril

De: António Henriques


Publicado em  1811-2020


Obra: No Ínício o Antes e o Depois

De: Maria José Domingues


Publicado em  10-11-2020


Obra: Mãe Querida

De: António Henriques


Obra: Máscaras

De: Lino Solposto


Obra: Cravos de Abril

De: António Henriques


Publicado em 27-10-2020


Obra: Tejo em manhã de outono

De: Maria José Domingues


Publicado em  20-10-2020


Obra: A Pandemia do Nosso

 Descontentamento

De: Lino Solposto


Obra: Já Chegaram as Setembras

De: Eliseu Pinto "O Gralha"


Obra: Sangue Lusitano

De: António Henriques


Publicado em 16-10-2020


Obra: Arte com Mascaras na Pandemia

De: Maria da Luz Raposo


Publicado em  11-10-2020


Obra: As Minhas Mãos

De: Luísa Faria


Obra: Sorrisos São Precisos

De: António Henriques


Obra: Tempo Diferente

De: Maria José Domingos


Publicado em 12-9-2020


Obra: Um Bom Início de Outono

De: Luiza Faria

Obra: Flores para o Outono

De: Maria José Domingos


Publicado em  24-9-2020


Obra: Tempo de Piqueniques

De: Maria Fernanda Calçada


Obra: Palavras Afagadas P. Brisa

De: Maria José Domingos


Obra: Para o Gilberto de Paiva

De: António F. R. Ramalho


Publicado em 12-9-2020


Obra: Arte de Fazer e Vestir

De: Maria da Luz Raposo


Publicado em 16-9-2020  


Obra: O Tempo do Zoom

De: Lino Solposto


Obra: O Ano de 1968

De: Eliseu Pinto


Obra: Pedaços da menina que fui

De: Maria Fernanda Calçada


Publicado em 12-9-2020


Obra: Arte 4 Fotos na Pandemia

De: Manuel Júlio Silva


Publicado em 9-9-2020


Obra: Lembranças

De: Maria do Carmo R F Nunes


Obra: A Pandemia por Corona

De: Maria Florença Pires


Obra: Se eu Fosse um Pássaro

De: António Henriques


Publicado em  7-9-2020


Obra: Arte na Pandemia

De: Maria da Luz Raposo


Publicado em 4-9-2020


Obra: O Tempo das Maçãs Riscadinhas

De: Maria José Domingos


Obra: As Meninas

De: Maria Fernanda Calçada


Obra: Naturalmente

De: Gilberto de Paiva


Publicado em  28-8-2020


Obra: Arte Fotog. na Pandemia

De: Lino Solposto


Publicado em  25-8-2020


Obra: Janela da Vida

De: Maria Fernanda Gomes


Obra: O Tempo dos Melros

De: Lino Solposto


Obra: O Lugar Onde Nasci

De: João Batista


Publicado em  23-8-2020


Obra: Arte de Renda na Pandemia

De: Maria Fernanda Calçada


Publicado em  21-8-2020


Obra: Esperança

De: António Henriques


Obra: Laços de Primavera

De: Luísa Faria


Obra: O Impacto da Pandemia....

De: Maria Florença Costa


Publicado em  20-8-2020


Obra: Arte Fotog. na Pandemia

De: Eliseu Pinto


Publicado em  17-8-2020


Obra: Estado de espirito

De: Maria do Carmo Nunes


Obra: Estimados colegas

De: Gilberto de Paiva


Obra: Celebrando a Primavera

De: António Henriques


Publicado em  9-8-2020


Obra: Artes na Pandemia de:

De: Fernanda Cravo


Publicado em  6-8-2020


Obra: A Minha Janela

De: Luísa Faria


Obra: O Antes e  o depois

De: Maria Fernanda Calçada H.


Obra: Socorro! Acudam aos idosos

De: Lino Solposto


Publicado em  30-7-2020


Obra: Artes na Pandemia de:

De: Maria da Luz Raposo


Publicado em  26-7-2020


Obra: Aqui existe amor

De: Arlette Pereira


Obra: As voltas que a vida dá

De: Maria do Carmo Nunes


Obra: Brindo à vida

De: António Henriques


Obra: O que te faz feliz

De: Arlette Pereira


Publicado em  15-7-2020


Obra: Pinturas de:

De: Aida Matos


Publicado em  13-7-2020


Obra: O que Me Faz Feliz

De: Eliseu Pinto "O Gralha"


Obra: O Que Me Faz Feliz

De: Gilberto de Paiva


Obra: O que me faz (ou fez!..) feliz

De: Emílio Duarte


Publicado em  10-7-2020


Obra: Artes na Pandemia

De: Inês Martins


Publicado em  8-7-2020


Obra: Como surgiu o vírus mundial

De: Maria José Domingos


Obra: Esperança

De: Luísa Faria


Obra: Porque Insistem

De: António Henriques


Publicado em  6-7-2020


Obra: Pinturas de:

De: Carmelinda Fernandes


Publicado em  1-7-202


Obra: O Que me fez e faz feliz

De: Maria Fernanda Calçada


Obra: O Que me fez e faz feliz

De: Maria Fernanda Calçada


Obra: Momentos de mim

De: Maria Fernanda Gomes


Obra: Às Voltas com a felicidade

 De: João Batista


Publicado em  26-6-2020


Obra: O Que me faz ser feliz

De: António F. R. Ramalho


Obra: Ser feliz

De: Maria do Carmo R. F. Nunes


Obra: O Que me faz ser feliz

 De: Lino Solposto


Obra  Autor Data

O Que me faz ser feliz - Lino Solposto

Publicado em: 26-6-2020

ATELIER de ESCRITA e LEITURA

Objetivo: - Incentivar a escrita de textos próprios, baseados num tema, selecionado anteriormente pelo grupo coordenador.

- Leitura dos textos em grupo e participação na Roda de Leitura, promovida pela Associação de Alunos da Universidade Sénior.

- Construir um livro no final do ano, com os textos apresentados pelos participantes


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 23-7-2021

 

Título: Maré de Cores                    

 Autora: Luísa Faria

 
 

 
 

 
             

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Título: 71 Anos Subindo

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha

71 ANOS SUBINDO

Já tenho, o pé no degrau

Para subir, aos oitenta

Ainda, que não seja mau

Estar, no piso dos setenta.

Porém, o tempo não pára.

E nem sequer, volta atrás.

Como, não sou, ave rara

Peço amor, saúde e paz.

P’ra subir, mais uns degraus

E ver, como são as vistas

Nos andares, lá de cima.

Se, resisti, a ventos maus

E vi baixar, muitas cristas

Subir, não me desanima.

Eliseu Pinto  “ O Gralha “  10/07/21

 


  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 14-7-2021

 

Título: Sou um Poeta Menor

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha

 

SOU UM POETA MENOR

Sou, um poeta menor.

Sou, da vida vivida

Rústica alegre e sofrida

E como tal, sei de cor

Os trilhos da fantasia.

Quando, neles me embrenho

Vai-se o medo e já não tenho

Algemas, na poesia.

Vou-me diluindo, no todo

Libertando-me do lodo

Pestilento do dia-a-dia.

Sou, um poeta menor

Mas, sinto que é bem melhor

A minha menoridade

Que não me leva ao topo.

Mas, não perco a felicidade.

Despojo-me, do negro manto

No chão do mundo sem cor

Vou, ao meu universo festejar

As coisas simples e o amor.

Sou um poeta menor

Mas, beijo os teus lábios de mel

E sinto, que sou o maior.

Eliseu Pinto  “ O Gralha “  12/04/21

 


Título: Amanhecer Diferente

Autora: Maria José Domingos

 

AMANHECER DIFERENTE

O vento e a chuva acordaram o dia

Numa dança de energia desmesurada

Rodopiavam, entrelaçavam-se

E corriam

As gotas de água avolumavam-se,

Qual cascata vigorosa, de rumo incerto

E corriam

Corriam vergando árvores fortes,

Assustando pássaros, gatos, cães e insectos

A sua louca dança cega continuava

E colhiam a flor ainda sonolenta

O ramo tremente de insegurança

As folhas com rugas de muito sol

E as que tinham acabado de abrir também

E corriam

Agitando águas, brincando com os barcos,

E deixando as pessoas á janela a comtemplar

Aquele encontro matinal vigoroso

Bramiam, e sopravam água como fontes descontroladas.

O sons de fúria, energia solta,

Como cabelos solto em tarde de ventania

Mas era manhã, e as águas e as águas corriam

E de repente tudo amainou

Ficaram os pequenos ramos estendidos no chão

As flores que perderam o galho que as alimentava

As folhas perdidas que se juntaram-se em aconchego

Ficaram as pequenas lagoas

Os pequenos riachos, pequenas cascatas

 E chegou o silêncio

Os pássaros sacudiram as asas

E voaram aos primeiros raios de sol 

As flores brilhavam com as muitas gotas

Qual diamantes acabados de polir

As folhas descansaram um pouco

Os barcos aquietaram-se

Mas as águas continuaram rápidas

Lindo amanhecer, por ser breve,

Diferente, inesperado

E porque a Natureza é isso

A diferença.

Maria José Domingos               9/05/2021

 

 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 22-6-2021

Título:A Minha Bela Palmeira

Autora: Eliseu Pinto (O Gralha)



  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 6-6-2021

 

Título:Acidente Rodoviário

Autora: Maria Florença Costa

 

ACIDENTE RODOVIÁRIO

 No dia 6 de maio de 2021, quinta-feira às 8:00 de manhã a Maria Florença, uma caminheira, caminhava junto à estrada Nacional 10 e presenciou um atropelamento de uma senhora que aparentava ter 60 anos.

 O semáforo estava vermelho para os veículos e a senhora atravessava na passadeira.
 Juntaram-se muitas pessoas, mas ninguém tinha conhecimentos de socorrismo.

 Vendo que a senhora não se conseguia levantar sozinha e aparentava estar muito mal, a Maria Florença ligou 112 a solicitar socorro.

 Vieram os bombeiros com uma ambulância do INEM, onde vinha o Gabriel, o neto socorrista da Maria Florença.

 A vítima foi rapidamente transportada para o hospital de Vila Franca de Xira, devidamente imobilizada em maca de vácuo e plano rígido.

 A polícia também esteve presente no local para tomar nota da ocorrência.

 A Maria Florença acompanhou a senhora na ambulância que, felizmente, teve uma boa recuperação do traumatismo craniano. 

 

Maria Florença Costa

 

 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 24-5-2021

 
 
 

Título: "Partida" do Meu Amigo

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

“PARTIDA” DO MEU AMIGO

 Estava a pensar, telefonar-te, quando me telefonou o Manaio, a chorar. E a custo, lá me disse, que tu morreste! Tu morreste?!?!...– Porra, Zé! Isso não se faz! Não pode ser! Não quero crer. Como é possível, ires-te embora. Assim, sem mais nem menos. Somos amigos pá! – E deixas-me torturado, pelo telefonema que não te fiz; e trazia há dias na ideia. Precisava falar contigo! E agora, foste-te embora. E tantas e tristes emoções se, apoderam de mim. Tantos avejões negros, me pairam no espírito. – E o teu neto! O teu Rodrigo, luz dos teus olhos. Não vais acompanhar o seu crescimento. Que sentirá, essa criança tão amada, quando se aperceber, de que o avô Zé, desapareceu da sua vida?! E a tua mulher, que adoras e te adora, que vai ser dela, sem ti? – Esperemos, que faça como gostarias e suporte a dor, vivendo, para o neto e para o filho. O teu filho! – O único; - o que nós falámos, dos nossos filhos – tantas preocupações, com o seu futuro. – Hoje, ele é, um homem e também pai. Mas, não tem mais, o seu pai; o seu amigo, conselheiro e apoiante incondicional. Vai ter, de superar. Pela vida e pelo futuro. É a dura realidade. Mas, que siga, o teu bom exemplo. – Mas, devo estar parvo! Tu, deves estar a pregar-me uma grande partida, Zeca. Eu bem sei, o “malandro” que tu és, com esse teu bigode, que ri. – Estou, tão dorido e desnorteado; para aqui, tentando convencer-me, de que é uma mentira. Mas, a verdade é, que não paro de chorar. – Que raio de piegas que eu sou – Um homem não chora! Mas, não me consigo conter. A um murro tão tremendo no “estômago”, não há homem que resista. Pois, a partida de um grande amigo é, como se, um brutamontes nos espancasse, nos atirasse ao chão, espezinhando-nos, sem entendermos a razão, de tal castigo. Zeca Amigo, não nos vamos encontrar mais(pelo menos nesta vida); para uma voltinha à beira rio, na companhia do Pedro, em amena cavaqueira, contando aquelas anedotas malucas, que nos punham a gargalhar. Ou falando, de recordações e novidades, do nosso circulo de amigos e conhecidos. – Morreste caraças! Estou zangado com Deus! Vai doer-me muito. Mas, tenho de ir ao teu funeral e constatar, que é real, este pesadelo. Mas, nem preciso dizer-t--o, tu sabes bem, que pela minha parte, não vais abalar de todo; porque, enquanto eu, por cá andar, andarás sempre comigo, Zeca Matias, meu Grande Amigo. 

 Eliseu Pinto   “ O Gralha “    12/12

 

 


Título:Ferreirinha

Autora: Maria Florença Costa

 

D. Antónia Adelaide Ferreira nasceu em Godim, Peso da Régua, a 4 de Julho de 1811 e faleceu aos 85 anos em Godim, Peso da Régua, a 26 de Março de 1896. Mais conhecida por Ferreirinha, foi uma empresária portuguesa do século XIX.

O pai, José Bernardo Ferreira casou-a com um primo, com a intenção de que a grande fortuna que a família possuía permanecesse “dentro de portas” mas, este jovem sempre se mostrou pouco interessado pelas terras e pela cultura da vinha e, mais citadino, viajava, divertia-se e rodeava-se de todos os luxos e extravagâncias. Aquilo que mais fez na vida foi desbaratar o dinheiro amealhado pelos seus. Pela vida devassa que António Bernardo levava, trouxe-lhe a sífilis e a morte prematura, aos 32 anos. D. Antónia teve dois filhos: uma menina, Maria de Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja, e um rapaz, António Bernardo Ferreira, que seria deputado pelo Partido Progressista e presidente da Associação Industrial do Porto.

D. Antónia ficou viúva muito nova, aos 33 anos, com dois filhos e um património sobrecarregado de hipotecas. No entanto, não esmoreceu a sua coragem, pois enfrentou as dificuldades com trabalho e muita determinação.

A viuvez despertou nela a sua verdadeira vocação de empresária. Ficou conhecida por se dedicar ao cultivo do Vinho do Porto e pelas notáveis inovações que introduziu. A sua família era muito abastada, possuía muito dinheiro e vinhas do douro. Quando faleceu, deixou uma fortuna considerável e perto de trinta quintas, um vasto património.

Esta empresária vinhateira mostrou-se uma notável impulsionadora do desenvolvimento da região do Douro.

Foi introduzindo importantes inovações nesta atividade agrícola, investiu em novas plantações de vinhas em zonas mais expostas à radiação solar, sem abandonar também as plantações de oliveiras, amendoeiras e cereais.

Levava uma vida simples, mais virada para o mundo rural, sempre dedicada às suas vinhas, as quais percorria e vigiava de perto para que fossem bem cuidadas pelos seus trabalhadores.

Era carinhosamente conhecida porque se preocupava com as famílias dos trabalhadores das suas terras e adegas.

Do Douro para o mundo passou a lenda da sua tenacidade e bondade.

Foi apoiada pelo administrador José da Silva Torres, que se tornou mais tarde o seu segundo marido.

Debateu-se contra a doença da vinha, a filoxera e deslocou-se a Inglaterra para obter informação sobre os meios mais modernos e eficazes de combate a esta peste, bem como processos mais sofisticados de produção do vinho.

Mercê de bons acordos, grande parte dos vinhos foi exportada para o Reino Unido, ainda hoje o primeiro importador de Vinho do Porto.

O saturado esforço, a par de obras que pudessem beneficiar toda a produção vinhateira, foi-se concretizando na compra de novas quintas para alargar o cultivo da vinha, tornando o seu império fundiário muito vasto.

 

D. Antónia nunca colocou de parte o seu lado mais humano, lutando sempre pelos mais necessitados, nunca abandonando a ajuda dada aos seus trabalhadores e a muitas famílias com dificuldades exerceu uma ação Filantrópica louvável, sendo benemérita de gente simples e trabalhadora e de várias instituições (asilos, hospitais, misericórdias, bombeiros,).

Na notícia do seu falecimento o jornal “O Primeiro de Janeiro” referia que partira a “ «mãe dos pobres», como lhe chamavam na sua linguagem simples a gente do povo”.

 

Todo o país se reverenciava perante a perda de uma grande empresária vinhateira que tinha estado sempre ao lado do povo. A família real, o núncio apostólico e outras altas entidades, todos lhe prestaram homenagem, desde o envio de condolências, até ao cortejo fúnebre que foi acompanhado por 95 padres e por milhares de pessoas que formavam uma barreira humana, ao longo de quatro quilómetros, até ao cemitério da Régua.

Os jornais do Porto relataram que, à passagem do féretro, homens e mulheres se ajoelhavam perante aquela que consideravam uma protetora, prestando “a última homenagem do seu respeito à nobilíssima dama que fora mãe carinhosa de tantos desgraçados aflitos”.


Maria Florença Costa


Título:O Meu Girasol

Autora: Maria Florença Costa

 

Maria Florença Costa

 


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 4-5-2021

 
 
 

Título: Lenda da Flor de Esteva

Autora: Luísa Faria

Lenda da Flor de Esteva

Estamos na Quaresma!

Tempo de reflexão e oração para os cristãos. Neste tempo, também de confinamento, o que não me tem faltado é tempo. Tempo para pôr em prática, tudo o que a Quaresma representa, mas sinto que este ano me falta algo para me guiar.

Será que estou a perder a fé? Mas ao olhar para o ramo seco, que guardo do ano passado, benzido no dia de Ramos e que espero puder trocar pelo deste ano, tenho a certeza, que não, não estou a perder a fé. Tudo não passa de um enorme cansaço, que tenho acumulado ao longo deste confinamento, que parece não ter fim.

Assim, tento ir ao passado para encontrar boas recordações de outras quaresmas. E logo vou ao encontro de uma pessoa muito especial para mim, que me deixou marcas muito fortes destes tempos de Quaresma.

A tia Violeta assim se chama, foi com ela que aprendi muito sobre a vida de Jesus, deste o seu nascimento, vida, morte e por fim a sua ressurreição.

A tia Violeta, uma senhora muito religiosa e com uma imensa fé, mas por estranho que pareça nunca em tempo algum, a vi entrar numa igreja. Tal como o seu passado, também a religião é tabu, e quem a conhece, já sabe não são permitidas perguntas e eu respeito.

Sendo uma extraordinária contadora de histórias, sempre nos consegue prender horas a ouvi-la, a contar de uma maneira muito peculiar, as passagens da Bíblia. Noutros anos, principalmente na Semana Santa muito havia para ouvir. Muitas escritas no livro sagrado, outras passadas de boca em boca, entre famílias. Verdadeiras ou não? Quem sabe? As minhas favoritas, sempre foram as que falam sobre os símbolos associados à Paixão de Cristo.

Uma que sempre achei bonita, talvez porque na minha terra, no pinhal existem muitas, é a lenda da flor da esteva. Sei que existem muitas versões, mas esta que vou tentar resumir, foi a que me foi contada pela tia Violeta.

"Quando Jesus subia ao monte do Calvário, onde seria crucificado, carregando a cruz nas costas, o caminho onde passava estava ladeado de lindas estevas floridas. Nessa época, todas as flores das estevas eram brancas. Com a coroa de espinhos na sua cabeça, à medida que caminhava, pequenas gotas de sangue iam caindo em cima das flores brancas das estevas, e assim todas

aquelas que o seu sangue manchou nunca mais perderam a cor, as brancas são as que não foram manchadas com o sangue de Jesus. "

Existem localidades no nosso país em que lhe chamam mesmo a flor das cinco chagas.

São elas, ao desabrocharem na Primavera, que vêm lembrar aos homens de boa vontade, as cinco chagas do Redentor.

A seguir à Quaresma temos o tão aguardado domingo de Páscoa. É tempo de alegria, é tempo de festejar a Ressurreição de Cristo.

PÁSCOA, é, pois, uma época também de esperança. Tempo de refletirmos sobre a nossa vida e tomarmos consciência que para alguma coisa puder renascer, temos de deixar partir aquilo que já não precisamos.

Desejo a todos uma Santa e Feliz Páscoa.

Para quem não conhece a flor da esteva aqui deixo uma foto, tirada no pinhal da minha bonita terra, CABEÇÃO.

 

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Luísa Faria

 


Título: Aromas de Vida

Autora: Maria José Domingos

Aromas de vida

Dou um passo, depois outro e ainda mais uns quantos,

Inundo-me de aromas, frutados, doces, leves,fortes.

Tantos e tão variados,

Não os sei decifrar em pormenor,

Mas a cada passo mais um surge, ou se repete.

E lembro.

Lembro todos os aromas, ou quase todos,

Que pela minha vida, passaram ou ficaram.

E lembro

O aroma da inocência, dos morangos proibidos,

Dos campos sem fim, do verde das pastagens,

Da flor do tremoceiro, da laranjeira, da figueira no verão,

Do leite acabado de ordenhar,

da penugem dos pintos, dos ovos ainda quentes.

Lembro ainda, daquela farinha acabada de torrar,

Das papas de trigo e milho (destas menos), do mel,

Das estevas, do rosmaninho, da alfazema,

Dos figos, dos diospiros, das laranjas, e das raras uvas.

Lembro o aroma da terra acabada de lavrar,

E depois das primeiras chuvas,

Dos orvalhos matinais, da brisa quente

Da lua e do sol,

Da noite e do dia

Lembro ainda o aroma

das noites quentes no Alentejo, aroma a flores

a cansaço, a sono solto e sem interrupção,

a sabor de comida noturna.

Lembro também o aroma

Do banho semanal com Feno de Portugal,

Da roupa lavada, dos lençois frescos,

Da casa lavada com sabão azul e amarelo,

De abrir a janela para a entrada da manhã.

E lembro mais

O aroma do medo, da pequenez, da ingenuidade,

do desconhecido, do incerto, e do certo também

Aquele aroma desconhecido que rasga os horizontes

E origina a primeira nuvem que afastamos,

E serão muitas, vida fora, sempre com aromas diferentes.

Também lembro o aroma daquela rosa especial.

Do primeiro perfume embalado,

 Da minha filha ao nascer,

Do sangue que lhe deu vida, do leite que alimentou,

O aroma da sua pele com resíduos vários

E limpa do banho, e o creme que a envolvia

E da ternura entre nós existente.

Lembro o aroma forte do mar

E o leve do rio e regatos,

Das madressilvas, das gardénias,

Dos amores-perfeitos em terras distantes,

Das rosas, dos jasmins, do alecrim, das cravinas,

E outros tantos que a Natureza produz

Lembro o aroma do incenso na rua,

Das especiarias coloridas nos mercados,

Dos peixes fermentados, e dos vários tipos de cogumelos,

E o aroma da paz numa ilha Principesca,

Das suas gentes, leves, famintas de tudo,

Oferecendo grãos de cacau acabado de colher.

E absorve estes aromas

Absorvo a sua energia,

São pérolas que dão cor e aroma ao meu dia.

Aromas tantos, tantos

Aromas que se abraçam, se entrelaçam

E correm no rio da ternura,

Alimentam-se das belezas que nas margens surgem,

Recuperam mais energia na pedra brilhante

Que os espera no caminho e seguem,

Seguem sempre,

Procuram outros aromas, ou outras vidas.

As minhas recordações começam sempre num aroma.

22/ 03 / 2021

Maria José Domingos

 


Título: Tenho o Privilégio e a Alegria

Autor: Eliseu Pinto

TENHO O PRIVILÉGIO E A ALEGRIA

Tenho o privilégio e a alegria

De ter na família, uma das razões, de não ter

Uma vida, triste e vazia.

Os traquinas, dos meus netos

São, o esplendor, de mil cores

Que me alegram, o pôr-do-sol.

E este amor é, tão belo e profundo

Que não deve haver, maior riqueza

 No mundo.

O ter família é, ter raízes

E sobressaltos. Mas também, dias felizes.

Tenho o privilégio e a alegria

De ter, bons amigos. Que são na minha vida

Duma grande valia.

E assim, aos que fazem, o favor

De me dar, a sua amizade

Tenho o dever, de lhes dizer: Muito obrigado!

Meu caminhar, ganha mais razão de ser

Quando, pelos amigos acompanhado.

Seguir na vida com amizades, dá-me a vantagem

De não ir sozinho, ao longo, desta viagem.

 Eliseu Pinto   “ O Gralha “     (27/09/13)


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 21-4-2021

 
 
 

Título: ROUBO (DESPROPORCIONAL)

Autor: José C. Fael

ROUBO (DESPROPORCIONAL)

Hoje venho reclamar sobre um roubo a que todos estamos a ser sujeitos mas que atinge particularmente os “velhotes”, ou “seniores” ou como lhe queiram chamar.

E venho fazer esta denúncia em defesa dos nossos mais que legítimos interesses que já conquistamos ao longo das nossas vidas.

Vidas que na esmagadora maioria, foram vidas de trabalho honesto, sério e duro.

E para demonstrar a minha teoria vou socorrer-me da matemática. Sim, porque isto que vou desvendar é uma coisa importante e fundamental e quero que os factos sejam indiscutíveis, cientificamente provados.

Vou partir de dois dados estatísticos e oficiais:

A esperança média de vida em 2021 para as mulheres é de 85,88 anos.

Para os homens é de 82,58 anos.

(As senhoras vão desculpar-me mas como sou homem, vou utilizar os dados masculinos)

Aos 25 anos e considerando os valores acima indicados, um homem tem uma esperança de vida ainda de mais 57,6 anos, ou seja, mais 691 meses para viver.

Aos 50 anos a esperança é de mais 32,6 anos, ou seja, mais 391 meses;

Aos 75 anos a esperança é de mais 7,6 anos, ou seja, mais 91 meses.

Assim sendo:

- 1 mês confinado para quem tem 25 anos representa 0,15% do resto da vida;

- O mesmo mês para quem tem 50 anos, representa 0.25%

- Idem para quem tem 75 anos, representa 1,1%

Portanto para nós os “entradotes”, cada mês de prisão domiciliária, representa uma “barbaridade” de tempo !!!

Desde que isto começou no ano passado, já lá vão quase quatro meses e meio de prisão domiciliária:

Praticamente, já lá vão quase 5% da nossa esperança de vida !!!

E eu ainda tenho muita coisa para fazer. Eu ainda quero acompanhar os meus filhos e netos mais tempo. Eu ainda preciso de fechar muitos dossiers da minha vida. Eu ainda tenho sonhos a concretizar. Eu ainda tenho mais aulas para leccionar. Eu ainda tenho um livro para publicar. Eu ainda tenho muitas viagens a fazer. Eu ainda tenho muitas jantaradas a gozar. Eu ainda tenho muita gente para aconselhar, para ajudar.Eu ainda tenho muitos livros para ler. Eu ainda tenho muita música para ouvir. Eu ainda tenho muito acordeão para tocar. Eu ainda tenho muito amor para partilhar.

Eu não posso perder tempo.

Eu não posso continuar preso nem mais um dia.

O tempo de vida que me resta é precioso.

NÃO mo podem ROUBAR.

José C. Fael

VilaLonga, Abril de 2021

 


Título: Imperfeição

Autor: Lino Solposto

IMPERFEIÇÃO

Chove copiosamente,

Está um frio de rachar,

Enquanto alguns, bem quentinhos à lareira,

Vários milhões, lá fora, a chorar. 

Não gosto do frio,

E se pudesse,

Decretava-lhe a extinção,

Amenizava o sofrimento

A quem tarda solução.

Então, mãos à obra,

Vamos gritar a desigualdade,

Ajuda, e boa vontade,

Para retirar ao desperdício,

E acrescentar na caridade.

Pobre, sem-abrigo, desafortunado,

Consultem o dicionário,

Lá está, em letras garrafais, escarrapachado,

Que são sinónimos de desgraçado.

O Mundo está torto,

Cada vez mais desigual,

E continuamos sem perceber,

Ano após ano,

Para que serve o Natal.

Jan/2021

Lino Solposto

 


Título: A Senhora do Manto Verde

Autora: Luísa Faria

A Senhora do manto verde

Numa paisagem coberta de neve, fria e adormecida, no cimo da estrada, lá estava ela, envolta num manto de cor verde, que lhe esconde quase todo o corpo, só deixando vislumbrar um pouco do seu longo cabelo loiro, parecendo uma auréola sobre a sua cabeça.

Estaria assim a sua alma cheia de luz, brilhando?

Em seu redor, um silêncio imenso…Nem viva alma se ouve…

Onde estarão todos aqueles que fazem da floresta a sua casa?

Com certeza também eles procuraram, um lugar seguro para se abrigarem do frio.

Mas, pela estrada inclinada coberta de neve, caminha um misterioso viajante, protegido por uma longa capa negra, e só as marcas dos seus pés, desenhadas no solo, denunciam a sua presença.

Um pouco mais á frente, pára por instantes, descansando, sob um velho carvalho, vergado pelo peso da neve. Também ele sente o peso da sua capa, mas as suas mãos, geladas, seguram com firmeza, uma caixa junto ao peito, protegendo-a da neve.

A distância que os separa vai diminuído, e o misterioso viajante, vai pensando, como será a senhora do manto verde, que por ele aguarda, no cimo da estrada.

Será tão bela, como dizem? Serão os seus olhos, verdes?

Momentos depois, ao chegar perto dela, de uma maneira silenciosa mostra ao que vem. Ela, estendendo as suas pequenas mãos, enluvadas, com luvas de cor verde, recebe a caixa, que o misterioso viajante lhe entrega, dizendo:

- Vens atrasado!

- Desculpe, Senhora – respondeu, o viajante, baixando a cabeça, em sinal de respeito,

evitando olhá-la nos olhos. Seriam verdes? Pensou novamente, mas continuou dizendo:

- Está entregue, agora é a sua vez, Senhora.

- Eu sei, e sei que não vai ser fácil, devolver a Esperança a todos aqueles, que em 2020

a perderam – respondeu. A sua voz tremia, seria do frio? Ou do poder, que agora, estava mas suas mãos, ao receber a caixa da Esperança.

Em redor da caixa, uma luz quase invisível pairava no ar.

Ao despedirem-se, por breves momentos, os seus olhos cruzam-se, e o misterioso viajante pôde finalmente confirmar, a Senhora do manto verde, era realmente muito bela, e os seus olhos eram verdes, verdes da cor da Esperança.

A luz da Esperança é a única, que nunca devemos deixar apagar dentro de nós, devemos sim, tentar mantê-la sempre acesa, no nosso coração.

"A ESPERANÇA, SÓ A ESPERANÇA,

NADA MAIS, CHEGA-SE A UM PONTO

EM QUE NÃO HÁ MAIS NADA SENÃO ELA.

É ENTÃO QUE DESCOBRIMOS QUE AINDA TEMOS TUDO "

(José Saramago)

Luísa Faria

 


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 4-4-2021

 
 
 

Título: Dia da Mulher

Autora: Maria José Domingos

 DIA DA MULHER

         Dia 8 de Março simboliza uma luta, que outras mulheres anos antes encetaram para a melhoria da sua vida, em várias épocas da história, mas a mais consensual será a dos anos 1909.

         Mas hoje a comemoração surge muito em forma de raminho de flores, e outros vislumbres do momento.

         E é ver os homens de flor na mão, para apaziguar a sua falta de solidariedade, companheirismo e disponibilidade para ouvir as angústias daquela mulher a quem se leva a flor, mas de quem se conhece tão pouco as suas dores de alma.

         Esta Mulher limpa a casa, cozinha a refeição, faz compras, trata da roupa, cuida das crianças, dos pais, dos avós e de muitos mais, e ainda trabalha no sítio estava disponível para ela, e assim conseguir alguma independência económica, ou até mesmo para sozinha sustentar a família.

         Esta mulher esgota-se todos os dias, e todos os dias se reinventa, na cama que saboreia como sendo o seu casulo de amor e proteção, sonha com uma vida diferente e assim ganha forças para outro dia igual.

         Mas também existe a outra mulher que carrega um filho nos braços flácidos de fome, caminha por entre pó e lama, não sente os insectos, nem as plantas que se deixam rasgos e borbotos na pele áspera, preocupa-se em incentivar as outras crianças que lhe puxam o pano que lhe cobre o pano esfomeado, e foge, foge dos homens, daqueles que lhes levam os filhos, a maltratam, a violam, e foge!

         E são muitas as que fogem dos homens, quer estejam em situações tão desesperadas ou no conforto do lar, aí onde ninguém vê e ninguém ouve, e onde também ninguém quer saber.

         E elas fogem e todas procuram o mesmo amor, compreensão, paz, uma refeição que lhes reponha as forças e a lucidez de pensamento, ou só um gesto a dizer que não está só.

         Mas é sempre o mesmo, e até já houve tempos melhores, mas como em tudo até esta pandemia está a trazer o retrocesso de valores já conquistados e não me deixa celebrar algo que não existe.

         Penso que o respeito, a igualdade, a liberdade ainda são escassos para as mulheres, e aquelas que até os alcançam, nem sempre os conseguem manter, pois á tantas condicionantes, a maternidade é a felicidade que nos trama, e a nossa sensibilidade também.

         Não é por acaso que este conceito vai sendo mencionado, mas de difícil reconhecimento e aceitação pelos poderes instituídos “ Se as mulheres estivessem nos lugares de maior poder, se estivessem na Presidência dos Países com mais que tudo podem, as guerras acabariam, as sociedades avançariam e a desigualdade seria muito mais igual”

         E por isso eu não gosto do dia da mulher.

         E é porque todas nós de alguma forma, somos a segunda hipótese numa fila de igualdades, claro que somos capazes e que muitos homens gostarão de ver a nossa capacidade vir ao de cima em vento suave de ar fresco.

         Bem-aventuradas as que conseguem, porque muitas, mas mesmo muitas são escravizadas, maltratadas, violadas, agredidas, principalmente psicologicamente, e na maior parte das vezes acham que isso é Amor.

         Obrigado por ser Mulher, sou só mais uma, mas todos os dias procuro fazer diferente, e realmente não me dou bem com o “ Dia da Mulher”.

6/03/2021

Maria José Domingos

 


Título: Monólogo Frente ao Espelho

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

MONÓLOGO FRENTE AO ESPELHO

Olha lá, ó seu espantalho

Que estás para aí, feito paspalho

Olhando-te, através do espelho

Será, que não tens mais, que fazer?

Do que estares a tentar ver

Antigas imagens perdidas

Pelos rigores do tempo erodidas.

Sabes bem, que o corpo é velho

Por isso, te dou, este conselho:

Não insistas, na palermice

De quereres parecer, o jovem

Que anda, na tua doidice

A correr, no campo da mente.

Cuida de ti, que é, bem diferente

De te andares, a enganar

Comprando juventude a metro

Só, se for, porque agora

Está na moda, o estilo retro.

Mas tu, que se presume: És, inteligente

E não consta, que sofras de Alzheimer

Põe os óculos e olha-te de frente

Pois, por nasceres, na primeira metade

Do atribulado, século passado

Não deve fazer de ti, um cismado

Com, a escorreita figura antiga

Que ficou, lá muito atrás

Quando, nem tinhas barriga.

Agora, combater a ferrugem

Deverá ser, a tua prioridade.

Para, as dobradiças, não emperrarem

E as tuas, muito usadas pernas, possam

Mais uns bons quilómetros andarem.

Vai gozando, o bom que a vida

Ainda, te pode proporcionar

E não dês confiança, ao sujeito

Que do espelho, te está a olhar.

Se o jovem, que há em ti

Te prega partidas e se esconde

Não ligues! São coisas, da juventude

Dá um piparote no espírito

E verás, que ele responde

Rindo. O que faz bem à saúde.

Não tenhas medo da luz

Nem dos comentários parvos

Que o teu reviver produz

Nos inevitáveis invejosos

Ao verem, que estás vivendo

Irrepetíveis, momentos preciosos.

Eliseu Pinto “ O Gralha “   07/03/19


Título: Chegou o Inverno

Autor: Luísa Faria

Chegou o Inverno.

Abro a minha janela, e ao contemplar o horizonte, num breve olhar, vejo-o. Ei-lo que chega.

Vem envolto num enorme manto cinzento, adornado de pequenas partículas de gelo, que ficaram da geada da última noite de Outono.

Á sua volta ergue-se uma densa neblina, tornando-o ainda mais misterioso. O seu andar é pesado e ao mesmo tempo leve.

Sei que carrega consigo uma estrela, que roubou ao céu, onde guarda as suas joias preferidas, a Saudade, a Esperança, a Resiliência, a Perseverança e o Recolhimento.

Vem cansado da longa viagem, e é o último a chegar. O vento sopra forte, e as folhas oscilam á sua passagem. No céu nuvens negras, carregadas de saudades, deixam cair grossas gotas de chuva, dando-lhe os bons dias.

Por todos é considerado frio, mas também, o mais especial.

Todos o temem, como temem a velhice.

Será ele e a velhice, sinónimo de tristeza?

Quero acreditar que não. Como esquecer os dias de calma e serenidade, quando nos oferece a beleza inigualável das paisagens cobertas de neve. E quem diz que a velhice é fria e triste, está seguramente enganado. Pois a velhice também pode ser, uma calorosa noite, junto da lareira, na companhia de quem amamos, e de quem nos ama.

Penso que tudo é um ciclo, para que tudo possa recomeçar e voltar á Primavera.

Respiro profundamente e vou abrir a minha porta, dando-lhe as boas vindas, convidando-o a entrar.

Chegou o Inverno. (O meu Inverno).

Luisa Faria

Dezembro 2020

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 28-3-2021

 

Título: Crepúsculos da Luísa

 Autora: Luísa Faria

 
     

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  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 8-3-2021

 
 
 

Título: Antónimos

Autor: José C. Fael

ANTÓNIMOS

Nestes tempos de confinamento e escolas fechadas, dei por mim a fazer mais um inesperado recuo para os tempos da minha meninice e – vá-se lá saber porquê – lembrei-me de um episódio ocorrido há talvez muito perto de setenta anos:

Naquele tempo havia na nossa família Fael o hábito de todas as terças-feiras fazermos um jantar familiar. O jantar era em casa dos meus avós que era uma casa de quinta enorme, com a particularidade de ter um pequeno parque infantil com baloiços, um escorrega e um minúsculo carrocel com cavalinhos, que nós adorávamos.

No Verão os jantares eram na grande varanda que corria toda a frente da casa e que tinha uma vista panorâmica sobre parte da cidade da Covilhã.

Naquele jantar estavam os meus avós, os meus pais, o Tio Rui e a mulher, O Tio Alberto e a mulher e o meu tio Júlio que ainda era solteiro. E claro que também estávamos nós todos, a minha irmã e eu e os outros primos todos.

No final do jantar (tantas vezes com as trutas que o meu avô e pai pescavam nas barragens da Serra e outras tantas com as perdizes que os mesmos também caçavam) os adultos tentavam que a gente fosse brincar para qualquer lado longe da mesa de jantar para começarem com uma série de anedotas e histórias só para adultos. Eu, como era o neto mais velho, tinha curiosidade e tentava brincar com os outros miúdos e miúdas, mas disfarçadamente ficava com um ouvido à escuta.

Claro que na maior parte das vezes, eu não conseguia compreender as risadas provocadas pelas anedotas …

E hoje lembrei-me duma que o meu tio Alberto contou e que passo a reproduzir:

 “ A professora de Português do Liceu da Covilhã estava a explicar o que eram os sinónimos e antónimos.

E a seguir a dizer uma frase qualquer, ia pedindo aos alunos que dissessem outra frase com sinónimos ou antónimos.

Depois de algumas frases mais ou menos felizes e que os alunos com diferentes dificuldades foram decifrando, lembrou-se desta para descobrir o seu antónimo:

- As crianças no escuro fazem asneiras.

Olhou para a turma e perguntou a resposta ao Ricardo, um aluno que era conhecido por ser mais “sabido” que os outros e que ficava sempre numa carteira da última fila.

O Ricardo levantou-se, pensou um minuto bem medido e afivelando um ligeiro sorriso de malandrice, respondeu:

- As asneiras no escuro fazem crianças.”

José C. Fael

Fevereiro 2021

VillaLonga

 


Título: As Minhas Bizarrias

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

AS MINHAS BIZARRIAS

Tenho as minhas bizarrias

E até, arritmias

Num coração adolescente

Gosto de frontalidade

Não olhem, à minha idade

E digam, se estou doente.

Mesmo, que tenha loucura

Ou até, um mal sem cura

O que me dói, é ser ignaro.

Quero saber, tudo de mim

Quer seja, bom ou ruim

Gosto, de tudo bem claro.

Ignorante, sou e fui

Mas, sei que no rio flui

A água doce, para o mar.

Tal, como sei, que na hora

Em, que a vida se for embora

É, a morte, que a vai levar.

Ando pois, treinando a mente

Para, não ser inconsequente

Como, se não houvesse final.

Podem achar, que é loucura

Que não tema, a desventura

Do meu apagão geral.

Não quero, seguir o caminho

Dos outros, sigo sozinho

Sem medo, não me vitimizo.

E quando vier que venha

Só quero, uma vida prenha

Com poemas, sem juízo.

Mas, racionalizando o caso

E desconhecendo o prazo

Que tenho, de validade.

O melhor é, ir nas calmas

Pois, não consta, que as almas

Sejam, fãs da velocidade.

Cá vou indo pois, então

À espera, do Armagedão

Sorrindo, se for caso disso.

Pois, não gosto de sisudez.

Mas, é no gozo da pacatez

Que vou fugindo, ao reboliço.

Eliseu Pinto   “O Gralha“    14/09/19


Título: As Vacinas

Autor: Lino solposto

AS VACINAS

Saiu remessa de vacinas para a mesa do canto,

Finalmente ia chegar a cura,

Para mais uns anitos de ventura,

Mas eis que alguns não compareceram,

E tudo mudou de figura.

E agora? Que fazer,

Problema para solucionar,

Suplentes na lista sem constar,

Imbróglio do caneco que urge resolver,

Antes que o liquido acabe por estragar.

Mas no lugarejo tudo se sabe,

E enlevados por servir,

Acorrem o edil que é inerente,

E com ele vem a mulher,

Mais a vizinha do quarto frente,

Que trás o cão amarrado,

Na esperança de alguma dose ter sobrado.

Dizem ser igual em qualquer parte,

Chico-espertos e gente desenrascada,

As culpas são da Úrsula e dos seus pares,

Que prometeram milhões e serviram milhares,

E do vil metal sempre na vanguarda,

Que tudo compra até na hora errada.

Ninguém queria ser primeiro,

Nem Marcelo, o pioneiro,

Eanes também recusou,

E a enfermeira em desespero, perguntou,

Afinal a quem é que dou?

Até que apareceu um voluntário,

E o homem não tombou,

Dissipando o nervoso instalado,

E logo outros avançaram,

E já foram alguns milhares,

Não tantos quantos queria,

Que a esperança não morra na praia,

Para nos devolver alegria.

Lino Solposto

Oeste, Fevereiro 2021


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 27-2-2021

 
 
 

Título: Para o Sr. Ramalho

Autor: Gilberto de Paiva

Para o Sr. Ramalho

Olá amigo Ramalho

Vou dar-lhe a salvação

Não me dá trabalho

É um cumprimento são

Tenho receio que alguém não goste

Assumo a responsabilidade pelo que valho

Para tal tenho de ser forte

Quero homenagear o Sr. Ramalho

Foi isso que ele fez para mim

Não me sinto envaidecido

Os homens quando se respeitam são assim

Também por isso estou agradecido

Fiquei muito sensibilizado

E ao mesmo tempo pensando

Se eu merecia ser agraciado

Por este Sr. de Vila Fernando

Ainda estava em Videmonte

Estava a caminho da P.S.Iria

Lá bebia água boa da fonte

Que era tão amigo não sabia

Pediu-me para não mostrar

Aquilo que o amigo escreveu

Não me quero desculpar

Mas a D. Rosa já leu

ho receio de nada dizer

 Tudo o que escrevo a seu respeito

Só espero que me venha a entender

Visto que para isso não tenho jeito

O amigo Ramalho não é exuberante

O que diz tem alma e talento

A sua calma é constante

Não diz as coisas antes do tempo

Depois de em Videmonte passar muitos escolhos

Em julho fui com a D. Rosa visitar uma orada

Nesse dia que recebi a sua MSG de lágrimas se enxeram os olhos

Tudo isto após uma longa caminhada

Por agora vou terminar

Muito mais deveria de dizer

O meu léxico está a fraquejar

Terei oportunidade de agradecer

Repito a palavra amigo

Para pedir compreensão

Quase nada rima consigo

Por isso peço perdão.

Videmonte, 29/01/2021

Gilberto de Paiva

 


Título: Dão-se Beijos

Autor: Mário Oliveira

DÃO-SE BEIJOS

Dão-se beijos á chegada,

Dão-se beijos á partida,

Dão-se beijos á nossa amada,

Dão-se beijos durante a vida.

Beijo atirado sem direção,     

Pode perder-se no caminho,

Mas se for guiado com a mão,

É recebido com mais carinho.

Quem na face der um beijo,

Pode ser só para saudar,

Mas dado com muito desejo,

Pode dizer quero namorar.

E se o desejo for sentido,

Quem recebe vai corar,

Quem o deu fica envolvido,

Quem recebeu vai namorar.

Ao namorar com almejo,

Vários beijos se vão dar,

Mas o beijo que gera desejo,

Só os lábios sabem dar.

Forte da Casa, 21 de janeiro de 2021

Mário Oliveira

 


Título: Tralhara-lhe

Autor: Emílio Duarte

Um inferno no Inverno

Era a terceira tentativa de fuga daquela terra sangrenta. Na primeira vez, a caminho do deserto, foram capturados por “Mujahidines” que os obrigaram a retroceder.

Na segunda, depois de vários dias pelo deserto escaldante, ei-los frente ao pequeno porto de embarcações. A espera ia ser demorada sem o saberem. O barco que lhes fora prometido, e que os levaria até à liberdade, nunca iria aparecer…

Era assim, mais uma vez, a desilusão de uns quantos, que tentavam fugir ao inferno da guerra.

Mas para Amim, vinte e sete anos de idade, engenheiro mecânico, e apaixonado por aviões, não era tempo de desistir. A esperança de um dia poder pisar uma terra sem guerra, era o seu sonho.

Juntamente com a mulher e filha, refugiou-se numa pequena tenda de um compatriota que conhecera algum tempo antes na sua espera inglória do barco que nunca apareceu. No seu vai vem constante de e para o porto, conheceu um homem que lhe indicou a maneira de sair dali.

No dia aprazado, juntamente com a família, Amim apresentou-se no porto de embarque a meio da noite. No meio da escuridão nem reparou no que o rodeava. Passado algum tempo, o barco iniciou a marcha pela escuridão com todas as cautelas, não fosse aparecer por ali a polícia marítima.

Quando amanheceu, finalmente clareou para todos a dura realidade: o pequeno pesqueiro, onde se encontravam, estava a abarrotar de gente, mal se podiam mexer. Era certo que a embarcação não podia suportar o peso de tanta carga. Nas faces daqueles homens, mulheres e crianças a esperança por um lado e o medo de regressar eram uma constante.

Ainda não navegavam há trinta horas, o armador do barco avisou através do megafone: o motor está a ficar avariado e vamos andar à deriva. Os instrumentos de bordo já não trabalham e estamos com peso a mais. Será necessário libertar peso o mesmo quereria dizer que alguém teria de saltar para a água. Entretanto as bagagens dos “passageiros” foram deitadas ao mar para aliviarem o peso. Leda, mulher de Amim, segredou-lhe ao ouvido:

-O que vamos fazer? Teremos de sair do barco? Será que existem coletes e bóias de salvação suficientes para todos? – Começava o tormento!

-Calma, não sabem o que vai acontecer! - diz Amim à mulher sem soluções á vista.

O medo instalara-se dentro da pequena embarcação… 

Num canto do pesqueiro o mestre da embarcação, deitava à água bóias de salvação e alguns coletes para os desafortunados que iriam sair do barco.

De repente, num gesto de grande violência, o armador e mestre do pesqueiro, gritaram:

-Vocês aí da proa, só os homens e rapazes, têm de saltar borda fora. Junto do barco têm bóias de salvação e coletes!

Os homens, mulheres e crianças gritavam de aflição. Quase nenhum sabia nadar e os perigos eram inimagináveis, naquele mar imenso.

Perante a relutância dos “passageiros”, os chefes do barco, dispararam dois tiros de intimidação para o ar:

-Saem ou não? – Perguntaram os contrabandistas!

Nessa altura e com medo de serem atingidos, os homens atiraram-se à água desesperadamente tentando alcançar as bóias e os coletes. Eram perto de dezena e meia de homens e mais alguns jovens, que de repente, desapareciam nas vagas altas de um mar agitado.

Dentro do barco, instalou-se o pânico com gritos e choros de raiva pela perda dos familiares. Em minutos, os corpos daqueles que se atiraram ao mar, boiavam à superfície sem vida. Daí para a frente, o mar imenso, engolia aquelas vidas inocentes…

Algumas horas depois dentro do barco sem rumo, eis que avistam uma embarcação ao longe. Esse navio também os avistou dirigindo-se ao seu encontro. Os restantes “passageiros” da pouca sorte, lá aguardaram que os “salvadores” chegassem.

Quando o barco maior se aproximou, logo o mestre do pesqueiro exclamou:

-Piratas! São piratas!

Logo três homens armados saltaram para dentro da embarcação e tomaram conta do seu destino.

- Quem é o comandante? Perguntaram do barco dos piratas.

- Eu, afirmou o mestre!

- Então trate de juntar todo o dinheiro e valores, seus e dos passageiros e entregue aos meus homens, imediatamente, se não querem regressar de onde vieram!

Alguns minutos depois os piratas regressaram ao seu barco com dois sacos que entregaram de imediato ao seu chefe. Após breve conferência entre si os piratas decidiram afastar-se do pesqueiro sem mais delongas.

O afastamento do barco dos piratas permitiu aos “passageiros” do pesqueiro continuar à deriva no oceano ao sabor da sua sorte. Sem agasalhos para o frio, sem alimentos, e sem água, exaustos pelo sol de dia e pelo frio à noite, de tão fracos estavam que, alguns já pouco se moviam.

Dois dias depois do assalto dos piratas são novamente avistados por um barco. Sem saberem, o pesqueiro estava a um milha mais perto da costa italiana. Quando o barco chegou junto deles, logo se aperceberam da desgraça humana que tinham na frente. Era um navio patrulha da marinha italiana que os socorreu em condições humanitárias e transportou os sobreviventes, entre eles, Amim e a mulher já muito fraca.

A filha pequena, não sobreviveu ao inferno da fome, sede e do frio. Os pais inconsoláveis, aguardavam a passagem por terra, a fim de fazerem o funeral da pequenina, o qual teve lugar num cemitério italiano à chegada depois de cumpridas as formalidades especiais.

O armador do pesqueiro, com receio de ser punido por transportar pessoas e fazer transportes ilícitos, atirou-se ao mar para não ser julgado na justiça italiana. O mestre, foi preso e entregue às autoridades.

Os restantes sobreviventes tinham agora outro inferno para enfrentar: o inverno Europeu que os esperava em Itália e na restante Europa, fossem quais fossem os seus destinos.

Autorizados a ficar na Europa, a família de Amim, recebeu alguns subsídios do governo italiano para fazer face à sua sobrevivência. Porém o seu sonho ainda estava longe de se realizar. As suas ideias estavam bem claras: queria emigrar para a Alemanha, onde pudesse exercer a função de engenheiro mecânico. O seu hobby era o xadrez. A sua mulher já recomposta do abalo da fuga, sonhava voltar ao ensino, agora ensinando na Alemanha a sua língua.

Na Síria de onde são naturais, a guerra não tem fim. O casal tinha medo de algum dia ter de voltar. Gostariam de um trabalho condizente com as suas habilitações técnicas e literárias, na Europa.

Quando a vida lhes permitiu, decidiram abalançar-se em mais uma etapa das suas vidas. Saíram da Itália e passaram por França com destino à Alemanha.

Pelo meio, foram vivendo situações de desespero, motivadas pela dificuldade de fazer face ao Inverno rigoroso que a Europa está a suportar. Amim reparava que a maioria tinha poucos haveres, uns tinham sacos outros ainda possuíam colchões velhos onde se deitavam ao ar livre sob um frio gélido, que mais parecia um leito de morte.

Amim quis sair desta situação por ter medo de ser incluído naquela multidão de migrantes, cujos destinos mais prováveis seria o regresso às suas origens.

Como se as condições climáticas de frio e neve, normais no velho continente não chegassem para dificultar os caminhos daquela família, a chuva forte começou a cair com intensidade nesses dias.

Sem habitação, sem dinheiro, sem quaisquer condições, só lhes valendo as organizações humanitárias, para resistirem ao inferno do Inverno rigoroso, chegaram à Alemanha, etapa final de uma aventura que já tinha causado vítimas, e onde foram acolhidos por organizações altruístas.

Após alguns meses, sob o patrocínio de organizações não governamentais, tiveram oportunidade de se integrarem na sociedade alemã e aprender a sua língua, resultante da política do governo para os refugiados.

Passado um ano, Amim é quadro numa empresa de automóveis na Baviera e a mulher Leda, é professora de árabe na mesma região, e neste momento, estão à espera de um filho… 

Emílio Duarte

8/12/2019


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 19-2-2021

 
 
 

Título: Um amigo improvável

Autor: Emílio Duarte

Um amigo improvável…

Desde que mudei para terras Alentejanas que conheci um amigo improvável que me saúda alegremente todos os dias. É impressionante a assiduidade e generosidade de certos seres vivos no dia – a – dia, serem de uma dedicação invulgar, que, se alguns humanos soubessem, a vida, - toda ela - talvez se tornasse mais fácil.

Existe no meu terreno, várias árvores de frutos, desde um pessegueiro, duas laranjeiras, dois limoeiros e duas nespereiras, além de uma dezena de oliveiras e uma romãzeira que teima em não me satisfazer com os seus deliciosos frutos. Sem expressão significativa, existe uma pequena horta, onde conforme as estações do ano, a natureza faz o favor de nos deliciar com couves, alfaces, tomates, favas e cebolas.

Debaixo de uma árvore com frondosas folhas que me protegem do calor, é hábito perder-me em pensamentos perante a beleza dos seus ramos.

A vida do campo tem a particularidade de, quando nos entranhamos no seu interior, apercebermo-nos de fenómenos que transcendem a nossa compreensão. Neste caso, refiro-me em concreto ás aves de pequeno porte.

Voam, pousam, voam e voltam a pousar. É uma vida alegre, a vida das aves, sejam elas grandes, médias ou pequenas. Esta pequena história que vos conto, tem a ver com uma pequena ave - pardal - que todos os dias visita a árvore onde eu gosto de me recolher em pensamentos.

É um caso absolutamente normal, pois todos nós sabemos o que os pássaros fazem. Porém, o que mais me chamou a atenção para com o meu “amigo” passarinho, foi a sua “pontualidade” na chegada diária aos ramos verdejantes da “minha” árvore. Parecia uma combinação pré-estabelecida, e todos os dias, aí estava ele sensivelmente á mesma hora no ramo da árvore por cima da minha cabeça.

Pousava, cantava, era correspondido por outro e passado algum tempo, voava para um telhado em frente e passado um tempo regressava aquela que agora era também a sua árvore.

Costumo estar naquele local sempre ao fim da tarde aproveitando a frescura do dia. Um dia reparei que o minorca, tal é o seu tamanho, aparecia sempre por entre a folhagem dos galhos, saltitando de um para o outro cantando no chilrear jovem e, ali ficava tempo suficiente para me encantar.

A sua rotina é diária pois a árvore é abundante e tem muito por onde saltitar e as folhas viçosas, são um chamariz apetitoso.

A minha surpresa foi sem dúvida, o horário, sempre tão rigoroso, à mesma hora, que me impressionou. Estou convencido, que não se trata de nenhum fenómeno, mas gostava de compreender, como os animais pensam, para nos surpreenderem…

Emílio Duarte

Agosto de 2020

 


Título: Acta única

Autor: Lino Solposto

ACTA ÚNICA

Quinze horas de vinte de janeiro,

Entrou em marcha o projeto pioneiro,

De porta aberta,

Sem entrave ou barreira,

Onde se irá cantar, declamar, bailar ou tocar,

Cada um à sua maneira.

 Veio gente de todo o lado,

Até da Câmara omissa,

Vai ser preciso aumentar a tela,

Para que todos caibamos nela.

 Leva a Inês ao leme,

O convés a abarrotar, 

Vai zarpar a Nau da Resistência,

Que terá muito para contar.

 Entraram os acordes do Tomé,

A música inundou o ar,

Mas logo acudiu Domingos Barbosa,    

Para desfazer o equívoco,

Que teria ficado a pairar.

 Afinal o sete, não é o de Lisboa,

E os do Porto são do Benfica,

O que se estaria a passar?

Temos nova versão da história?

Instalou-se a dúvida na plateia,

Mau, mau, há qualquer coisa de errado,

Mas, afinal não havia,

E toda a gente percebeu,

Depois da forma como foi explicado.

 Aplausos para o esmero dos Paivas,

Naquela rábula de humor,

A Florença sem tempo, e o tempo da poesia,

Ainda o Tomé para encerrar,

Fim da primeira parte, toca a despachar,

Que a segunda não tardaria a começar.

 A Rutis marcou posição,

E não o fez com um qualquer,

Com a presença do Luís Jacob,

Teremos compromisso para o que der e vier.

 Mas o Zoom, ainda está longe de afinado,

Que o digam a Lurdes e o Carrega,

Que entrando em contramão,

Interromperam o orador convidado.

 Eliseu, de cognome o gralha,

Logo se lhe seguiu,

E após as primeiras notas da guitarra,

Voz maviosa surgiu,

Contrastando com a tristeza e nostalgia

Que Maria José disse que sentia.

 Até que a chuva, forte e impiedosa,

Inda Leticia mal começara,

Aborta o sinal periclitante,

De um eremita num Portugal tão perto,

E ao mesmo tempo tão distante.

 Oeste, 20.01.2021

Lino Solposto


Título: Tralhara-lhe

Autora:  José C. Fael

TRALHARÁ-LHE

Dei-me conta agora que o nosso Presidente Marcelo (voltei a votar nele) já não aparece em directo na TV nem noutras notícias, há mais de uma semana.

Para quem como ele que aparecia em tudo quanto era sítio, conseguia aparecer nos noticiários em meia dúzia de sítios diferentes num só dia e de Norte a Sul do País, que quando um avião aterrou dentro de um armazém em Tires apareceu antes de alguns bombeiros, que apareceu com tudo a arder nos incêndios florestais do centro e sul do país, que apareceu logo a seguir a qualquer acidente de qualquer tipo desde que tivesse relevância para interessar ao Correio da Manhã TV, que estava em "todas" com as suas inesquecíveis selfies, que opinava sobre tudo e qualquer assunto, agora ... "desapareceu".

Estará doente ?

Estará a estudar e conferenciar sobre o governo presidencial que várias figuras da nossa praça vaticinam ?

Estará desconfortável porque em tudo o que apoiou o Governo quanto à Pandemia e às Vacinas (ninguém pode dizer como se deve fazer, porque nunca aconteceu uma coisa destas) afinal as decisões foram erradas, dramaticamente erradas e centenas de pessoas estão a morrer por causa delas ?

Então não tem nada a dizer sobre estas (esperadas) trafulhices com a administração das vacinas ?

 Na minha opinião, um político, para além de muitas outras qualidades que todos referenciam, tem de conseguir prever acontecimentos e para isso tem um enorme staff à sua volta, consultores, adjuntos, secretariado ...

E também tem que ter convicções e coragem para decidir.

Governar é tomar decisões !!!

 E foi então que me lembrei de uma figura típica de há mais de meio século que na minha terra natal, a Covilhã, numa situação destas, diria:

 - Tralhará-lhe acontecido alguma coisa ?

 José C. Fael

VillaLonga, 6 de Fevereiro de 2021.


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 7-2-2021

 

Título: Outono na Quintinha (4, 5, 6)

 Autora: Luísa Faria

 
       
             

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  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 7-2-2021

 
 
 

Título: Laços de Outono

Autora: Luísa Faria

Laços de Outono

O Outono está aí, e a natureza volta a pintar-se de cores plenas de amarelos, laranjas, vermelhos e castanhos.

As temperaturas vão diminuindo e as árvores dançam ao som de um amargo lamento do vento, deixando que os ramos libertem as suas folhas.

Cheiros diferentes pairam no ar. É o regresso do vendedor de castanhas, dos bolos de canela, dos marmelos assados, no forno de lenha. É a alegria de cortar os cachos de uva, na vinha para fazer o vinho novo.

É a leitura de um livro, no aconchego da lareira, que se volta a acender.

Outono e livros, uma perfeita combinação, discreta e elegante.

Adoro o Outono e adoro os livros, e, é de livros que vou falar.

Desde muito cedo, que tomei o gosto pela leitura, e acho mesmo, que mais depressa aprendi a ler, do que a escrever.

Há dias, ao passar os olhos pelas notícias, uma em especial, despertou em mim, boas memórias do longínquo Outono, de 1970. A notícia em questão, referia-se à Fundação Calouste Gulbenkian, que iria disponibilizar centenas de edições online, gratuitamente, a partir de 22 de Setembro 2020.

Achei, deveras interessante a coincidência, pois faz precisamente 50 anos, que tive o privilégio de me tornar uma leitora assídua, dos livros que as bibliotecas itinerantes, com as suas emblemáticas carrinhas, de cor cinzenta, levavam de forma gratuita, à população mais carenciada, do interior de Portugal.

Depois de ler a notícia, a minha memória voou à minha frente, e não resisti a procurar se tinha escrito algo daquele dia, no meu velhinho diário.

Folheei as folhas já um pouco amarelecidas pelos anos, e lá estava o que tinha escrito, no dia 22 de Setembro de 1970.

“22 de Setembro 1970

Desde cedo, que a chuva não pára de cair, e o vento sopra com muita força, para nossa tristeza. O São Pedro não dá tréguas, parece querer estragar o nosso dia de festa.

Cá em casa, todos estamos muito irrequietos e impacientes, e a Mãe, para nos acalmar, vai dizendo:

- Meninos! Sosseguem que o sol ainda vai aparecer.

Eu, então sou a pior, não páro quieta, para desespero da minha Mãe, mas com muita paciência, ela lá conseguiu que eu estivesse quieta e finalmente conseguiu acabar de entrançar o meu longo cabelo preto, dividido em duas tranças, às quais, querendo eu ou não, ela, quando terminou, colocou dois enormes laços azuis de fita de cetim.

Apesar de me chamarem “Maria rapaz”, adoro as minhas longas tranças, mas nunca gostei de usar laçarotes no cabelo.

A Mãe, sabe que eu, à primeira oportunidade os vou tirar, então apertou-os o mais que pôde, para me dificultar o trabalho, e com cara de respeito, olhou para mim, e disse:

- Luísa, nem penses tirá-los hoje, antes da festa terminar! Reforçando, ainda disse:

- Ouviste Luísa? Abanei a cabeça, respondendo que sim. Também pudera, não tinha outro remédio senão obedecer, não iria estragar o dia, para isso já tínhamos o São Pedro.

A meio da manhã, finalmente o sol irrompeu por entre as nuvens, para nossa alegria.

Na vila, depressa o largo se encheu de novos e velhos, mas não foi preciso esperar muito, logo se ouviu ao longe, o barulho de um carro, aproximando-se, o que fez, com que todos virássemos a cabeça na sua direção. E eis que, uma enorme carrinha, de cor cinzenta e de chapa ondulada, vinha dirigindo-se para o largo.

Cuidadosamente, o motorista, executando uma manobra, passou por entre a multidão e estacionou junto do edifício do Café Central.

Finalmente, a tão aguardada carrinha da Gulbenkian, tinha chegado, e com ela muitos livros, que eu espero ansiosamente, poder ler.

Querido Diário, o dia está a terminar e eu estou muito feliz. A festa correu muito bem. Já agradeci ao São Pedro, por não ter deixado a chuva estragar a nossa festa.

Ah!!, e ainda tenho os laçarotes nas tranças!...

Eu

Sorri, quando terminei de ler o que tinha escrito naquele dia, e pensei…

Coincidência ou não, como imaginar que, 50 anos depois, eu poderia ler os mesmos livros, de uma maneira tão diferente e inimaginável naquele tempo.

Como tudo mudou em 50 anos, mas o que é meio século?

Luísa Faria

Outubro 2020

 


Título: Nem Só de Pão Vive o Homem

Autor: Gilberto de Paiva

NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM

Foi assim que Jesus Cristo respondeu ao espírito mau quando O tentou seduzir no deserto depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, quando  LHE disse para transformar todas as pedras em pão.

Quero com isto dizer que há mais vida para além do dinheiro, da ganância dos homens e até da própria vida faustosa que muitos de nós, seres humanos, fazemos. E digo nós porque, eventualmente, também posso estar incluído nesses  tais seres. Quem sou eu para me pôr acima dos outros? Não faço essa vida, na medida em que, não tenho condições para tal em comparação com muita gente dessa. Não quero com isto criticar alguém, de maneira nenhuma, as ações ficam com quem as pratica. Quem me conhece sabe que nunca ousaria, pensar sequer, usar a minha abundância para menosprezar queles mais humildes.

Ao parafrasear desta maneira esta minha epístola, se é que assim a posso chamar, quero lembrar a vida social que nós alunos da U.S de V.F. Xira levávamos antes da pandemia. Para isso basta lembrar os sãos convívios que tínhamos, nomeadamente, as tais visitas de estudo acompanhadas de grandes almoços. Não nos servíamos só do que vinha para a mesa como também havia uma amena cavaqueira. Tínhamos os almoços de Natal seguidos de um bailarico. Não me posso esquecer dos célebres magustos, agora que se está a aproximar o dia de S. Martinho, onde a confraternização se fazia de um modo muito salutar que além da vida social entrava a ação feita por aquela Senhora que todos nós lembramos com saudade, penso eu e creio que não me engano, a Prof. Josepha que contribuiu para que fossem distribuídos alguns cabazes a famílias mais necessitadas da Póvoa de Santa Iria, é lógico, que para isso teve a  ajuda de vários colegas, principalmente de Sr. Ramalho. Depois a receita que resultava da disciplina das Danças e Cantares, aquando da apresentação na Filarmónica de Alverca, que era oferecida aos Companheiros da Noite.

Isto sim era ação social.

A U.S. ficou a dever-lhe muito, espero que não seja esquecida por quem tem obrigação de a lembrar. Que a sua alma descanse em paz.

Como disse de inicio não era só aprendizagem, aprendemos aprendendo, adquirimos muitos mais conhecimentos, arranjámos amizades, que se calhar muitos de nós pensávamos que com a nossa idade já não arranjávamos e que vão perdurar. Muito mais havia para dizer, fico por aqui para não ser aborrecido.

Póvoa,25/10/20

Gilberto de Paiva


Título:O Rio

Autora:  Maria José Domingos

O RIO

            O rio hoje estava coalhado de ilhas, milhares de minúsculas ilhas verdes, todas diferentes, quer no tamanho ou forma.

            As ilhas deslocam-se pelo rio, mansamente, flutuam ao sabor da mansa corrente, não se predem, nem oferecem qualquer obstáculo, só flutuam, ora no sentido da nascente e depois mais tarde, caminham para a foz.

            Algumas levam gaivotas pousadas, outras até têm um tamanho razoável para barco temporário, de gente muito muito leve, lembram berços, ondem pequeninos braços podem espreguiçar.

            Mas também nos fazem lembrar como a Natureza flutua e se desloca, sem agarras, sem apegos, sem pensar onde fica a casa, onde nasceram, e porque nasceram, só deslizam e se por sorte ficarem numa margem a ganhar tempo, então a seu tempo as belas flores azuis surgirão, e são mesmo belas e perfumadas.

            Como pode o belo ser destrutivo, e se o é, pois todas estas pequenas ilhas são de jacintos, planta que infesta rodos os pequenos ribeiros e riachos, quando olhamos vimos uma beleza enorme, mas esta planta retira o oxigénio e a luz da água, e assim os pobres peixes e outros seres, sufocam á mingua.

            Os jacintos são invasores das nossas águas, sim porque eles só vivem bem rodeados e mergulhados de meio aquático, e ainda me lembro como eles começaram a povoar os nossos cursos de água, alguém tinha trazido uma planta gira, que nem precisava de muito para viver, só muita água, mas que se reproduzia imenso, e de cada vez que se lhe renovava o habitat, a água, pelo caminho que vai dar ao rio iam sempre umas minúsculas sementes, e começou a infestação.

            E infestação porquê?

            Ora porque não é faz parte da nossa flora nativa, vêm de outros lugares onde a sua reprodução se faz de forma diferente.

            Claro que a planta, continua a ser a mesma, só que em grande quantidade, causando problemas em quase todo o sítio onde chama seu, mas não é a planta a culpada, não! pois é só uma simples planta e precisa de uma mão que a transporte, que a coloque na água, que lhe dê o alimento e a cuide, e vivendo em clima diferente desequilibra  a Natureza, pois não têm predadores por aqui.

E é assim que de uma forma simples, e aparentemente inocente o Planeta vai sofrendo pequenas, grandes agressões, e depois têm que se sacudir um pouco e dizer aos seres humanos que também eles podem levar na mão o seu pequeno inimigo, e passa-lo no mais insignificante gesto de ternura.

            Respeitemos pois aquilo que é de todos, que é a casa onde vivemos.

            Fico mesmo triste por ver agora umas nossas flores azuis, na beira dos passeios, dos caminhos, onde calha, e que nós tínhamos colocado na cara momentos antes, mas se ninguém as apanhar do chão, quando a chuva forte vier, levá-las-á para o rio e os mares fora, e a comida dos seres que nessas águas vivem serão estas flores azuis a que chamamos máscaras.

            Aproveitemos o tempo de recolhimento da Natureza, vivamos esse tempo para nos olharmos de perto, e não com distrações, saboreemos o calor da nossa casa, para que depois na Primavera possamos soltar os braços ao sol morno, e caminharmos fortes sentido o cheiro das flores que perfumam os ares.

Com Amor

29/11/2020

Maria José Domingos


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 28-1-2021

 
 
 

Título: A Moda dos Laçarotes

Autora: Maria Fernanda Calçada

A MODA DOS LAÇAROTES

Ao ser-me sugerido um texto, pequeno, ou nem tanto, sobre os tempos em que se usavam laços no cabelo, o primeiro pensamento foi para aquelas imagens não muito antigas, das meninas das escolas soviéticas, com os seus monumentais laçarotes e as carinhas sem sombra de um sorriso.

Nos meus tempos de menina, também os usei (embora de tamanho mais comedido…) e lá fui eu procurar fotos que o documentassem; encontrei algumas e até numa delas ostento não um, mas dois!

Numa outra estou na praia com um fato de banho, uns óculos na mão (lembro-me muito bem de que tinham os aros brancos e as lentes amarelas) e um laço todo caidinho, talvez porque eu já andara na água…

Numa outra, tirada em estúdio, sentada numa mesa e com um ramo de flores na mão, ostento um laço todo repenicado. Imagino que a minha mãe o tivesse ajeitado para ficar bem na foto!

Sempre tive um cabelo farto e rebelde e essa condição dava azo a muito choro e alguma impaciência da parte da minha mãe. Se algumas ocasiões houve, em que ela me penteava amorosamente e com muita calma, sinceramente, e quero acreditar que as tenha havido, não tenho lembranças delas; Recordo sim as nossas lutas, comigo a tentar fugir às suas mãos na altura de ir para a escola ,toda aprumadinha na minha bata branca e o laço a condizer. Mais tarde, no colégio voltei a usar um laço, quase sempre de cor azul para condizer com a bata própria e que tinha o emblema do Damião de Góis bordado. Mas não foi por muito tempo pois começavam a usar-se as bandoletes e os laços foram ficando relegados numa qualquer gaveta.

 

Maria Fernanda Calçada

 


Título: Dia de Reis

Autor:  Gilberto de Paiva

DIA DE REIS

Gostaria de cumprimentar toda a comunidade académica

Ao mesmo tempo desejar-lhes felicidades

Desejando que passe esta patologia pandémica

E dizer-lhes que dela (comunidade) já tenho saudades

Desejar-vos bom ano acho que não me fica mal

Sendo que faz parte da boa educação

Dar um abraço a todos por igual

E dizer-vos que o faço com elevação

Não vos quero maçar mais

Penso que vai dizer algo alguém

O que escrevi e as intenções são reais

O homem vale pelo que é e não pelo que tem

 Tudo o que escrevi e disse foi com sinceridade

Se dissesse o contrário mentiria na verdade

Despeço-me com simpatia , estima e amizade

Com esperança que nos voltemos a encontrar na Universidade.

 Póvoa,06-01-2021

Gilberto de Paiva


Título: Espírito Natalício

Autora:  Arlet Alves de Sousa Pereira

ESPÍRITO NATALÍCIO

 
 

agora que é Natal”...

A gente olha o Céu e agradece...

Olhando aquela estrelinha, lá mais ao longe...!

Homens do Mundo, vamos celebrar...

Rasteirar a Pandemia e, o Virús “matar”!

Aconchegando os estomagos e cantar, cantar...

Entre harmonia, sentir os sinos tocar, tocar

Num vaivém de vozes e melodias...

É dia de festa, nasceu Jesus...menino tão belo!

Salvador dos homens...A Ti, eu apélo

Senhor Jesus, Faz-nos acreditar na esperança           

Na doçura e no amor, do Teu olhar...!

Sejamos amor e confiança...

Versando Poesia e esperança

Lembrando as crianças e seu sorrir

E, em cada um de nós...seu “beijo abrir”

Abraçando o velhinho, beijando suas mãos

Dizendo-lhes palavras “doces”, aquietando seu coração!

Com vacina ou sem vacina...a gente vai, se divertir

Moderadamente e conscientes, numa aprendizagem total

“E, agora que é Natal”, tudo vai ficar bem...!

Confinados ou não...

A gente gosta de viver...não tem sido fácil!

Pois não, pois não...não, não

Haja alegria, paz e amor, determinação!

Tudo passa, tem que passar!

Vamos dar o nosso melhor, descontrair e amar, amar

Haja felicidade, muitas venturas para 2021

Não tenhamos medo: “E, agora que é Natal”...

Mil beijos ao Mundo, há humanidade e, cuidai-vos amigos!

Com um olhar de saudade, “a todos que partiram”...!

Bebamos então, um trago de Porto, uma razão...

Saborendo também, a bela da sericaia com cheirinho a canela e contemplação...

Bolo-rei tradicional e felicidade; muita paz, muita paz, paz...

Aos corações desassossegados, sejais resilientes...

Ao vosso jeito, estai atentos...

Sensibilizados cantai, cantai, cantai nesta quadra natalícia

Sêde afáveis e dai as mãos, porque agora é NATAL, NATAL; NATAL

Tornai o Mundo melhor, com o vosso amor, vossa garra e paz!

“E, agora que é Natal”: cantai com os anjos ALELUIA, ALELUIA ALELUIA!!!!

 Arlette Alves De Sousa Pereira  


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 20-1-2021

 

Título: Outono na Quintinha (1, 2, 3)

Autora: Luísa Faria

 
 

 

 

 
       
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 Esta imagem a servir de fundo, é uma fotografia de Mário Oliveira, para ver no tamanho total, clique aqui


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 19-12-2020

 
 
 

Título: Podas para que vos quero

Autor: Lino Solposto

 

PODAS PARA QUE VOS QUERO

Com o advento do outono a trazer ventos fortes e alguma chuva, e a consequente queda das folhas, começa a época da poda nas frutíferas, e a exemplo do que nos é dado para observação em grandes plantações na berma das estradas deste país, também aqui pelo Oeste iniciámos este ritual que irá condicionar o aparecimento de bons frutos.

Abordando concretamente a videira, o interesse já vem da remota infância, quando, coincidindo com as férias escolares, as férias grandes como lhes chamávamos, tinha oportunidade de ir vindimar, ou com maior rigor, fazer companhia aos vindimadores. Comia mais do que apanhava, mas o meu avô nunca deixou de me convidar. Lembro com saudade a hora da pausa, toda a malta de roda dum velhinho alguidar, onde, no centro das batatas cortadas a meio cozidas com pele, assentava uma caçoila com bacalhau cozido lascado, regado generosamente com azeite da lavra, alho laminado e meia dúzia de gotas de vinagre para dar gosto. O gesto era mecânico, em todos aqueles anos foi assim, não havia prato nem faca, só o garfo por companhia, que em riste ia em busca da batata, que, já sem pele, mergulhava e absorvia, antes do destino. Entretanto, e para não embuchar, o palhinhas entrava em ação e rodava, ora num, ora noutro sentido, e ia ficando cada vez mais leve. Para descanso de alguns espíritos devo dizer que não chegava para mim, mas que fiquei com curiosidade, sim, fiquei.

Está explicado a origem do meu interesse na videira, a hora de manducar foi só um acrescento, situar no tempo, dar testemunho de um passado ainda não muito longínquo, também só possível porque naquela época as coisas estavam cristalizadas. Por exemplo, toda a gente sabia que a escola primária reiniciava a sete de outubro e a secundária a três, se não coincidisse com um domingo, bem entendido. Havia um ministro, era mais fácil. Hoje para além do ministro que dizem que não ministra, tem um sem número de parceiros que evito enumerar para não correr o risco de involuntariamente me esquecer de algum, e todos dão bitaites, e por via disso torna-se complicado uma data de reabertura que satisfaça toda a gente.

Tem um pequeno pormenor. Aprendi e já experienciei que a lua fase minguante é a preferida para este tipo de sessões, podas. Podem ser feitas noutra altura, mas não é aconselhável no crescente, quando se regista na cepa maior atividade da seiva, daí que, após cada corte a inevitável “lágrima” surja.  Ora se quisermos que ela seja nossa amiga, é sensato que não lhe inflijamos sofrimento.

A poda define a harmonia, é essencial para a perenidade e saúde da vide. Poda curta ou poda longa, não dispensa um exame prévio  para ajustar a carga. Dela hão de sair brotos e destes os esperados cachos que fundamentam a fase da vindima. Uma poda curta com poucos olhos, numa videira vigorosa, não serve as expectativas da planta, que sente que pode ir mais além, “esperneia" solta rebentos, filhas, não poucas vezes surgem até netas (das varas), descurando a parte lúdica, os cachos, essenciais para o produto final.

A literatura vinícola tem fartos exemplos e maneiras de as fazer, as podas. Existe até uma lenda relacionada, cujo personagem, um burro, teria passado por uma vinhedo à hora do almoço, ou seria do jantar?, e não resistiu ao banquete que estava à sua mercê. O lavrador maldisse o jumento aos quatro-ventos, mas na hora encheu a adega. Procurou-o para a safra seguinte, mas em vão. Agora podia recorrer à panóplia de redes sociais, e seria mais fácil encontrá-lo.

Quem tiver plantas, frutíferas ou outras, não deixe de podar. A saúde o bem estar, até o humor delas, dependem desse ato tão simples e básico. Uma tesoura apropriada, um serrote bem afiado, devidamente limpos e desinfetados, tempo disponível, uma boa dose de carinho, é o suficiente.

Não se esqueçam de se cuidar.

Atelier de Escrita

Novembro 2020

Lino Solposto

 


Título: Novo Ano

Autora:  Maria José Domingos

 

NOVO ANO

            Novo Ano, nova esperança, vida nova, tudo vai ser diferente, este ano é que vai ser o tal.

            Frases que quase todos repetimos, quase todos dizemos no primeiro dia do Ano, mas lá para o dia 6 ou 7 já perdemos algumas, ou porque ainda não fizemos nada de diferente, ou porque a esperança está menos nítida.

            Mas vamos fazer deste Ano um Ano diferente, e vamos começar pelo cuidado connosco, vamos mimar-nos como mimamos os outros.

            Agora está muito frio, mas comecemos agora aquela caminhada que estamos sempre a adiar, o nosso corpo está a precisar de se mexer, ele começa a estar zangado connosco, pode ser depois do almoço, já está mais quentinho.

            Mas também podemos dançar, coloquem uma música que vos provoque ritmo e estendam os braços, alonguem o tronco em movimentos fluidos, sintam-se bailarinas dançando em nuvens de algodão, imaginem-se um pássaro a dar voltas no ar aos primeiros raios de sol, soltem-se, e abram os braços á vidam, sorriam a cada manhã.

            Vamos dar um passo de cada vez ao nosso bem-estar físico e emocional.

           Se tiverem um cão, passeiem mais tempo com ele, brinquem mais, sintam-se crianças despreocupadas.

           Se tiverem um gato, usem a sua traquinice para rir, aproveitem o seu fofo mimo.

            E sim façamos deste um Ano um ano bom para nós, escolhamos movermo-nos.

            Movermo-nos em direcção ao abraço desejado

            Movermo-nos para o aconchego do coração

            Movermo-nos para criar aquele texto á muito imaginado

            Movermo-nos para os passos no caminho deserto de gente

            Movermo-nos para a nosso cuidado com responsabilidade

            Movermo-nos por e para nós mesmos

            Só simplesmente movermo-nos.

            No final deste Ano estaremos melhor de certeza, porque assim o conquistamos com o coração aberto para a vida.

Sejam felizes

 5-1-2021

Maria José Domingos


Título: Bactírios

Autor:  José C.Fael

BACTÍRIOS

Nestes difíceis tempos de epidemia que pelo menos me tem dado oportunidade para pensar em tudo e mais alguma coisa, dei por mim (lá pelas cinco da manhã) a matutar em como terá começado o AMOR.

Sim, porque tudo tem um princípio (e deverá ter um fim, nada é eterno ...) incluindo o Universo com o tão falado Big Bang.

Então como é que começou o AMOR ?

Consultei a NET, horas e horas de buscas, reli resumos de livros sobre o amor, falei com muitas pessoas ilustradas que costumam saber tudo, mas sem qualquer resultado; ninguém me explicou como nasceu o AMOR.

E quem me conhece, sabe que eu não sou de me ficar com estas situações: Se ninguém sabe, então aqui está uma tarefa tentadora e provocatória para eu descobrir como foi que nasceu o AMOR.

Excesso de auto confiança nas minhas capacidades ?

Vamos ver:

Sabem qual é a diferença entre uma bactéria e um vírus ?

Ambos são invisíveis a olho nu, mas uma bactéria é um ser vivo unicelular e um vírus não passa de uma partícula infecciosa.

Não me vou alongar com mais explicações científicas, mas uma bactéria é muito mais que uma porcaria de um vírus que para se reproduzir tem de descobrir uma célula hospedeira de que se apodera e põe a trabalhar para si.

Como ser vivo que é, uma bactéria nociva (porque as há boas para nós, os humanos) combate-se com um antibiótico, enquanto um vírus ainda não se sabe bem como se combate e a melhor maneira é evitar que ele entre dentro de nós, nomeadamente tomando vacinas que estimulam as nossas defesas naturais.

Pois eu cá para mim, penso que há cerca de 350 mil anos quando se considera que o Homem começou a pensar (Homo Sapiens), um dos exemplares (provavelmente feminino) apanhou um vírus ao beber água salobra ou outra coisa qualquer (para o caso não interessa). E este vírus, talvez por inexperiente, alojou-se numa bactéria boa ( as únicas que nesse tempo existiam no corpo humano ...), que confundiu com uma célula normal.

A bactéria reagiu, mas o vírus era persistente e nada o demoveu pelo que pela primeira vez na vida, foi criado um organismo novo a que eu vou chamar de BACTIRUS.

Esta minha mania dos neologismos ...

E foi este primeiro bactirus, fruto da união de uma coisa boa com uma outra maligna, que deu origem ao AMOR.

Espalhou-se por toda a parte, não havia SNS, nem vacinas, nem nada; por isso exageradamente passou a chamar-se amor a tudo e mais alguma coisa: Amor maternal, amor à Pátria, amor a Deus, amor ao próximo, amor ao dinheiro, amor a tudo ... Mas na sua génese, o bactirus deu origem ao AMOR entre as pessoas, daí o aparecimento do conceito de família, da necessidade de garantir a propagação da raça humana, da vida em comunidade.

Tudo o resto, todas as outras aplicações da palavra AMOR foram usurpadas, o que se compreende porque o nome é mesmo muito bonito: AMOR.

Depois, ao longo destes milhares de anos, foram aparecendo alguns indivíduos que condensaram em si este conceito na sua essência pura, muitos ninguém sabe hoje quem foram, mas uma criança que nasceu há vinte séculos na Palestina, uma Madre Teresa que viveu em Calcutá ou um Papa Francisco, estes são com certeza alguns deles e mesmo assim a criança da Palestina também expulsou os vendilhões do templo, a Madre também dava repreensões a quem delas precisava e o Papa também deu uma palmada numa mão demasiado invasiva ...

Bom Ano Novo de 2021

José C. Fael 


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 19-12-2020

 
 
 

Título: O Que me Faz Feliz

Autor: António Henriques

O QUE ME FAZ FELIZ

Não é fácil escrever sobre o que me faz feliz e passo a explicar:

- Ao ver o Mundo como está, com tantas desigualdades e injustiças, com tantas guerras, tanto ódio, tanta falta de amor e compaixão, digam-me… como posso ser feliz?

Ao ver tantas crianças e jovens sem vislumbrarem um futuro à sua frente, só com fome e miséria por companhia, digam-me…como posso ser feliz?

Ao ver seres humanos a explorarem outros seres humanos, a matarem, violarem, sem qualquer sentimento de culpa, mas sim com total indiferença, ficando muitas vezes impunes estes seus actos criminosos, digam-me… como posso ser feliz?

Ao ver uma parte do Mundo vivendo bem e esbanjando recursos e outra parte na miséria. Gente fugindo à fome e à guerra e ninguém querer saber deles, negando-lhes a possibilidade de uma vida decente e digna, digam-me… como posso ser feliz?

Claro que tenho também momentos em que me sinto feliz, quando estou junto da minha família e participo em alegres brincadeiras com as crianças que existem no seu seio, no convívio com amigos, em passeios pelo campo vendo a bela natureza em todo o seu esplendor, quando, junto do mar, perco o meu olhar na sua imensidão, escutando das ondas o seu esbatido som ao desmaiarem na areia, ao ouvir música, que me enleva a alma e me faz esquecer os horrores que ouço e vejo no dia-a-dia. Quando estou só com os meus pensamentos e consigo dizer o que me vai na alma, em palavras, que num gracioso bailado, a minha mão, vai transcrevendo para o papel. Só nesses raros e fugazes momentos consigo ser verdadeiramente feliz.

O homem, desde os primórdios da história, sempre andou em guerra, contra o seu semelhante. Qualquer pretexto servia para a desencadear, matando e escravizando o seu irmão. Essa era de brutalidade nunca cessou verdadeiramente, nos nossos dias temos exemplos vivos disso.

O porquê de tal acontecer, atribuo à ganância e à infinita sede de poder que o ser humano tem. Mesmo agora, que a sociedade humana avançou consideravelmente em quase todas as áreas, no íntimo de algumas pessoas, continua viva essa tendência nefasta para dominar e explorar o seu semelhante, para o mais forte se sobrepor sempre ao mais fraco e o dominar.

Nós, humanos, somos seres imperfeitos e será essa nossa imperfeição que nos levará à ruína e extinção, se não soubermos banir de dentro de nós esses nefastos sentimentos.

Por isso, o que me faria verdadeiramente feliz, seria ver o Mundo caminhar noutra direção, com amor, compreensão, amizade, fraternidade, sem guerras e violências, sem fome, sem miséria, sem haver exploração do homem pelo homem e era tal fácil isso acontecer, bastava o homem querer, mas isso, creio ser apenas uma utopia, mas com a qual continuo, ainda, a sonhar.

António Henriques

 


Título: A Vingança da Ciência

Autor: Lino Solposto

A VINGANÇA DA CIÊNCIA

Está prestes a chegar a esperança,

Que toda a humanidade anseia,

Vem em forma de vacina,

Esperamos não faça destrinça,

Seja para gente rica, ou plebeia.

Também por esta altura,

Uma estrela brilhou em Belém,

Um menino por Reis adorado,

Veio por um Mundo mais justo,

Blasfemaram,

Acabou cruxificado.

Metais preciosos, são cotados,

A arte, os artistas, endeusados,

Diz-se, serem fruto das regras do Mercado,

E que, da oferta e da procura,

Sobrevem a fome ou a fartura.

Já passaram dois mil anos,

Terão de passar quantos mais?

Até que o Mundo entenda,

E reordene as prioridades,

Focando no todo, e só depois, as vaidades.

Esta pandemia,

Pelo espaço que ganhou,

Também já tem a sua luz,

E uma leitura já podemos retirar,

Dever a humanidade adquirir consciência,

Que de todos, o bem maior,

É o primado da ciência.

Atelier de Escrita

Natal de 2020

Lino Solposto


 

Título: Amanhã é Que Vais Ver

Autor: Mário Oliveira

AMANHÃ É QUE VAIS VER

Não ouvi boa história,

Da festa pra onde vais,

A água é sempre irrisória,

O vinho é sempre demais.

Vais acabar bebendo,

Branco tinto tanto faz,

Dez copitos vão escorrendo,

Mais não sei se és capaz.

Não te armes em valente,

Tem controlo no copinho,

Um a mais e de repente,

Tens azar no teu caminho.

Da festa onde estiveste,

Tens boas recordações,

As do vinho que bebeste,

E o regresso aos trambolhões.

Amanhã é que vais ver,

O que a ressaca faz,

A cabeça a ferver,

O corpo a andar pra traz.

Forte da Casa, 26 de Novembro de 2020

Mário Oliveira


 

  Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 12-12-2020

 
 
 

Título: O Abraço Que Nos Falta

Autora: Maria José Domingos

O ABRAÇO QUE NOS FALTA

            Levantei-me cedo, um costume que ainda mantenho do tempo em que tinha que ir trabalhar, sempre gostei de chegar cedo ao local de trabalho. Gostava de ver os lugares ainda todos vazios de gente, aquele silêncio acolhedor, era o meu organizador de mente para o dia agitado que me esperava.

            Mas agora ainda me levanto cedo e até acordo ainda com a noite instalada, e gosto de ver o sol a despontar no horizonte, ainda só um risco de luz a espreitar nas nuvens matinais, que aos poucos se vais expandindo enchendo tudo de brilho, e aquecendo todos e tudo que se abre aos raios da estrela que dá vida.

            Felizmente tenho uma vista magnífica, a esta hora matinal lá está o sol a emergir do leito do rio, qual estrada dourada a prolongar-se até á minha janela, que abro para o ar limpo e fresco da manhã, o gato faz-me companhia.

            Olho esta maravilha com gratidão, o meu coração recebe um pouco do calor ténue, mas não fica totalmente aconchegado, sinto que esta melancolia, tristeza, o que se quiser chamar não me larga.

            Sou de muitos afectos, gosto de dar muitos abraços, de um afago na face de um desconhecido, de um toque no ombro, uma conversa no meio da rua com alguém que passeia para espantar a solidão, e ver-lhe o sorriso a surgir à medida que espanta um pouco a sua falta de companhia.

            E gosto muito de sentir um suave abraço, bem abraçado, em que o carinho invade todos os poros.

            Mas ó tormenta de novos tempos, tudo isto nos está vedado, temos que cuidar de nós e do outro, seja ele conhecido ou não, agora até estamos em casa com a cara vedada, pois os nossos netos preocupados connosco assim o exigem.

            Todos sabemos ser necessários, mas ficamos tristes.

            E eu não quero ficar triste, só quero viver o amanhã com saúde, alegria e comtemplar o sorriso grande, dos que me rodeiam.

            Sim hoje acordei a louvar a vida, pois o sol brilha, e pensei, já que não podemos ver o sorriso nos lábios do outro, pelo menos vejamo-lo nos olhos de quem por nós passa e deixa um pouco do seu aroma, agora imaginado.

29-10-2020

Maria José Domingos

 


Título: Saudades

Autor: Lino Solposto

SAUDADES 

Olá colegas do atelier de escrita. Lembrei-me de vós, estou com saudades vossas, não tenho visto nem lido nada desse lado, espero não se ter tornado insolvente por falta de matéria. 

Hoje tivemos, desde o início do confinamento, o primeiro almoço em família. Fomos visitados, e foi uma alegria e prazer enorme, revê-los. Contudo é estranho. Sem beijinhos, abraços, nem sequer aquele aperto de mão que se dá quase gratuitamente. Isto assim, dizem já, o "novo mormal", não pode ser para durar, ou então teremos que nomear outra causa para a diminuição da população.

O tempo a Oeste ameaça chuva, carregado que está de nuvens, e tempo fresco e chuvoso é tudo o que os meus feijoeiros e batateiras não precisam, daí que tenha acabado mesmo há pouquinho de lhes ter feito um tratamento anti-mildio para prevenir um eventual ataque, que, a acontecer, frustraria as minhas intenções de colheita e proveito. Mesmo não sendo para comercializar, ( menos um a fazer queixinhas às TV's, pedindo apoio porque chove ou graniza, ou porque a seca é extrema), tenho um gostinho especial por colher e usufruir do que cultivo, e sempre é melhor que a coisa corra bem.

Finalmente sentado e a ler as notícias, e-mails incluídos, aferimos por estes, de uma forma geral, quem não nos esquece. Um do António Ramalho despertou-me particular atenção. Vinha bem documentado, fotograficamente falando, quando, ainda não há muito tempo, só por carta e depois do rolo ir a revelar. Reportagem da entrega da Taça de vencedor de mais um CCGeral da Rutis, este ano de 2020, na Arena de Évora, à Universidade Sénior de VFXira, o seu tetra.

Não conheço o local, mas pela sumptuosidade, presumo tratar-se do Salão Nobre da Câmara Municipal. As honras devidas ao nosso trio maravilha, Paulo, Roma e Eliseu, por certo não deixaram de se fazer, e para tal, as individualidades identificadas no espaço, apesar de, com máscara, não regatearam, acredito,  os maiores encomios. Depois do "passeio" do ano anterior em Odivelas, as equipas representativas das US's, normalmente concorrentes, esmeraram-se, aprimoraram-se, uma pelo menos, sabemos, com uma aquisição da sociedade eclesiástica, que lhe deve ter custado um dinheirão em bulas, deram uma luta tremenda até ao final. Por isso, Paulo e companheiros, cautelas e caldos de galinha nunca serão de mais, até porque, já observamos mais que uma vez, o speaker, não é grande apreciador das virtudes ribatejanas.

Era só esta nota, dizer-vos que até ao momento ainda não fui incomodado por este bicho que nos atormenta e rói , espero que estejam bem dispostos, de boa saúde e até já.

2020.06.06

Lino Solposto


 

 Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 6-12-2020

 
 

Título: Arte Fotográfica ao Por do Sol

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

 

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 26-11-20200

 
 
 

Título: Viagem a Maiorca

Autor: Mário Oliveira

 

VIAGEM A MAIORCA

Dois casais com seu conforto,

Pra Maiorca quiseram ir,

Chegados ao aeroporto,

Alguém resolveu cair.

Corpo esticado de morte,

Viram a vida tramada,

Mas foi grande a sorte,

E pequena a cabaçada.

Muito atentos à sinistrada,

Despacharam a bagagem,

E de negras bem equipada,

Lá seguiram em viagem.

A viagem foi de avião,

E não teve incidentes,

Depois de poisar no chão,

Ficaram todos contentes.

Ao hotel foram levados,

E formalidades cumpridas,

No snack-bar alimentados,

Nos quartos as dormidas.

Primeiro dia foi passear,

De clima bem divertidos,

Mas depois ao regressar,

Já eles estavam perdidos.

Não tem nada que enganar,

Rua acima ou rua abaixo,

Mas é melhor pela beira-mar,

Que o hotel é mais pra baixo.

Num dia de sol encoberto,

E um mar de água quente,

Foram ao banho ali perto,

Mas alguém sai de repente.

Foi culpa de um ser marinho,

Que fez o que não devia,

Mordeu lá no joelhinho,

E que bem que isso doía.

Pra toalha foram secar,

Há mais nada pra ninguém,

Banho quentinho e jantar,

E a noite é dormir bem.

Mas agora dá para rir,

E têm muito a recordar,

A boa cabeçada ao partir,

E os passeios de relaxar.

Até o grupo se perdeu,

E os peixinhos mordiscaram,

Mas tudo muito bem correu,

E os casais lá regressaram.

Mário Oliveira

Maiorca, 24 de setembro de 2018

 


Título: Resistir é a Palavra

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

RESISTIR É A PALAVRA

Estamos presos, na incerteza

Manietados, pelo medo

Desse, vírus manhoso

Que nos deixou, sem defesa

Debatendo-nos, no enredo

Deste tempo perigoso.

Olá! Então, como vão?

Perguntamos, distanciados

E de máscaras no rosto

Aos filhos, netos, ao irmão

De afectos, carenciados

Nos olhos, lê-se, o desgosto.

E o tempo, vai passando

Com, a vida retraída

Esperando, melhores dias.

Vamo-nos aguentando

Mas, sem vermos, uma saída

Temos falha, de alegrias.

Resistir é, a palavra

Que nos faz erguer

E enfrentar a pandemia

Que pelo mundo lavra

Causando, tanto sofrer

Mas, tem de acabar, um dia!

Porque, o Exército da Paz

Sem descanso, está a lutar

Em defesa, de todos nós.

E decerto, vai ser capaz

Da humanidade livrar

Desse vírus, tão atroz.

Eliseu Pinto  “ O Gralha “  14-11-20

 


 

Título: Saudações 25 de Abril

Autor: António Henriques

SAUDAÇÕES 25 DE ABRIL

As minhas saudações 25 de Abril

Meu bravo companheiro e amigo

Por vírus que é mortal e muito vil

Com pena, este ano não consigo

Poder andar com muitos outros mil

A desfilar p’la rua e estar contigo.

Se forte abraço não te posso dar

Dou-te de casa, um, que é virtual

Posso até dizer e te afiançar

Que vale para mim como um real

Embora à distância o esteja a dar

É de amizade forte, sã, leal.

A todos nós trouxeste a liberdade

Que Portugal não tinha, mas queria

Nota-se a falta da fraternidade

Que havia nesse teu honroso dia

Perdida anda também a igualdade

Que o teu doce nascer, nos prometia.

De ti, imensa é, minha saudade

Quando p’las ruas, livre, passeavas

Em forte e bem fraterna unidade

E muita, muita gente, abraçavas

Em maré de esperança e felicidade

E rubros cravos, nas mãos agarravas.

Os nossos jovens não te conheceram

Nem sabem como foste essencial

Nos tempos que felizes se viveram

Um vento de mudança, radical

Nos sonhos e certezas que fizeram

Do jugo, libertar-se, Portugal.

Abril, à escuridão trouxeste côr

Na revolta de heroicos capitães

Enorme foi seu mérito e valor

Lutando contra muitos desses “Cães”

Que ao povo provocaram tanta dor

Profunda gratidão, de milhões, tens.

António Henriques

25-Abril-2020


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 18-11-2020

 

Título: No Início o Antes e o Depois

Autora: Maria José Domingos

 
 

No Ínício do dia

 

O Antes do restauro

 

O Depois do restauro

 
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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 10-11-2020

 
 

Título: Mãe Querida

Autor: António Henriques

MÃE QUERIDA

Mãe, nascente de vida, terno amor

Coração preenchido com doçura

Estrela iluminando a noite escura

Sorriso cativante, encantador

Presente, o teu amor, ainda tenho

Regato murmurante de carinho

No leito dos teus braços, o meu ninho

Desse tempo, saudades, que retenho

Teu fascinante enlevo o recordo

As lições e os teus ensinamentos

Dados, nessa infância já perdida 

Nas noites inquietas, em que acordo

Em tão breves lampejos, por momentos

Sinto os teus doces beijos, mãe querida

António Henriques

03-MAIO-2020

 


Título: Máscaras

Autor: Lino Solposto

Máscaras

Em alguns países europeus ainda não chegou ao final a discussão da chamada “lei da burka”, para proibir o seu uso em público, e já se decreta em sinal contrário a obrigatoriedade de esconder o rosto. Até parece contraditório, mas, vendo bem, qualquer das medidas tem como objetivo, a defesa e segurança das populações, independentemente da ameaça, a que na altura estejamos submetidos.  Já se aplicavam multas ou coimas, pela exibição, sendo que agora, infringe as regras e é, será penalizado aquele que omitir o procedimento.

Filmes marcantes como o Fantasma da Ópera, Batman, ou ainda uma versão mais recente de Zorro, onde a Zeta-Jones dava dez a zero ao objeto de disfarce do defensor de fracos e oprimidos, foram pioneiros deste adereço que faz moda neste tempo.  E existe uma profusão de tapa-rostos a que chamamos máscaras, que o embaraço está na escolha. Na impossibilidade de apresentar uma cara bonita, um sorriso resplandecente, até uma felicidade estampada, melhor para compensar, só uma que reúna alguma daquelas particularidades.

Os homens do marketing e da publicidade, bem à sua maneira, aliados à indústria, dão o seu contributo para amenizar a contrariedade, sendo certo, que para alguns seres humanos permanentemente feios, a coisa pecou por tardia, e de repente vemo-las por aí, de todas as cores e feitios, deslumbrantes, às riscas ou com bolinhas, mas, confesso, das que gosto mais, são as personalizadas, das figuras públicas, começando nas do senhor presidente, todas verdes com aquele símbolo da república estampado, até acabar nas utilizadas por representantes de partidos e de clubes de futebol.

A situação está difícil de controlar. Provavelmente porque não estamos a fazer o que devíamos? Não sei, talvez ainda ninguém saiba. Não fomos concebidos para estar isolados. Sair de casa, por necessidade imperiosa, ou para fazer uma simples caminhada, ver gente, mesmo que anónima, observar o movimento da rua, longe do que era ainda não há muito tempo, ajuda a serenar e a tranquilizar, dá esperança.

Desci a Quinta pelo caminho de terra batida do Poente, olhei as nogueiras que o ladeiam, algumas ainda esperam ser “depenadas”, e parei junto ao condomínio da bicharada, qual arca-de-Noé do Séc. XXI. Indiferentes ao momento, conviviam como sempre o fizeram, como sempre conhecemos, e até o ritual incessante de saudar alguém que se aproxime da vedação foi praticado. Dali avista-se o Palácio, e enquanto mantiveram a esperança de serem presenteados, não me viraram as costas.

Entretanto e dada a proximidade, vieram as memórias e as saudades. As aulas, as amizades que se fizeram, as assembleias pejadas de retórica, as rodas de leitura, as visitas de estudo, as festas da associação de alunos, as danças e cantares, as peripécias e as emoções dos CCG, o som do teclado do Neves, principal referência de qualquer manifestação musical, foram, entre outras, partes dum tempo, que receio, não volte a acontecer.

Uns metros mais à frente, e já com a abobada da entrada na mira, procuro alguém daquele tempo. Talvez na próxima. E enquanto ia descendo a alameda que tantas vezes subi à pressa para não chegar tarde à aula, o que infelizmente aconteceu algumas vezes, fui-me mentalizando que fora melhor assim. E, vendo bem, caraças e ainda distanciamento não se recomendam para uma boa conversa. Vamos aguardar, e paciência, precisamos muita.

Outubro 2020

Lino Solposto


 

Título: Cravos de Abril

Autor: António Henriques

CRAVOS DE ABRIL

Fria madrugada… Ordens se cumpriram…

As tropas na estrada… Aos poucos surgiram…

Grândola se cantou… A senha era esta…

O Povo acordou… E ficou em festa…

Lisboa mudada… Com gente nas ruas…

Nessa alvorada… Elas eram suas…

Todos se abraçando… Risos e alegria…

Assim festejando… Esse novo dia…

Cravos nas espingardas… Portugal unido…

Os civis e as fardas… Fascismo vencido…

Ninguém queria crer… No que se passava…

Nem mesmo o Poder… Nisso acreditava…+

Mas era verdade… Estava a acontecer…

Era a Liberdade… Por fim, a Nascer…

Querida Revolução… Liberdade trouxeste,…

Tudo, tudo então… Tu nos prometeste…

Havia mais luz… Havia calor…

Acabara a Cruz… Da Agonia e Dor!

E desejos mil… Que os tempos mudassem…

E os Cravos de Abril… Para Sempre, Durassem!

António Henriques

 25 de Abril de 2015


   
 

Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 27-10-2020

 
     

Título: Tejo em Manhã de Outono

Autora: Maria José Domingues

 

 

 

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 20-10-2020

 
 

Título: A Pandemia do Nosso Descontentamento

Autor: Lino Solposto

A PANDEMIA DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Hoje, 10 de outubro de 2020, foi assinalado o maior número de infeções pela Covid-19 desde o início da pandemia. Longe vão os tempos das duas, três centenas que se registavam em Julho-Agosto, e que permitiram uma certa folga. Mesmo que não tivesse sido oficialmente divulgado, depois de muitos dias a dar palpites, concluímos que afinal o pico, (o nos Açores é com maiúscula) nunca foi alcançado, andámos sempre em planalto, ouvíamos dizer.

Desconfinar, foi na altura o verbo ( que não sei se existe) mais utilizado. Encheram-se as praias, ainda que com a vigilância atenta de semáforos, os restaurantes, e os aviões voltaram a ter uso, e também, com as devidas distâncias, reabriram-se os teatros e as salas de cinema. Fazendo parte do nosso quotidiano, não faltaram também  manifestações políticas e religiosas.

Tudo parecia correr bem, afinal o milagre português tinha sido real. Entretanto, íamos ouvindo martelar amiúde, que era necessário redobrar de atenção porque uma segunda onda, e esta mais apetrechada, iria causar problemas graves, numa população de um país economicamente débil como é o nosso, trabalhadores em layoff, com créditos à habitação e ao consumo com dilação de pagamento.

Estes anúncios, para um tipo que pouco mais tem que a escolaridade obrigatória, ai se naquele tempo se fizessem disciplinas, hoje cadeiras, com créditos, se existisse democracia com Partidos à luz do dia, outro galo cantaria. Ao mexer neste tema, há muitos mais, quase perdia o fio à meada. Ia na instrução, por causa das afirmações de entendidos na matéria, que me  causavam um certo desconforto, mas ao mesmo tempo admitia sem qualquer azedume admiração pelo orador de ocasião. Como é que esta gente sabia dessa tal segunda vaga?

Acho que nunca revelei a ninguém a dificuldade, e só mais tarde vim a perceber, em responder nas provas, agora testes, talvez para não conflituar com o verbo provar, que a Terra gira à volta do Sol. Podia lá ser!. Quando passava alguns dias na aldeia, via-o erguer-se por detrás do telhado da casa de uma tia, e esconder-se num pinhal não muito distante, mas no lado contrário, invariavelmente, dia após dia, e o meu avô falava muitas vezes em nascente e poente, o que ajudava a aprofundar a minha convicção.

A avaliar pelos números atuais, seja a segunda ou terceira vaga, pouco importa. Não está fácil para ninguém, e os valores, também noutros países, têm estado em crescendo. Dos nossos representantes ouvimos que não podemos voltar a parar. Percebemos porquê. Submersos numa dívida superior a toda a riqueza produzida, definhamos lentamente pedindo esmola. A Justiça, com todo o garantismo trabalhado pelo poder Legislativo, também não ajuda o Executivo, que apesar de mais escrutinado, por mais vontade que tenha ou que tivesse, não é imune a pressões.

Por maioria de razão não foi oportuna esta intromissão do sacana do vírus nas nossas vidas, nem nunca o seria.

Um reputado Escritor da nossa terra, diria, se perguntado acerca do ou da COVID-19, qualquer coisa como isto: uma merda, uma merda.

Outubro-2020

Lino Solposto

 


Título: Já Chegaram as Setembras

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

JÁ CHEGARAM AS SETEMBRAS

Já chegaram as setembras

Dizendo, que o outono, já lá vem

Decerto, ainda te lembras

De que há um ano estávamos bem. 

Gozávamos de liberdade

E com gosto de aprender

Íamos p’ra Universidade

Onde, podíamos conviver.

 agora é, tão cinzento

Este tempo que vivemos

No triste confinamento

Mas felizmente mantemos

Para, nos dar algum alento

As amizades que temos.

Eliseu Pinto  O Gralha “    10-09-20

 


 

Título: Sangue Lusitano

Autor: António Henriques

Neste dia, saúdo todos os trabalhadores, mulheres e homens, que com seu valioso labor, fazem desenvolver e avançar o nosso País no caminho do progresso.

O meu agradecimento especial para aqueles, que, com o seu esforço exemplar, contribuem para que o nosso dia-a-dia seja o mais normal possível. Enumerá-los seria fastidioso, correndo o risco de cometer a injustiça de deixar alguém de fora.

Quero realçar, também, o trabalho essencial de muitas empresas e seus funcionários,

que reconverteram as suas normais actividades, para confeccionarem novos materiais,

máscaras, luvas, gel, etc, etc, que o país tanto necessita.

A todos os outros, que, generosamente, trabalham em prol dos mais desfavorecidos e a muitos, muitos mais, que se esforçam para que tudo corra bem e se possa ultrapassar

esta dura provação, o mais rápido possível.

Este é o tempo de se porem de lados as diferenças, fazendo valer a força da união.

Pretendo desta forma singela, mostrar o quanto vos estou grato. Um forte e solidário abraço a todos. Bem hajam.

SANGUE LUSITANO

Médicos e enfermeiros esforçados

Enfrentam inimigo tão mortal

Sendo por assistentes, apoiados

Lutando em combate desigual

Ficando das famílias afastados

Fazendo o seu melhor por Portugal.

Seu grande feito é reconhecido

Por um povo, que está agradecido.

Quem para salvar vidas, se arrisca

À sua própria vida vir perder

Do título de herói faz a conquista

Provando essa honra merecer

Mostrando o seu lado altruísta

O respeito de todos deve ter.

Devemos ter presentes na memória

Aqueles cujos exemplos fazem história.

Cientistas, os polícias, os bombeiros,

Forças Armadas, são essenciais

Em valiosa ajuda, os primeiros

Tão preciosos são, como outros mais

Do sangue lusitano são herdeiros

Heróis desconhecidos e normais.

Todos aqueles que não podem parar

Merecem do País, louvor, ganhar.

E muita gente há em toda a parte

Tentando ajudar nesta aflição

Valendo-se do seu talento e arte

Já especial ajuda, também dão

Não havendo tarefa que os farte

E desafios a que não ponham mão

Se a vida apresenta provações

Tem o engenho humano, as soluções.

Soldados veteranos que enfrentaram

Inimigos, em guerras bem diferentes

Tantos, nesta batalha, soçobraram

Mas muitos mais são os sobreviventes

Contra rival, que nunca imaginaram

Provando o seu valor de resistentes.

Juntos enfrentaremos os reveses

Que forte é o querer dos portugueses.

Nosso brioso povo está lutando

Mostrando a sua garra e valentia

Perigoso inimigo, enfrentando

Em combate que é feito dia-a-dia

E nunca da vitória duvidando

Na luminosa esperança que o guia.

Até na mais horrenda tempestade

Tem a força humana mais vontade.

Já muitos oponentes enfrentámos

Bravas feras e outros seres humanos

Mas inimigo assim nunca pensámos

Um invisível mestre dos enganos

O seu poder também o relevámos

Pagando duro preço, graves danos

Embora em toda a parte ande espalhado

P’lo tempo e p’la ciência é derrotado.

 Muitos séculos de história são herança

Deste mui nobre povo português

De meio mundo teve a liderança

E glória, alcançada tanta vez

Nunca perdendo a fé e a confiança

Com a cabeça erguida e altivez.

Honrando-vos, assim, heróis do povo

De Portugal, o nome, ergueis de novo!

António Henriques

01 Maio de 2020


   
 

Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 16-10-2020

 
     

Título: Arte com Mascaras na Pandemia

Autora: Maria da Luz Raposo

 
         
 
   

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 30-9-2020

 
 

Título: As Minhas Mãos

Autora Luísa Faria

AS MINHAS MÃOS

No interior da igreja, espera-me um silêncio, que me recebe em acolhimento de paz e oração. Pelos vitrais das laterais, os raios de sol, iluminam o altar de Nossa Senhora da Conceição. A seus pés, uma senhora de bastante idade, encontra-se ajoelhada em oração, com as mãos em prece, e são as suas mãos secas, enrugadas e débeis, iluminadas pelos raios de sol, que me levam a olhar para as minhas, às quais, viro as palmas para cima, para melhor as observar. Também elas mostram que o tempo não as tratou com o devido carinho.

Demoradamente, olhei para as duas como nunca antes tinha feito, e pensei nelas como um grande álbum de fotografias:

o   A primeira vez que mãos cheias de amor, as receberam e seguraram.

o   Quando, com ternura, foram guiadas para dar os primeiros carinhos.

o   Num singelo gesto, acariciaram o rosto, de quem lhe sorria.

o   A felicidade, com que escreveram as primeiras palavras.

o   Quando, aprenderam a juntar-se para rezar.

o   No dia, em que nelas foi colocado o corpo de Cristo, pela primeira vez.

o   Mais tarde, outras mãos, lhe deram como oferenda, um lindo anel de ouro, para que todos pudessem ver, como eram amadas com muito amor.

o   Entrelaçadas, caminharam longos caminhos. Umas vezes rápido demais, outras aproveitando para admirarem a paisagem.

o   A sensação de serem aquecidas pelo calor suave do sol, em dias de Inverno.

o   O que sentiram, quando se tornaram inábeis, ao segurar pela primeira vez, pequenos seres acabados de nascer.

o   Quando a tremer, aconchegaram outras mãos, muito queridas e as entregaram em paz, nas mãos do Criador, ajudando depois a secar as muitas lágrimas que desciam num rosto carregado de tristeza.

o   Com humildade ajudaram a levantar, aqueles que não o conseguiam fazer.

Chegando aqui, parei e entrelacei as minhas mãos, tentando fechar o álbum das memórias. É impossível descrever tudo o que sentiram e fizeram por mim. Sempre estiveram presentes e disponíveis para me ajudar, são as minhas melhores amigas, tem enormes poderes e são poderosas.

“SÃO AS MINHAS MÃOS”

Luísa Faria

Agosto 2020

 


Título: Sorrisos São Precisos

Autor: António Henriques

SORRISOS SÃO PRECISOS

Ver assim estas crianças

Do futuro as esperanças

Cada um com seu sorriso

Dão a todos mil razões

Que em todas as ocasiões

Sorrir é sempre preciso

 

Ver a face sorridente

Alegre e muito contente

De toda esta criançada

Lembrará a muita gente

Que anda por aí descontente

Que sorrir não custa nada

 

Tire esse ar carrancudo

Essa cara de sisudo

Nem torça o seu nariz

Se sorrir fica diferente

Ficará bem mais contente

Não parecerá infel

Vá lá, sorria também

Vai sentir-se muito bem

Com um sorriso no rosto

Terá melhor harmonia

Mostra aos outros, alegria

Ficará mais bem disposto

 

Ah, se os homens sorrissem

E de mãos dadas seguissem

Em vez de ódio destilar

Com clemência e perdões

Abrissem seus corações

Deixando o amor entrar

 

Ódio e guerra acabavam

Fome e tristeza afastavam

O mundo era um lugar lindo

A vida de todos mudava

Nunca mais ninguém chorava

Com toda a gente sorrindo.

António Henriques

Junho 2017


Título: Tempo Diferente

Autora: Maria José Domingos

TEMPO DIFERENTE

Na sexta-feira passada, num meio final de tarde, sim com estas mudanças de hora, ando um pouco baralhada, pois de manhã, tenho tendência para me levantar à hora que me levantei durante todo o Inverno, e a tarde fica longa e assim, seis da tarde, parece-me uma meia tarde.

Mas dizia eu que na sexta-feira passada, com um pouco de sol ainda a fazer-se sentir, estava no terraço da casa, este terraço fica ao nível do telhado e assim podemos ver o rio Tejo e toda a rua, vemos as janelas e varandas, onde as pessoas que estão em casa vão espreitando, para verem outras pessoas, ou simplesmente sentir a brisa da tarde na cara.

E estávamos a observar a paisagem entre os intervalos de saltar á corda, pois era o que estávamos a fazer no terraço, eu dava à corda, pois já sou menos ágil, e o meu neto e a minha filha saltavam, e riam, riam tanto que o rapaz rebolava no chão, e saltava, para descansarem um pouco, espreitávamos a rua.

E começamos a prestar atenção ao movimento que se fazia sentir, ali duas pessoas conversavam, mais à frente três adolescentes caminhava, um homem já com alguns anos passeava o cão, e mais umas pessoas também passeavam os cães, e começamos a achar estranho, um leve susto invadia-nos a alma.

Estava muita gente na rua! Mas seriam para aí dez ou pouco mais. E a nós parecia uma multidão, e assustava-nos.

Que coisa esquisita, que sensação sem sentido, será?

Não, isto é o fruto dos novos tempos, e passou tão pouco tempo, interiorizamos que nos temos que afastar, e agora dez pessoas espalhadas, são uma multidão que nos causa desconforto, pois pensamos quantos vírus andarão por ali, e quantos contágios podem acontecer, que situação complicada vivemos neste tempo diferente.

Queremos muito sair de casa, apanhar um sol e ar no rosto, mas sem ninguém por perto.

Queremos muito falar com os vizinhos e conhecidos, mas quando nos cruzamos com eles, por acaso numa ida às compras, criamos logo um grande espaço, e nem lhes vemos a face toda, pois alguém já se habituou a usar máscara.

Que tempo este, tão diferente, mas mesmo assim com muito potencial escondido, pois aprendemos a apreciar o mais simples.

Acordo lentamente e sinto o prazer da espreguiçadela matinal, fico algum tempo a saborear o aconchego dos lençois quentes e perfumados.

Tomo o pequeno-almoço lentamente, a fatia de pão de centeio barrada com manteiga, um pouco de doce de tangerina, que fiz no Inverno passado, uma fatia de queijo de cabra fresco, ainda com perfume das plantas do Alentejo, saboreio tudo em pequenas dentadas, sorvo um pouco de café quente, nesta manhã, tudo me parece novo, único e muito bom.

 Olho o dia lá fora, ouço o canto matinal dos pássaros, e sinto que uma orquestra de sons me invade o espirito ainda pouco desperto, bebo mais goles de café lentamente, e vou para o quintal sentir a temperatura, o ar frio sabe-me bem.

Olho as plantas, que enchem o meu quintal de cor, pois quase todas as manhãs tenho uma nova flor, mesmo que seja pequena, é sempre mais uma.

Que bom sabermos apreciar todas estas coisas simples, são elas que nos vão dando os pequenos prazeres do dia a dia.

2 Abril de 2020

Maria José Domingos


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 26-9-2020

 

Título: Arte da Fotografia na Pandemia

Autoras:  Um Bom Início de Outono - Luísa Faria

Flores para o Outomo -  Maria José Domingos

 
       
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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 24-9-2020

 
 

Título: Tempo de Piqueniques

Autora Maria Fernanda Calçada

Tempo de piqueniques

Estamos ainda no Verão, época ideal para fazer piqueniques; este hábito tão agradável e salutar foi-se perdendo, com um novo conceito de vida, em que as pessoas, preferindo a comodidade de comer em restaurantes, foram perdendo o gosto de fazer refeições ao ar livre.

Na minha família, desde sempre o praticámos e ainda agora o fazemos. Dá algum trabalho, mas sabe tão bem… E não é que, depois do confinamento que tivemos, se deu um movimento nesse sentido? As pessoas sentiram necessidade de respirar natureza, liberdade. E é uma boa solução para uma reunião, familiar ou de amigos, onde ao ar livre, o perigo de contágio fica diminuído.

Desde criança que me habituei a ir com meus pais e familiares a locais bonitos, cheios de sombras onde se passavam umas horas em convívio, e se comiam uns belos petiscos. Recordo bem o cheirinho bom do arroz de tomate, que, (para estar quentinho) ia muito bem embrulhadinho em papel de jornal, naquele tempo não se falava em malas térmicas. Aí que entusiasmada ficava ao ver a minha mãe desembrulha-lo, que bem que cheirava! E a acompanhar havia uns pastelinhos de bacalhau, ou “joaquinzinhos” fritos, coisas simples, mas gostosas! Outra coisa por que eu ansiava era um pudim Royal feito com três sabores, baunilha, chocolate e morango, em camadas, numa certa taça de vidro. Que momentos bons eram aqueles!

Certa vez, foi organizado um piquenique, numa herdade para os lados de Azambuja e como poucos tinham automóvel, arranjaram uma camioneta para levar os mantimentos, os cobertores para o chão, a garotada e os homens. As mulheres iam nos carros, as sortudas! Uma vez lá chegados, houve que ir apanhar gravetos para assar as sardinhas e os chouriços; os homens estavam a montar umas mesas, as mulheres descascavam as batatas e faziam a salada. A garotada foi em busca de algo para fazer as brasas, mas fomo-nos aventurando e, sem grande noção do espaço chegámos a um local onde interrompemos o descanso de uns quantos bois (ou vacas tanto fazia…eram assustadores…) É que naquela herdade faziam criação de gado bravo.! Largando tudo, fugimos e tivemos a peregrina ideia de entrar num grande tanque que havia ali ao pé! Era onde os animais iam matar a sede! Tanque esse com o fundo cheio de lodo, que provocou umas quedas, eu fui uma delas; começámos a gritar por socorro; por sorte nossa, os bichos não estavam com sede, mas nós não saímos dali, até sermos ouvidos e os pais aparecerem e com gritos e ramos os afastarem. Fomos gozados, o almoço fez-se, mesmo com algum atraso e eu passei o resto do tempo enrolada numa toalha, enquanto o meu vestido enxugava ao sol.

Maria Fernanda Calçada

 


Título: Palavras Afagadas Pela Brisa

Autora: Maria José Domingos

PALAVRAS AFAGADAS PELA BRISA

Caminho pela beira do rio

Olho as pequenas flores, oiço o som dos pássaros

Mas em nada o meu pensamento se fixa

A ondulação baloiça suavemente,

Indiferente ao vento que a tenta agitar.

Caminho, um passo, segue o outro

Caminho, um pensamento vêm, e outro espreita.

E eu caminho

Vejo as buganvílias, as de cor violeta acompanham-me

As borboletas brancas fazem-lhes concorrência

Umas e outras ajudam-me na libertação da nostalgia que me invade.

Onde estão os meus sorrisos de menina?

Onde estão os abraços de aconchego?

A ternura dos beijos com ranho misturados?

O cheiro teu, cheiro meu e o cheiro de todos,

Que hoje não sinto.

Será que voltam?           

E eu caminho

Pois com o caminhar a zanga desvanece-se.

Encontro outro rosto

Aflito de medo, tempos incertos num inesperado

Lágrimas afloram os olhos,

Sinto um impulso de carinho

Mãos que se esticam, braços que se encolhem

Afago contido, e um beijo preso.

E eu caminho

Pois novos dias virã.o, e a luz depois das trevas também

Assim eu caminho

7-06-2020     

 Maria José Domingos

 


Título: Para o Gilberto de Paiva

Autor: António Rouqueiro Ramalho

Para o Gilberto de Paiva

Videmonte viu nascer

Um excelente rapaz

E o que ele sabe fazer

E do que ele é capaz

De seu nome Gilberto

De Paiva está errado

De Videmonte correcto

Seria mais acertado

Faz grelhados de excelência

Utilizando a sua garagem

Gabo-lhe a arte e a paciência

Além da grande coragem

Toca viola, canta é actor

Um artista multifacetado

É estudante universitário

Só ainda não o ouvi cantar um Fado

Da homenagem que prestou

Fez-me reavivar a memória

Na capital do seu distrito

Tive momentos de “glória

 

Na minha relação com as gentes

Do Cantinho do Céu à Adega de Pinhel

Guardo momentos excelentes

Aguarelas sem pincel!

Em Almeida, nas margens do Côa

Saboreámos uma feijoada

Assistimos à final da Taça

Não me lembro de mais nada!

Vou-me ficar por aqui

Com estas excelentes memórias

Outros lugares percorri

Com lindas e belas histórias

Agora que na Universidade

Tínhamos tanto para aprender

Tramou-nos o COVID-19

Vamos aguardar para ver

Cá o espero de volta, não se esqueça da sua viola, muito menos da D. Rosa, conduza com calma, sem pressas!

Um grande abraço.

5 De setembro de 2020

 

 

António F. R. Ramalho

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 7-9-2020

 

Título: Arte de Fazer e Vestir as Imagens na Pandemia

Autora: Maria da Luz Raposo
 
     
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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 16-9-2020

 

 

Título: O Tempo do Zoom

Autor: Lino Solposto

O Tempo do Zoom

Ainda cheguei a tempo da música e letra de autor, marcando o evento,

De ver lavores femininos por gente prendada,

De alguém que faz força para combater este tempo,  

Que é duro, feroz, inclemente e incerto.

E em Quatro Estações bem marcadas,

Conseguimos ver olhos brilhando de alegria,

Ainda adivinhámos ternura quando se disse poesia.

Um punhado de bravos deram testemunho,

Estarem dispostos a lutar,

Também a dar e receber.

Então, ousemos, não nos acanhemos, ninguém nos irá julgar,

Haverá sempre um talento escondido, pronto a desabrochar.

E não adianta decalcar,

Fartos que estamos de frases feitas,

Esperámos em vão, promessas e mais promessas, por executar.

É também tempo que devia ser de férias,

Local próprio de brincadeira e fantasia,

Mas os arautos de serviço nem espalham a esperança,

Nem projetam o futuro, que está tão perto, já amanhã.

Enquanto isso, vamo-nos mascarando, antecipando o Carnaval,

E entrincheirados, aguardamos que alguém erga a bandeira,

Escorrace o medo, e devolva à vida, a alegria

Atelier de Escrita

Julho-2020

Lino Solpost

 


Título: O Ano de 1968

Autor: Eliseu Pinto

-  As voltas da vida – ou recordando 1968, em tempo de covid  -

O chefe do escritório chamou-me e disse: Ó Pinto, você é, quem está no serviço, há menos tempo e como a obra está a terminar, o melhor será procurar outro emprego. Pois, vai ser o primeiro do escritório, a ser despedido. Se precisar de tempo para tal, ou, de carta de recomendação, é só dizer. - E assim, o senhor Martins, pôs-me perante a triste realidade, de ter de procurar trabalho. Pois, não tinha jeito para o gamanço, e só me ensinaram a trabalhar para, ganhar a vida. - Depois, de várias diligências, disse-me um colega de escola, que na firma onde ele trabalhava, iam admitir um escriturário.

Fui, à morada que me indicou, tentar a minha sorte. Era em Lisboa, no 3º andar de um prédio com elevador. Situação embaraçosa: Eu, o aldeão, que aos 18 anos, nunca tinha andado em tal coisa, achei melhor ir pelas escadas; não fosse o diabo tecê-las e eu ficar fechado lá dentro. Mas, apareceu o porteiro; o qual me perguntou ao que vinha. Disse-lhe, o porquê da minha presença no seu domínio; e ele, vendo que eu continuava com intenção, de ir escada acima, tomou a iniciativa de me levar no ascensor, até ao 3º andar. E assim foi, o meu batismo na ascensão vertical. – Agradeci e dirigi-me ao guichet, onde estava escrito “Expediente”; o funcionário que me atendeu, chamou o chefe e apareceu um mal-encarado, que ao ouvir a minha pretensão, despachou-me de modo seco e desabrido, dizendo: Não há vaga nenhuma! A que havia, já está preenchida.

Saí atordoado, bastante frustrado, não só, por não conseguir a colocação, mas também, pela forma como fui tratado. Pois, o homem não me deu a mínima hipótese. À noite, quando encontrei na escola (em Vila Franca) o meu colega, que trabalhava no tal escritório, contei-lhe o sucedido. E ele, assegurou-me, que o lugar continuava em aberto. E esclareceu-me de que eu, tinha ido ao guichet errado. Pois, a vaga era para a contabilidade e não para a secção de expediente. Onde, logo por azar, o chefe era um mal disposto crónico; com a agravante de detestar guedelhudos. Ponderei a situação e disse, cá para mim: Vamos lá a ganhar tento rapaz! Tens de fazer pela vida. E com estes considerandos, delineei a estratégia a seguir.

No dia seguinte, logo que abriu a barbearia, fui ao sacrifício, entregando-me aos desvarios, da tesoura do barbeiro. O qual, desbaratou num ápice, a minha adorada cabeleira à beatle e a rala barbicha. Depois, vesti a fatiota de “ver a Deus”, (mas, sem calças à boca de sino, então na moda) engravatadinho e engraxadinho, lá fui, para o combate. – Entrei no prédio, dei os bons dias ao porteiro, que me olhou com ar intrigado (talvez pelo novo visual) decerto admirado pela mudança radical. E demonstrando eu, que o elevador para mim, já era tu cá tu lá, nele subi ao piso, onde se ia ditar a minha sorte, tentando mostrar uma segurança que não tinha. Desta vez, fui direitinho à Contabilidade. Falei com o chefe que se mostrou agradado com as minhas referências; e a coisa correu tão bem, que tive logo ordem, para me apresentar ao serviço na segunda-feira. Como, era quinta-feira, fui de imediato, comunicar ao senhor Martins. O qual, não pôs qualquer objeção à minha repentina saída do emprego. Despedi-me, grato pela forma como fui tratado, não só pelos colegas como pelo chefe, que me disse: Tenho pena, de não poder continuar a trabalhar consigo. Mas, continue a ser quem é, e vai ver, que as suas qualidades, irão ser reconhecidas; e vai ter sucesso na vida. - Foi bom ouvir, tais palavras. - Os dados estavam lançados.

 Preparei-me, para ingressar, naquele que foi, o meu posto de trabalho, durante doze anos. - Ainda, que à custa do corte, do meu rico cabelinho à beatle e da barba. – Enfim… Ao que um jovem se “tinha de sujeitar”, para fazer pela vida. Eram, tempos difíceis e com as suas bizarrias, ditadas pelo atraso que no país subsistia . E por muito mérito que se tivesse, em certos empregos, não havia lugar para modernices. E muito menos, com certas pessoas em cargos de chefia e com mentalidades retrógradas, como era o caso, do chefe do Expediente. O qual, durante uns tempos me olhou de lado, talvez, reconhecendo em mim, o sujeito a quem ele, tinha despachado desabridamente. Mas, no entanto, nunca tal assunto abordou e como eu, não era seu subordinado direto, mantive sempre uma certa  distancia.

No dia aprazado lá fui, de comboio até Sta. Apolónia e depois apanhei o 12. Mas, ia tão desorientado e pouco habituado à cidade que, passei pela paragem onde deveria descer e nem me apercebi. Só lá mais adiante é que, achando estranho, não reconhecer qualquer local por onde passava, perguntei ao cobrador. O qual me disse, que deveria ter descido duas ou três paragens antes. - Mas, que grande bronca! Logo no primeiro dia, ia chegar atrasado. Desci na paragem seguinte e voltei para trás a pé. “Com os bofes à boca”, finalmente cheguei e muito encabulado, dirigi-me ao gabinete do chefe, apercebendo-me que toda a malta cochichava a minha chegada fora de horas. Fui recebido friamente, com estas palavras: Logo no primeiro dia a chegar atrasado! Não haja dúvida, que está a começar bem. - Nem me consegui explicar. Pois, o senhor Vilela estava mesmo zangado e nem quis ouvir as minhas razões. Só faltou, pôr-me logo na rua. Depois, com maus modos chamou um funcionário e disse-lhe: Explica aqui a este “senhor”, qual vai ser a sua função, e esperemos que esteja à altura. Pois, na pontualidade, está a começar muito mal. E eu, transpirava por todos os poros e com, uma terrível  vontade de urinar – Felizmente, o novo colega, fez-me recuperar a confiança, dizendo-me: Tenha calma, que os “azeites” vão-lhe passar. Eu então, disse-lhe que precisava de ir à casa de banho. Ele indicou-me onde era e lá me fui aliviar. Felizmente, o resto do dia correu satisfatoriamente.

Por sorte e também, porque, algum valor em mim habita, passado pouco tempo, o chefe, tinha-me em alta consideração. E delegava em mim, certas tarefas (hoje arcaicas) a que ele dava muito apreço; tal como, escrever em letra “inglesa” ou “francesa”, os títulos das capas e lombadas das pastas do seu gabinete. E como a Caligrafia era, uma das disciplinas do meu Curso Comercial, eu safava-me bem com a escrita. - Sorrio, ao pensar, como certos atributos, hoje sem relevância, foram enxadas úteis, no início do meu percurso profissional.   

Eliseu Pinto  “ O Gralha “   17-08-20

 


Título: Pedaços da menina que fui

Autora: Maria Fernanda Calçada

Pedaços da menina que fui

Esta manhã na rotineira ação de limpar o pó à estante da minha sala, atirei ao chão uma moldura, que se desfez em mil pedaços.

Era uma daquelas molduras muito em voga há uns anos atrás, em que na cartolina estava desenhada uma árvore, e nos ramos havia espaços para inserir fotografias; esta tinha seis. Naturalmente alterada com o acontecido comecei a escolher de entre os restos, as fotos que lá tinham estado anos; e dei por mim, saudosa, a relembrar as várias épocas que elas eternizaram. A mais antiga mostra-me bebé de poucos meses, de mãos na boca, reclinada num cadeirão, com um vestidinho comprido cor de rosa, com a fímbria toda bordada a branco. Enternecedora, sim, mas, como é lógico não guardo recordações desse tempo.

Depois há uma outra, um pouco mais tarde em que estou ao colo de minha mãe, mas sem dar muita atenção ao fotógrafo, meu pai, que queria mostrar o seu talento, mas eu não facilitei a tarefa Mas a minha mãe ficou linda.

Uma outra, de quando eu teria talvez uns cinco anos estou entre os meus pais e ostento, orgulhosa uma boneca, que, maravilha das maravilhas, tinha a cabeça de loiça .Essa boneca ,que era o meu encanto, (até lhe lavava a cara) teve um fim trágico  numa certa noite ,em Lisboa ,em casa dos tios João e Matilde, De visita lá a casa, os meus pais e o casal foram ao teatro ,deixando-me entregue à criada ,uma senhora já com muitos anos que estando a fazer renda, se deixou adormecer .A certa altura resolvi visitar o sótão da casa ,.local onde não me deixavam ir sozinha, e acendendo a luz comecei a subir as escadas silenciosamente. Já estava lá no cimo, quando me surge pela frente a gata enorme e arisca de quem tinha um medo terrível; quis virar-me para descer, pus um pé em falso e aí vou em grande velocidade aterrar no corredor e acordando a minha guardiâ em sobressalto. Quando os meus pais voltaram encontraram-me com a cabeça enrolada numa toalha molhada, sem danos maiores que uns valentes altos na cabeça …mas chorando com todas as forças pois a minha adorada boneca estava sem cabeça! Só no Natal seguinte tive direito a receber outra. Numa outra foto estou junto a um avião, creio que um Lancaster usado na 2º guerra mundial, no dia do meu1 º voo; apanhei tosse convulsa e, depois de várias tentativas para me curar sem êxito o meu pai arranjou lugar para 2 voos na base da Ota. Foi para mim um acontecimento ;era a única criança a bordo e recordo que iam lá senhoras, familiares dos militares daquela base .Lembro ainda o barulho ensurdecedor que fazia dentro do avião, as pessoas gritavam para se fazer ouvir ,os assentos estavam com as crinas todas a aparecer, e o meu pai até ralhou comigo por estar  entretida a puxá-las!

Aquele avião fora utilizado na guerra, estava nas Lages para reparação e quando esta acabou foi cedido a Portugal. Velhinho e maltratado, mas não caiu!

Da “2º vez já fui bem mais calma, estava a tornar-se uma coisa normalíssima!

A tosse convulsa, passou, se foi por andar de avião nunca me questionei.

Mais uma foto, esta em cima de um camelo no Jardim Zoológico. Naquela época era costume meter as crianças (eram duas) em duas cadeirinhas a par no dorso de um camelo e lá íamos nós todos contentes dar uma voltinha! Não pedíamos muito para se ser feliz! Era a minha madrinha, residente em Lisboa que me arranjava sempre motivos para ficar contente. Outras vezes íamos de elétrico até ao fim da linha, na Cruz Quebrada, onde tomávamos um capilé e um pastel de nata!

A restante foto mostra-me com ar preocupado, sisuda mesmo: é a foto tirada para o meu primeiro bilhete de identidade; via entrar no liceu, uma nova etapa. Por mais que a D. Aurora, a fotógrafa me aconselhasse um sorrisinho, eu não lhe fiz a vontade. Quiçá a interiorizar que os tempos da infância ficavam para trás, e o futuro traria desafios desconhecidos que seria necessário encarar.

Tenho de arranjar maneira de encaixar estes pedaços de mim para memória futura

Fernanda Calçada

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 12-9-2020

 
 

Título: Arte Quatro Fotos na Pandemia

Autor: Manuel Silva

 

 

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 9-9-2020

 

 

Título: Celebrando a Primavera

Autor: António Henriques

CELEBRANDO A PRIMAVERA

Primavera colorida, celebro a tua chegada,

Vieste de sol vestida e de flores, perfumada.

És bem-vinda e desejada, neste novo recomeço,

Ansiosamente esperada, de ti nunca eu me esqueço.

Com dias de chuva e vento, alguns, sem nada mexer,

Uns serão talvez tormento, outros, um doce prazer.

Mas és o tempo das flores, e dos campos verdejantes,

Inspiração de pintores, em quadros tão fascinantes.

És canção para os cantores, és paixão para os amantes,

És também fonte de amores, em regatos murmurantes.

E poetas te louvaram, nos versos que te fizeram,

E a todos nos encantaram, nos poemas que nos deram.

 A paisagem já se altera, em explosão de verde e flores,

E foste tu Primavera, que a pintaste de mil cores.

Renova-se a Natureza e novos seres vão nascendo,

Tanto esplendor e beleza, por todo o lado se vendo.

O céu azul vai ficando, o calor já está vindo,

Os frutos vão despontando, e belas flores vão abrindo.

Os dias são mais compridos, as noites são mais amenas,

Os campos estão coloridos, de papoilas e verbenas.

Assim se renova a vida, nesta bonita estação,

És por mim a preferida, eu tenho por ti, paixão.

António Henriques

Março 2018

 


Título: As Meninas

Autora: Maria Fernanda Calçada

LEMBRANÇAS

Hoje, 20 de Abril de 2020, acordei especialmente triste e desanimada. A noite foi má, não por causa de sonhos maus ou pesadelos, mas por falta de sono. As preocupações com o que se está a passar e o medo do que vem aí, não me deixam dormir.

Quando peguei no telemóvel e abri o facebook, eis que me apareceu uma memória minha, de uma foto que tirei no dia 20 de Abril de 1986, há 34 anos, a qual eu tinha publicado há uns anos. Estava grávida da minha primeira filha, na altura não sabia o sexo, portanto era o meu bebé, que viria a nascer no dia 4 de Maio de 1986.

Eu tinha 26 anos, tinha toda a força do mundo. Éramos todos vivos, juntávamo-nos muitas vezes, eramos muitos, fazíamos grandes almoços, jantares, celebrávamos os aniversários de todos, enfim, era uma vida com muita alegria.

Naquele ano, a 25 ou 26 de Abril, aconteceu uma grande tragédia ambiental, uma explosão na Central Nuclear de Chernobyl. Os russos tentaram camuflar a gravidade da situação, mas acabou por se saber. Foi um grande desastre ambiental para todos, seres humanos, animais, natureza, ainda hoje há zonas onde não nasce uma erva e há seres humanos a sofrer com as doenças provocadas pela radioatividade emanada para a atmosfera.

Eu andava tão empolgada com o nascimento do meu primeiro bebé que o desastre de Chernobyl, passou-me ao lado, até porque não havia tanta informação, quer na TV, quer nos jornais e não havia facilidade em consultar noticias pela Internet, pelo que não nos apercebemos bem da gravidade da situação.

20 de Abril de 2020, 34 anos depois, eis que dou comigo a lembrar dos desastres ambientais e biológicos que já aconteceram e a pensar que afinal o ser humano é prejudicial ao Planeta Terra, pois estamos a braços com mais um desastre humanitário, desta vez biológico, o vírus Covid-19, que nome pomposo, ou o novo Coronavirus, termo mais calão.

De notar que muitos desastres ambientais e biológicos aconteceram, por exemplo, no início da década de 80, apareceu a SIDA, e na época lembro-me que foi alarmante e aterrorizador, pois as pessoas tinham medo do contágio, mas penso que quase nada superou o medo que o Covid-19 nos trouxe. O ser humano está em grande perigo, pois há muito para descobrir até se debelar este vírus.

Então, aqui estamos nós em casa, em distanciamento social, não podemos tocar, não podemos abraçar, não podemos acariciar, beijar, estamos limitados ao uso de máscara, luvas, lavar as mãos vezes sem conta, etc., estamos confinados ao medo!

O que nos reserva o futuro? Doença, fome, tristeza, abandono?

Pode ser que a humanidade aprenda que o Planeta Terra não é para destruir, mas sim para respeitar, amar e proteger, para que assim todos os habitantes deste planeta maravilhoso, possam viver tranquilos e disfrutar de tantas coisas boas e lindas que a Mãe Natureza tem para nos dar e que nos fazem sentir tão bem.

 

Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

Aluna nº 1658

20 de Abril de 2020

 


Título: A Pandemia por Corona Virus

Autora: Maria Florença Pires

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 7-9-2020

 

Título: Arte na Pandemia

Autora: Maria da Luz Raposo
 
 
 

 
 

 
 

   
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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 4-9-2020

 

 

Título: O Tempo das Maçãs Riscadinhas

Autora: Maria José Domingos

O TEMPO DAS MAÇÃS RISCADINHAS

Estamos no tempo das férias, e eu lá rumei mais uma vez para as terras do Oeste.

Já lhes conheço os humores, pois já são muitos anos por essas paragens, primeiro fui muitos anos para Santa Cruz, praia linda de mar azul, revolto, cheio de energia, areia dourada, minúsculos seixos que de tão polidos deram origem á macia areia, que nos afaga os pés a cada passagem.

Também frequento muito a Ericeira, mas nos últimos anos tenho ido mesmo para a Foz do Arelho, pois a sua Lagoa de águas calmas é mais própria para o meu neto tomar o seu banho, sem eu ficar com o coração acelerado.

É uma zona simpática e tranquila, com uma praia enorme, e onde podemos estender a toalha bem longe do vizinho.

Normalmente o tempo é um ziguezaguear constante, previsões são coisa que pouco resulta, assim é esperar a hora seguinte, para ver se o sol aparece.

Sim porque no Oeste, podemos num dia ter neblina, chuvinha, um belo sol, e depois um ventinho, ou também, como este ano, podemos ter a neblina, uma chuvinha, um ventinho, e o sol a aparecer por escassos momentos.

Mas eu gosto muito de praia, e assim mesmo com este tempinho, até vou saboreando a tarde soalheira, ou a manhã que desponta nebulosa e depois, e depois se abre num oásis de calor brando.

Já deixei estas paragens, e quando cheguei a casa o calor fazia sentir-se com elevada intensidade, e pensei “ que bem se estava no Oeste”.

Voltei á rotina, mas eu tenho quase sempre de quebrar a rotina, e este ano deu-me para as pinturas.

Já em Maio tinha pintado os muros do quintal, nunca tal tinha feito, achava que não tinha jeito, mas até ficaram bem e agora passei para móveis.

Sabem aqueles móveis, que nós vamos herdando, e que até são engraçados, mas já começam a ter alteração na cor, ou machas de muitas mãos que lhes tocaram, pois a alguns resolvi retirar as impressões digitais e pintá-los de branco, pois está na moda.

Parece que também não ficaram mal, uns pequenos, tipo mesa até foram para colocar junto da cama do meu neto, e ficou bem, mesmo bem.

E assim pintei também umas cadeiras e mais um banco alentejano, pelo menos ficaram com ar limpo, e desinfectado.

E assim vou alternado as minhas rotinas, não dispenso a minha caminhada a meio da manhã, para que já sinta na pele o calor do sol, até porque a vitamina D é muito importante, para combater as infecções, e activar a imunidade.

E do que precisamos mesmo é de bastante imunidade, ao “bicho”, e outras situações menos agradáveis que vão aparecendo.

 Todos vamos descobrindo ocupações, capacidades desconhecidas, e vivendo a vida com a alegria, que nos é necessária e benéfica.

Até já fiz uma viagem de comboio até ao Fundão, e foi bastante tranquilo.

Vivamos normalmente, com as precauções devidas e assim vamos saboreando as maçãs riscadinhas que aparecem neste tempo.

Costumo comprar estas frutas a pequenos agricultores, e outro dia comprei umas maçãs saborosas, perfumadas que me transportaram para as maçãs que comia na minha infância.

E o tomate coração de boi, que também está com um sabor esplêndido, entre a compra e a dádiva, eu e a minha família temos comido umas saladas cheias de sabor.

Apreciemos pois estes dias ainda cheios de Luz, saboreemos todos os frutos e legumes desta época espetacular, uma boa sopa de beldroegas, com um ovo escalfado, uma fatia de queijo fresco ou seco, é especial.

 E vivamos felizes.

18-08-2020

Maria José Domingos

 


Título: As Meninas

Autora: Maria Fernanda Calçada

As Meninas

cordo-as sempre juntas evidenciando a cumplicidade que se manteve ao longo da vida. Ainda hoje, já na casa dos noventa, assim continuam, inseparáveis.

Nascidas numa pequena terra, no seio de uma conceituada família formada por uma professora primária e um lavrador remediado foram primorosamente criadas num ambiente conservador. Lourdes, a mais velha, morena como sua mãe, foi uma menina exemplar, senhoril e sossegada. Já a mais nova, Odete de seu nome, loira como o pai, foi sempre a rebelde; o seu feitio irrequieto levava-a a alterar as normas estabelecidas. Não brincavam na rua, o quintal da casa era o seu mundo; a imaginação prodigiosa de Odete fazia a sua velha avó Mónica (lembro bem aquela figurinha franzina encimada por um carrapito todo branco) sair do sério. Fizeram a escola primária na terra, seguiram os estudos na vila próxima e posteriormente em Lisboa. Para onde ia uma, ia a outra; na terrinha eram chamadas As MENINAS…

Meninas eram e, meninas ficaram, pois nunca casaram; ainda hoje os habitantes mais antigos se lhes referem como AS MENINAS!

A certa altura da vida, com os pais já idosos foram morar para junto da cidade grande, por conveniência relativamente aos seus empregos. Deslocaram-se pela Europa fora num flamante carro cor de laranja e, com o passar dos anos trocaram-no pelo avião, que no caso da Odete a levou a mais de uma centena de países, com muitos episódios que dariam para encher mais umas folhas…Quando as conheci (eram vizinhas dos meus avós) bem mais velhas do que eu, sempre me senti atraída pelas duas irmãs e até hoje quando falo com elas, (pessoalmente ou ao telefone) começo por perguntar:Então como vão as MENINAS?!

Há anos atrás, aquando de uma visita onde me foi oferecido um chá, com o requinte que sempre lhes conheci, elogiei uma toalha lindíssima que estava na mesa. Disseram que fora bordada por elas, para um enxoval que nunca fora preciso, e um dia quando da sua morte, para onde iria parar, dado não terem familiares próximos …Com o à-vontade de muitos anos de amizade saí-me a dizer:-Mas não seja por isso, deixem um bilhetinho escrito a dizer:-A toalha de linho bordada a azul fica para a Maria Fernanda! Seguimos com o lanchinho, os anos passaram e não é que há semanas atrás, numa visita que mais uma vez lhes fiz, tinha em cima do sofá um saco à minha espera?!

Diz a Odete muito prazenteira:

-Neste saco que vais levar, está a toalha. Olhei para as duas com uma certa estranheza, pois nunca mais de tal me lembrara. Minhas ricas MENINAS que não param de me fascinar! Com muito carinho trouxe a toalha para casa e logo de seguida num almoço com toda a minha família, a toalha de linho bordada a azul, em ponto grilhão fez um brilharete!

Maria Fernanda Calçada


Título: Naturalmente

Autor: Gilberto de Paiva

NATURALMENTE

Daqui da cidade mais alta de Portugal

Cumprimento a Comunidade Académica

 Localidade de uma beleza natural

Com um pouco de poesia sem estética

Acredito que todos me vão desculpar

Por ter este meu atrevimento

Mas é uma maneira de na vida estar

Espero que tenha o vosso consentimento

Talvez haja alguém que não me queira ler

A esses não levo nada a mal

Na vida nem tudo o que é, parece ser

Vou vivendo como é normal

Naturalmente o que com isto quero dizer

É que vim por algum tempo para a  minha terra

Aldeia de Videmonte que me viu nascer

Com uma beleza extrema na encosta da serra

Pertenço ao concelho da Guarda

Que também tem nomes sonantes

Da Guarda o meu amigo me tarda

Era isto que D. Sncho dizia  antes

Carolina Beatriz Ângelo, médica e feminista

Eduardo Lourenço Faria, filósofo e professor

Fernando Carvalho Rodrigues, físico e cientista

Agora mando para vós como lembrança e amor

D. José Saraiva Martins sua Eminência Cardeal

Também na Guarda a Torre dos Ferreiros e a Sé

Mais ao alto sobranceiro o castelo sempre leal

 A estátua de D. Sancho, a Praça Velha e a Casa do Bom Café

Até poderia mencionar muitos mais

Tal como Abílio Fernandes, botânico

Pedro Carvalho ator e outros que tais

Álvaro de Castro primeiro Conde de Monsanto

 A socialite senhora D. Lili Caneças

Comendadora e politica a senhora Odete Santos

Com os Egitanienses não há meças

E as judiarias lá por outros cantos

 Para terminar vou falar das praias fluviais

Temos Valhelhas e Quinta da Taberna

Aldeia Viçosa e ainda há mais

Lindas para as moças mostrarem a sua perna

E Videmonte nem é vila nem cidade

È uma aldeia pequenina, onde reina a mocidade

Tens o encanto e a beleza natural

És a aldeia mais bonita deste nosso Portugal.

Gilberto de Paiva

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 28-8-2020

 

Título: Arte Fotográfica na Pandemia

Autor: Lino Solposto

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 25-8-2020

 

 

Título: Janela da Vida

Autora: Maria Fernanda Rodrigues Martins Gomes

JANELLA DA VIDA

Cores que nascem espreitam a terra.

Lá fora o silêncio é tanto,

E o azul de primavera,

Na janela onde  olho enquanto

Uma  vida adormecida,

De um mundo que não quer cair,

Não deixa a janela dormir,

Em silêncio invadida.

E desta janela espreito,

Operários de sonhos e vida,

Que em primavera florida,

E juntos fazem perfeito.

Não é fácil e é urgente,

Trazer sonhos a mãos vazias,

E dar vida a toda a gente,

Em noites nuas d’alegrias.

A tão nobres  operários,

De hospitais sem dormir,

Que trabalham noite e dia,

Para que o mundo possa sorrir,

Em momentos tão medonhos.

E um desejo tão magoado,

Tornando os nossos sonhos,

Em silêncio acordado.

8 de Abril 2020

Maria Fernanda Martins Rod

 

 


Título: O Tempo dos Melros

Autor: Lino Solposto

O tempo dos Melros

Confinamento, parte não sei qual, podia ser o mote para retomar uma nova série com novos episódios do tema, recorrente, que todos os dias nos alerta, que se estranhou, mas agora bastante entranhado vai condicionando a nossa forma de estar, sentir e viver.

Ainda que, com mobilidade menos reduzida, continuamos inconscientemente a desconfiar de tudo e todos, e qualquer sinal por menos habitual, capaz de gerar incerteza e algum pânico. 

O outono está à porta, e aqui no Oeste os últimos dias são o sintoma de que a terceira estação do ano, pela ordem que me ensinaram, não vai tardar. Os frutos vão amadurecendo, o feijão seco já está na arca, e a rama da batata doce vai fazendo o seu caminho, enquanto o nervoso miudinho aumenta por não ver chegada a hora da vindima, pois a cada dia que passa, diminuem igualmente os bagos, e alguns cachos já foram totalmente despojados, por obra, e sem graça nenhuma, de umas aves pretas e de bico amarelo, que conhecemos por melros.

Experimentem porem-se no lugar de um vitivinicultor, gestor de mais ou menos cem videiras, sei o número exacto mas nem todas ainda dão, contar com aqueles baguinhos, que, sem incidentes não seriam muitos, e ainda ter que partilhar. Que raiva.

O espaço onde está instalada a minha vinha tem um rádio, espantalho, garrafas e garrafões espetados em canas, um catavento espanta-pardais, e esta época, quatro mochos, a última maravilha para meter medo, asseguraram-me. Têm garras afiadas, o bico pontiagudo, movimento de cabeça a qualquer leve brisa, mas estão estáticos e neste momento servem de componente estética do local. O prejuízo não foi total, além de gostar deles, nunca irão estar de baixa, muito menos organizarem-se em sindicato.

Todos os anos há perdas, maiores ou menores, só piso o que eles deixam e só recentemente entendi o porquê dos "meus colegas" do Douro, Dão, Bairrada, e alentejanos mais os cartaxenses nunca se queixarem desta praga. Só aumentando a produção minimizo o problema.

Fui procurar respostas. Estas avezinhas, espécie protegida, se confortável onde nidifica, protegida em sebes, ou árvores de folha perene, terras de cultivo, insectos em profusão, e

bagas em abundância para alimento, clima temperado, até se esquece de migrar, daí a catrefa de melros existente que me atezana nesta altura do ano. Aquele característico tché, tché, tché, irritante, deambulando por entre as cepas, ignorando olimpicamente qualquer "obstáculo" atrás referido, autoriza qualquer falta de remorso, quando na fase de aprender a voar, alguns fazem a aprendizagem à boleia, entre os dentes do Charlie, ou quando este farejando algo dentro de um arbusto, resolve, mesmo que sem mandato, embargar a obra clandestina, porque sem o seu beneplácito. Está comigo desde que desmamou, trabalha, agora menos, já faz mais pausas para dormir. Compreendo.

Nas pesquisas encontrei um poema maravilhoso de Guerra Junqueiro, e que anda à volta de um melro que deu cabo do juizo a um padre-cura, e que começa assim:

O melro, eu conheci-o:

Era negro, vibrante, luzidio,

Madrugador, jovial

Logo de manhã cedo

Começava a soltar, dentre o arvoredo, . . . . . . ( o resto, procurem ).

A minha guerra com eles, os melros, está para durar. Desistir de tentar fazer um vinhinho está fora de questão. 

Assim vai decorrendo o tempo, até que surja outro tempo, e entretanto tratemos de dar tempo ao tempo, porque como no provérbio, atrás de tempo, tempo vem.

Abraço, Lino Solposto


Título: O Lugar Onde Nasci

Autor: João Batista

O LUGAR ONDE NASCI

Nasci num bonito lugarejo chamado Vidigal, na freguesia de Estreito, concelho de Oleiros, distrito de Castelo Branco.

Da origem do nome pouco se sabe; Vidigal há muitos, o mais próximo dista cerca de quinze quilómetros, o mais distante, ou perto disso, é uma famosa favela do Rio de Janeiro. Quem sabe se a origem do nome da minha aldeia terá sido o apelido do primeiro ou primeiros povoadores do lugar!

Com a serra do Muradal ali tão perto, desenhando a linha do horizonte em todo o lado nascente e fazendo parte do Trilho Internacional dos Apalaches, a minha aldeia caminha a passos largos para a desertificação humana.

Este Trilho estende-se do norte da Europa à América do Norte, passando pela Península Ibérica e norte de África. O percurso português foi inaugurado em Março de 2015.

Com a desagregação do super continente Pangeia, ocorrida há centenas de milhões de anos, segundo a teoria da deriva dos continentes de Alfred Wegener, a zona de Vidigal, Estreito e Oleiros, até então vizinha das zonas de Nova Iorque e Boston, deixou de o ser.

Veremos por quanto tempo se mantém este afastamento, pois já se fala numa reversão, melhor dizendo, numa agregação dos continentes.

Atelier de escrita e leitura

João Batista

 

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 23-8-2020

 

Título: Arte de Renda na Pandemia

Autora: Maria Fernanda Calçada

 
 
 

 
 

 

   

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 21-8-2020

 

 

Título: Esperança

Autor: António Henriques

ESPERANÇA

São duros estes tempos que vivemos

Exigindo de nós grandes mudanças

Mas só unidos, o mal venceremos

Renovando em todos as esperanças.

O nascer e morrer é natural

Em tudo que no Mundo é ser vivente

Mas só se vencerá todo este mal

De forma cautelosa, inteligente.

Seguindo com rigor as instruções

Que são por todo a lado difundidas

Tomando as devidas precauções

Para assim se poderem salvar vidas.

Desde os primórdios da humanidade

Que todo o ser humano anda a lutar

Grande parte do tempo, na verdade

Andou seus semelhantes, a matar.

Então se uns aos outros nos matamos

Porque ficamos tão admirados

Por este vírus causar tantos danos

Se por nós, tantos foram, já causados.

E se nem na desgraça aprendemos

Que a força da união é essencial

Desunidos, batalhas perderemos

Ganhando este inimigo, no final.

Esta doença que agora grassa

E que afecta apenas os humanos

Com a união de todos, logo passa

Mas deixa, duros e pesados danos.

Mesmo com ameaça tão mortal

Pendente sobre toda a humanidade

A unidade, que era essencial

Tão pouca ela é, na realidade.

E às guerras acesas pedem pausas

P’ró novo inimigo combater

Esquecendo diferenças e as causas

Que as fizeram a todas acender.

Depois do inimigo ser vencido

E tudo ter voltado ao seu normal

As guerras não farão qualquer sentido

Tendo que se dar fim a esse mal.

Sei que o poder do vírus é imenso

Disso tenho a certeza, sem engano

Mas acredito em nós e digo e penso

Maior é o querer do ser humano.

A tempestade um dia vai passar

Soprando a doce brisa da bonança

Mas tem a humanidade que mudar

Dando ao mundo amor e esperanç

ANTÓNIO HENRIQUES

MARÇO 2020


Título: Laços de Primavera

Autora: Luísa Faria

Laços de Primavera

28 DE MARÇO DE 2050

Depois de um Inverno rigoroso, finalmente, a Primavera tinha chegado, com todo o seu esplendor.

Cerejeiras floridas, cobrem toda a paisagem com um lindo e majestoso manto branco. Em todo o pomar, a natureza revela-se de uma beleza incrível, quase angelical e surreal, em cores suaves.

Caminho, lentamente entre as veredas de erva verdejante, tendo como companheiros de percurso, coloridas borboletas e alguns pássaros. Aprecio cada momento, e mesmo devagar, no meu peito, o coração bate irregular devido ao esforço que lhe é imposto. Na mão direita, seguro a bengala, que me auxilia a equilibrar, esperando eu que ela não se engane no caminho, e que eu tropece e caia, o que seria desastroso, e ao qual a minha filha, logo diria:

- Ó Pai! Que falta de bom senso!

Devagar, finalmente chego ao meu destino. O velho banco, que construíra ainda jovem, e que se encontra debaixo da frondosa cerejeira, talvez a mais antiga do pomar.

Já sentado, acaricio, com as minhas débeis e enrugadas mãos, a inscrição gravada de modo simples, a um canto do banco, um coração com duas iniciais interlaçadas, já gastos pelo tempo e pelas intempéries, sentindo um misto de nostalgia, ternura e saudade. Em meu redor um silêncio, que não é silêncio, pois toda a natureza fala a sua própria linguagem.

No ar, impera um cheiro aromatizado e doce das flores das cerejeiras, uma leve brisa faz dançar as flores, fazendo voar pétalas, que suavemente vão caindo sobre mim, parecem pedir, que eu as segure para que não caiam no chão. Sorrio, abro e fecho os meus olhos, como se fotografasse, aquele momento, quase solene, para que fique guardado na minha memória para sempre. É como se existisse uma simbiose entre mim e a cerejeira, em que não é preciso dizer em voz alta, que é o prenúncio da nossa despedida. Pois é certamente a última Primavera que passamos juntos. Ela, a cerejeira, no seu melhor toda florida, e eu no limiar da minha longa vida.

Entre os meus devaneios, oiço ao longe a minha neta a gritar com toda a força dos seus pulmões de criança, perguntando:

- Avô, posso ir ter contigo?

- Podes. Disse-lhe, mas quando me virei já ela estava ao pé de mim!

- Leonor, se a tua mãe sabe que estamos aqui em cima, vamos os dois ficar de castigo! Disse, rindo.

- Não faz mal, avô. Respondeu, colocando carinhosamente os seus bracitos á volta do meu pescoço. Os seus olhos castanhos luminosos, iguais aos de sua avó Leonor, a minha amada esposa, realçavam o seu rosto, muito branco, mas agora um pouco mais rosado, resultante da corrida que acabara de fazer, para vir ao meu encontro. Trazia o seu longo cabelo preto, entrançado preso com uma fita de cor vermelha, a tiracolo uma pequena bolsa de onde rápidamente tira um livro, e diz:

- Avô, sabes que dia é hoje?

Como se eu não soubesse! pensei, mas ela continuou…

- Avô, hoje na escola, a minha professora ofereceu a todos os seus alunos este livro que ela diz ser muito importante, pois nele está escrito todos os acontecimentos que ocorreram no nosso país no ano de 2020, e em especial neste dia, razão por que ela o ofereceu hoje. O livro, fala de uma pandemia provocada por um vírus, muito mau que viajou por todo o mundo, inclusive o nosso país e que se chamava Covid-19, da família do Coronavirús.

Recuei ao ano de 2020…

No dia 28 de Março, partia para a eternidade a minha amada esposa. Fazendo parte dos números das estatísticas daquele negro dia, de Março, em que se ultrapassou as cem mortes em Portugal, por infecção do Coronavírus. Muitos dias de sofrimento e morte ainda estariam pela frente até o vírus ser eliminado.

Voltando a MARÇO DE 2050…

Eu tinha sobrevivido, tinha sido mais forte que o vírus, mas não tinha conseguido salvar a minha esposa.

Ainda hoje, não sabia como tínhamos ficado infectados!

Uma lágrima quis descer pelo meu rosto, mas eu não deixei. Não quero chorar à frente da minha neta. Ela ao ver o meu rosto tão sério, sorrindo diz:

- Avô; depois vamos juntos ler o livro, está bem?

Abanei a cabeça, como sinal que concordava e beijei o seu bonito rosto. Peguei em algumas pétalas das flores das cerejeiras, que ainda segurava nas mãos, e disse:

- Querida toma, coloca-as dentro do teu livro para guardares e recordares mais tarde, um pouco da Primavera deste ano. Ela abriu o livro, colocando as pétalas no seu interior e fechando-o, disse:

- Avô está guardada a Primavera, até para o ano.

JUNHO DE 2050

Leonor, subia os degraus da escada que conduzia ao quarto do avô, dois a dois para que mais rápido chegasse para mostrar a sua surpresa, uma cesta cheia de lindas, vermelhas e suculentas cerejas, que trazia para o avô, colhidas na sua cerejeira preferida. Ofegante, Leonor abriu a porta do quarto, e as suas pequenas mãos não foram fortes o suficiente para segurar a cesta, e todas as cerejas rebolaram escada abaixo.

Leonor, olhava para o lugar perto da janela onde se encontrava a cama do seu avô. Sua mãe, ajoelhada à cabeceira da cama, tinha as mãos no seu rosto, escondendo as lágrimas. Leonor logo percebeu. Chegando mais perto do avô, olhando para o seu rosto, carinhosamente disse:

- Mãe, não chores. O avô simplesmente adormeceu, mas continua acordado nos nossos corações.

Perto da cama, algumas pétalas de flor de cerejeira, estavam caídas no chão, Leonor lentamente apanhou uma a uma, colocando-as junto das outras que se encontravam no livro que o avô tinha em suas mãos, o livro que, juntos tinham lido.

28 DE MARÇO DE 2060

Uma senhora e uma bonita jovem carregando um lindo e enorme ramo de flores de cerejeira, caminham juntas, e de mãos dadas, entram no cemitério da pequena aldeia perto do Fundão, na Beira Baixa.

Tinha chegado a Primavera com todo o seu esplendor!

Luísa Faria

Abril 2020


Título: O Impacto da pandemia de COVID-19 - 2020

Autora: Maria Florença Costa

   

UNIVERSIDADE SÉNIOR DE VILA FRANCA DE XIRA

O impacto da pandemia de COVID-19 - 2020

 

Os melíficos e os benefícios da COVID-19

Os malefícios:

Perda de vidas, cerimónias fúnebres restritas, algumas sem acompanhamento de familiares e amigos.

Os profissionais de saúde estiveram na linha de frente da pandemia por amor à bata, por juramento de ética e moral em nome de vida.

Privaram-se da companhia de sua família distanciando-se para não os contaminar saindo das suas casas, do seu conforto familiar. Viveram em vários sítios como em casas particulares, hotéis e caravanas cedidas por terceiros. Algumas vezes alimentaram-se da generosidade da população.

Houve muita solidariedade com estas pessoas tão humanas, que tudo fizeram para salvar vidas.

Vestiram fatos desconfortáveis, usaram materiais de diversas espécies, utilizaram desinfetantes, com mais abundância.

Trabalhando até à exaustão, atualmente sentem-se cansados física e psicologicamente, alguns com problemas de saúde, uns foram contaminados e outros acabaram por falecer com o vírus.

A Proteção Civil, forças militares e militarizadas tiveram que entrar em Acão no combate ao vírus, os bombeiros transportaram doentes com Covid-19 para os hospitais ficando alguns contaminados, tendo que fazer a quarentena nos quarteis, encerrando-os.

A população teve que entrar em quarentena e houve necessidade de mudança no seu quotidiano.

Fecharam empresas, escolas, universidades, tiveram que trabalhar em on-line. Alguns cidadãos sofreram física e psicologicamente com a quarentena, medo da doença, morte e impotência para enfrentar a pandemia, tendo que recorrer a cuidados médicos.

As pessoas mais vulneráveis receberam muito apoio de terceiros no domicílio. Alguns jovens voluntariaram-se, levando alimentos, medicamentos e palavras de conforto a quem mais necessitou, principalmente a quem vivia só.  Muitas consultas de outras patologias, exames e cirurgias foram adiadas.

Os que foram contaminados tiveram menos qualidade de vida, alguns perderam a vida e outros ficaram com mazelas, para sempre ou não.

A maioria dos óbitos deu-se nos Lares de 3ª Idade dado o elevado nível etário dos utentes com outras patologias que os debilitaram ainda mais.

Houve desemprego, fome, tendo que recorrer ao Banco Alimentar, falta de

rendimentos para poderem pagar as suas contas e sustentar os seus, Aumentou o número de sem abrigos e a violência doméstica.

A economia teve uma queda abrupta, o comércio, a indústria e os serviços reduziram repentino e vertiginoso decréscimo a sua atividade.

A Bolsa de valores deixou de funcionar.

Os benefícios

A Pandemia trouxe grandes mudanças e comportamentos a muitos níveis.

Antes de este vírus aparecer, a humanidade falava da poluição, mas, pouco ou nada fazia para reverter a situação.

Com as empresas e as fronteiras fechadas, diminuiu o tráfego aéreo, marítimo, fluvial, rodoviário e ferroviário.

Não houve turismo, assim não houve tanto consumo, diminuindo os resíduos. Com a Pandemia e a quarentena diminuíram, as emissões de gases com efeito de estufa, a poluição, o ruido, o dióxido de azoto proveniente de centrais elétricas, o monóxido de carbono, dos veículos diminuiu substancialmente. 

Melhorou o ar, a terra, os oceanos e os rios.

O ar que respiramos é mais saudável.

A fauna e a flora respiram melhor e reproduzem-se com mais quantidade e qualidade. As águas do mar e dos rios estão mais limpas permitem aos que neles habitam viver mais saudável e a reproduzir-se em mais quantidade e qualidade.

Os nossos amigos golfinhos que habitam o Sado, deslocaram -se até ao rio Tejo para exibir o seu talento aos Lisboetas e também por haver melhores condições na qualidade das águas.

A quarentena fez com que as pessoas ficassem em casa para não contaminar e nem serem contaminadas.

Ganharam-se melhores hábitos de higiene e mais intensos, lavar as mãos, higienizar os produtos, usar desinfetantes, constituíram uma regra obrigatória.

As empresas tiveram que mudar a organização e os métodos de funcionamento, algumas delas reconverteram a sua produção em bens e produtos para a proteção e combate à pandemia.

As pessoas viviam numa azáfama e queixavam-se que não tinham tempo para nada. Neste período tiveram tempo para si próprios, puderam dar atenção aos seus cônjuges, aos seus país e acompanhar os seus filhos no crescimento, nas brincadeiras nos trabalhos da escola e ensinar a fazer lida doméstica.

Quem não sabia limpar, lavar, passar a ferro e cozinhar aprendeu até a fazer máscaras.

Trabalharam on-line, foi mais uma tarefa a desempenhar.

Assim não se enervaram no trânsito, não despenderam dinheiro em gasolina, ou andaram em transportes públicos, não perderam tempo.

Tivemos a perceção do consumo que fazemos desnecessário, havendo pessoas a viver com 1euro por dia e alguns sem nada!

A Pandemia uniu mais as pessoas tornando-as mais solidárias.

Aumentou o interesse por aparelhos eletrónicos e pelas novas tecnologias. Estas ferramentas foram muito importantes como meio de comunicação neste período. Os meios de comunicação social, os telemóveis, os telefones, os computados e as redes sociais deram uma enorme contribuição nesta situação.

Recebemos informação através da comunicação social, da OMS e da DGS, programas de sétima arte que foram muito importantes e animadores, o camião de esperança que circulou por vários locais, os padres que percorreram vários locais com as imagens santas nos andores, as missas emitidas.

Os políticos de todos os quadrantes convergiram no combate deste vírus deixando as suas divergências políticas de lado.

A OMS, a DGS e os governantes fizeram o melhor que puderam e souberam.

Ninguém sabe nada em concreto qual a composição deste vírus, para poder erradicálo.

Os que estiveram em quarentena deram um grande contributo para controlar a pandemia.

Os que tiveram que sair de casa para trabalhar foram grandes heróis.

Agradeço a estes grandes heróis que me permitiram ficar em casa, não deixando faltar nada.

A humanidade convergiu na procura da cura e vacina para combater este Corona vírus.

Maria Florença Costa

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 20-8-2020

 

Título: Arte Fotográfica na Pandemia

Autor: Eliseu Pinto

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 17-8-2020

 

 

Título: Estado de espirito

Autora: Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

ESTADO DE ESPIRITO

Perante a realidade que estamos a enfrentar, fico muito duvidosa quando oiço na TV, vezes sem conta “Vamos ficar todos bem” e “Fique em casa”.

Ora bem, quanto ao vamos ficar todos bem, falta uma palavra para completar a frase de acordo com a realidade e a palavra é mal, ou seja a frase correta é: “vamos ficar todos, bem mal”. Estou a ser pessimista, eu sei, mas não consigo ser otimista, perante tudo o que se está a passar.

Vamos ser realistas, o vírus Covid-19, apareceu, ou nasceu em laboratório, quem sou eu para afirmar como foi, mas uma coisa é certa, ele está cá e tanto no mundo cientifico, como no mundo médico, há muita coisa que não se sabe e muita coisa que se falou ou fala que se chegou à conclusão que não está correto ou que afinal aquele procedimento não é ou não era correto, ou seja, há muito para se descobrir, até se conseguir debelar o Covid-19, se é que o vamos conseguir fazer.

Mal a todos nós, o Covid-19 já fez, muito mal. São todas as pessoas que já faleceram, são as pessoas que estão nos hospitais a lutar pela vida e as que estão de quarentena em casa. 

Depois há as pessoas que tiveram até agora a sorte de não terem sido contaminadas, mas que estão confinadas em casa e esse confinamento já dura há muito tempo, sim, porque para as pessoas confinadas em casa, um dia parece uma semana, e já se começa a notar saturação e mau estar nas pessoas, até o simples ato de ir às compras, começa a ser um suplicio.

Até quando vamos aguentar isto?

Depois a outra frase, “Fique em casa”…

Ora bem, então é assim, ficamos todos em casa, e vem o Pai Natal e manda pela chaminé, o nosso meio de subsistência, ou seja, o dinheiro para podermos pelo menos, comer e pagar as nossas despesas fixas, era muito bom que fosse assim, mas o Pai Natal não existe, é puro sonho de crianças, e a realidade é muito mais cruel.

Não podemos sonhar e idealizar que vamos “todos ficar bem e vamos todos ficar em casa”.

Continuando a minha análise pessimista, estamos a sofrer com a situação da saúde pública, saúde mental, saúde monetária e com uma total insegurança em relação ao futuro e para meu espanto, já se fala novamente na “Geração à Rasca”, lembram-se? Claro que se lembram, não foi assim há tanto tempo.

Acho que esta Pandemia de tão violenta que é, será falada no futuro e ficará nos anais da História do Planeta Terra.

Bem Hajam Todos e que não venha novamente a “Geração à Rasca”, para bem de todos nós!

Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

Aluna nº 1658

26 Abril 2020


Título: Estimados colegas

Autor: Gilberto de Paiva

Estimados colegas.

Não sei a que horas ou dias vão ser lidas estas  palavras que estou a escrever, mas também não interessa isso o que importa é que quem as leia esteja bem de saúde e sua família também, e que apesar da situação que estamos a atravessar neste momento temos de todos nós acreditar que o sol vai voltar a brilhar e amanhã será outro dia.

Tenho lido muitos textos excelentes mas os da Luísa e Lino tiro-lhes o chapéu que normalmente ponho na minha cabeça.

Sem ser preciso ler o texto do Lino já me estava a lembrar da sra Lagarde com rosto da cadáver (carne dada aos vermes)  não me esquecendo do atual deputado eleito por um partido conservador, assim o chamou o presidente do Governo Espanhol,  e representante dos eleitores do distrito da Guarda. Na altura quando falou dos cabelos grisalhos eu nem queria acreditar.

Falar em casos reais é muito doloroso mas todos nós vemos e ouvimos mentes iluminadas a insinuar e alegadamente afirmar o que eventualmente pode suceder com os mais idosos. Por muito que não queiramos somos levados a acreditar. É como aquele ditado que diz, água mole em pedra dura tanto bate até que a fura.

Não é novidade para ninguém, principalmente para os mais atentos, que em Itália e em Espanha, os próprios médicos tiveram de optar e em Portugal, alegadamente, também já houve insinuações e quem sabe até intenções que estão na gaveta. Vamos ter fé que nós os de setenta e tal ainda valhamos alguma coisa talvez não nas cabeças das lagardes e outros. Para esses não lhe vou desejar o que eles pensam de nós mas gostaria de lhes dizer que o lugar que eles ocupam a nós o devem.

Vou despedir-me com desejo de boa saúde para todos com vontade de nos voltarmos a encontrar tão depressa quanto possível.

Beijos para todos à distância e até um dia

Póvoa de Santa Iria,14 de Abril de 2020-04-14

Gilberto de Paiva

 


Título: Celebrando a Primavera

Autor: António Henriques

CELEBRANDO A PRIMAVERA

Primavera colorida, celebro a tua chegada,

Vieste de sol vestida e de flores, perfumada.

És bem-vinda e desejada, neste novo recomeço,

Ansiosamente esperada, de ti nunca eu me esqueço.

Com dias de chuva e vento, alguns, sem nada mexer,

Uns serão talvez tormento, outros, um doce prazer.

Mas és o tempo das flores, e dos campos verdejantes,

Inspiração de pintores, em quadros tão fascinantes.

És canção para os cantores, és paixão para os amantes,

És também fonte de amores, em regatos murmurantes.

E poetas te louvaram, nos versos que te fizeram,

E a todos nos encantaram, nos poemas que nos deram.

 A paisagem já se altera, em explosão de verde e flores,

E foste tu Primavera, que a pintaste de mil cores.

Renova-se a Natureza e novos seres vão nascendo,

Tanto esplendor e beleza, por todo o lado se vendo.

O céu azul vai ficando, o calor já está vindo,

Os frutos vão despontando, e belas flores vão abrindo.

Os dias são mais compridos, as noites são mais amenas,

Os campos estão coloridos, de papoilas e verbenas.

Assim se renova a vida, nesta bonita estação,

És por mim a preferida, eu tenho por ti, paixão.

António Henriques

Março 2018

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 9-8-2020

 

Título: Artes na Pandemia

Autora: Fernanda Cravo

 

 

 

 
 
 
 

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 6-8-2020

 

 

Título: A Minha Janela

Autora: Luísa Faria

A MINHA JANELA

Em tempos de isolamento fiz da janela do meu quarto um portal para o mundo exterior. Os meus olhos perdem-se no verde da relva do jardim procuro no verde, o verde esperança para me dar alento para continuar nesta minha falta de liberdade. Nas árvores do jardim, as folhas dançam ao som do canto afinado dos melros, que todas as manhãs me concedem um concerto privado, com as suas melodias preferidas. Hoje a manhã despontou, envolta numa auréola de cor laranja, trazendo um radioso sol e um céu de um azul único inundando de luz a minha janela e até uma borboleta voando espreitou dando-me os bons dias.

Mas os meus olhos verdes perdem-se olhando o horizonte querendo mais.

Abro a janela, deixando o sol entrar, permitindo que acaricie a minha pele ao sentir o seu morno e suave toque, é como se recebesse aquele abraço tão desejado, carregado de saudades, e o meu coração ao sentir aquele calor fica feliz fazendo brilhar os meus olhos que por momentos fecho.

Imediatamente, esqueço a razão de não ter liberdade.

Vejo-me agora fora da minha janela, caminhando num silêncio que á muito não encontrava em mim Vejo a minha paisagem preferida, o meu sítio as minhas terras sinto a erva macia, humedecida pelo orvalho, das noites de Primavera nos meus pés descalços. Abraço as minhas árvores, ouvindo com o coração, o alegre chilrear dos pássaros que se acoitam nas altas copas das frondosas árvores centenárias oiço o murmúrio das águas puras e cristalinas correndo entre as pedrinhas gastas pelo tempo, debaixo da velhinha ponte romana, da ribeira. Vejo as borboletas não terem medo do vento, vencendo-o, para poderem beijar as flores uma a uma provo as amoras silvestres, pedindo desculpa de as colher. É a Primavera plena de liberdade na natureza onde cores e cheiros se misturam.

Finalmente respiro o ar que existe para além da minha janela. Vejo-me num mundo onde a Primavera ainda tem arco-íris sem algemas.

Pura ilusão!!!!

O cantar dos melros, trazem-me de volta à realidade à minha janela onde encontro o vazio que nos últimos tempos tenho tido como companhia. O dia passa trazendo a tarde e depois a noite depressa a escuridão envolve a minha janela. Acendo a luz, ficando no vidro da janela apenas o meu reflexo.

Deito-me na cama esperando que o sono não demore a chegar, chama-me amanhã um novo dia e com ele renasce para mim a esperança que tudo irá passar. TUDO IRÁ FICAR BEM!!!!!

Luísa FARIA

Maio 2020


Título: O Antes e o depois

Autora: Maria Fernanda T. Calçada Henriques

O antes e o depois

E a vida decorria serena, rotineira, com os pequenos problemas mais ou menos facilmente resolvidos; havia convívio, demonstrações de afetos despreocupação no modo de nos darmos com os outros…

Uma doença, desconhecida a nível planetário, acabou com aquilo que tínhamos como certo, trazendo o medo e dúvidas que tardam em ser esclarecidas.

Buscando a resiliência que cada um tem em si, temos que seguir em frente, com novos hábitos, é certo, mas a vida tem de continuar da melhor maneira possível, e, se não puder ser como antes, pois vamos viver o depois tirando partido do que temos.

Não temos aulas na Universidade? Pois vamos aderir às reuniões pelo Zoom. Não é a mesma coisa, pois não?! Não, não será, mas ainda assim, vai permitir que nos encontremos virtualmente e constatarmos que estamos prontos para abraçar os projetos que, desejo veementemente, venham a aparecer

Maria Fernanda T. Calçada Henriques

 


Título: Socorro! Acudam aos idosos

Autor: Lino Solposto

Socorro! Acudam aos idosos

Estando a maioria neste vale de lágrimas,  pela informação que vou vendo e ouvindo, em que toda a gente opina, ou tem algo para dizer, desde especialistas, mais ou menos apetrechados até aos denunciantes de actos de toda a espécie, que o senso comum ou simplesmente eles, acham não serem adequados ao momento, até aos chamados sindicalistas produzidos nas máquinas dos partidos e que encontram nos sindicatos tempos preciosos de folga e lazer, até completarem o tempo da merecidissima reforma.


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 30-7-2020

 

Título: Artes na Pandemia

Autora: Maria da Luz Rapozo

 

 

 
 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 26-7-2020

 

 

Título: Aqui existe amor

Autora: Arlette Alves de Sousa Pereira

 AQUI EXISTE AMOR

Hoje, estás tão bonita...

Vou-te…levar a jantar fora

Tens uma pele...de “miúda de agora”

Quanto mais os anos avançam

Mais, o nosso amor cresce...

Também, a família aumenta...

Há, tanto amor em nós...

Filhos e netos, nossa…prol cresce

Com muito amor e felicidade; ai, ai nós...!

Hoje, estás tão bonita...

Fazes, me lembrar...quando, eras rapariguita!

Mas, tu...estás muito bem!

A gente, gosta de se divertir...

Dar risadas, brincar...sentir

Não, temos traumas da idade...

Em nós, tudo se conjuga, é a realidade

Duas almas que nasceram...p'ra se amarem

Serem felizes e, crescerem na prosperidade...!

Hoje, estás tão bonita...

O teu olhar é, "doce" e meigo...

Fizeste, um novo penteado...

E, não é.…que é, tão do meu agrado!

Cachopa sessentona, eu me orgulho de ser teu amado!

Temos tantas histórias, vivências...

"Um mundo sem fim"...ciências...

Estamos juntos, somos eternos amantes...!

Hoje, estás tão bonita...

Teus olhos, brilham de contentamento

Não importam as rugas, são a força do tempo!

És, tão linda, tão vaidosa...

Mas eu te adoro e, te doo uma rosa

Mulher sensacional...ainda, me embriagas a voz!

Temos química e ritmamos o prazer...

Ambiciono, contigo...até ao fim, viver

Desculpa-me, se às vezes, fui um pouco indolente

Também, "um pouquinho chato", quando estou doente...!

Hoje, estás tão linda...

Puseste o teu vestido vermelho e sapatos de salto...

Sei, que é sacrifício...apenas, para me agradares

Mas, tu, também gostas de te sentires bonita...

Teu odor, é especial...tu, és incrível

Sempre, me surpreendendo...nosso amor é incondicional e nato!

Ainda, te hei-me, fazer um poema, talvez te cante um fado...!

Hoje, estás tão bonita...

Convido-te, para irmos ao cinema...

Ela- Pois é, pois é, meu amor...eu, até aceito!

Obrigada João...nós somos um par, p'ra ninguém pôr defeito!

Não, somos rezingões nem rabugentos...

Apreciamos e valorizamos a família… tentamos ajudar

Se, há divergências...tentamos saná-las

Obrigada, pela família que temos: ai, ai amar...

Nós somos, o exemplo e complemento do amor; ai, ai meu João, João, João

Ele- Margarida, amor, eu te quero muito bem; estás tão bonita, bonita, bonita..!!

 Arlette Alves De Sousa Pereira


Título: As voltas que a vida dá

Autora: Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ

Eu sou daquelas pessoas que acha que todos temos o nosso destino traçado, à nascença, não sei porquê, mas tenho essa convicção.

Durante a nossa adolescência, o período dos sonhos, em que tudo parece fácil, e que vamos realizar tudo aquilo com que sonhámos ou tudo aquilo que gostamos, vamos exercer a profissão que gostamos, vamos ter a casa que idealizámos, etc., mal nós sabemos as voltas que a vida dá…….

 Aos 52 anos fiquei desempregada, a empresa onde trabalhava entrou em insolvência e no dia 2 de Outubro de 2012, ouvi na sala de audiência do Tribunal em Lisboa, a juíza declarar a empresa insolvente e dizer: a empresa está encerrada a partir de hoje e pum, bateu com o martelo na mesa, aquele baque foi como se arrancassem algo de dentro de mim, não queria, gostava do meu trabalho, gostava dos meus colegas e amigos que todos os dias conviviam comigo.

A minha vida mudou radicalmente, de um dia para o outro, fiquei sozinha em casa, tive de aprender a gerir o meu tempo.

O dia nascia, a noite chegava, tudo acontecia normalmente, mas a minha vida mudava todos os dias.

Como nada, é tudo mau ou tudo bom, reencontrei algumas amigas que não via há muito tempo e passámos a encontrarmo-nos e a conviver quase todos os dias.

Os anos passaram, nunca mais arranjei emprego, também já não estava muito disposta a receber ordens de patrões.

Até hoje, muita coisa aconteceu, muita doença pelo meio, morte de entes queridos, mas fui sempre conseguindo dar a volta por cima.

Hoje aos 60 anos, vejo-me confinada em casa, situação algo inédita, para mim e para todos nós, mas é uma situação tão nova, tão surreal que há dias que quando acordo penso: isto foi um pesadelo, está tudo bem, veste-te, vai fazer a tua vida, beber um café com as amigas, vai ao supermercado, mas assim que chego à janela e vejo a rua deserta, não há praticamente ninguém na rua, vejo que não foi um pesadelo, mas sim, é a dura realidade.

Então pensei, vou fazer arrumações, vou ler os nãos sei quantos livros que comprei e que pensava sempre, quando estiver reformada tenho tempo para os ler todos, vou ver as séries todas que há tanto tempo ando para ver, mas tudo vai acontecendo muito lentamente, falta inspiração, falta alegria, falta motivação e acima de tudo, falta paciência. A culinária ainda é o que me dá um pouco mais de ânimo, vou fazendo pão, bolos, sobremesas, receitas novas, enfim, é no meio disto tudo, o que me dá mais alento, para passar as horas.

Não convivo com as minhas filhas desde 9 de Março, altura em que se começou a falar da gravidade do problema, falamos por vídeo chamada, vou a casa dos meus pais só em extrema necessidade e estamos a falar à distância….ao que chegámos! 

Que grande volta, deu as nossas vidas, uma volta muito traiçoeira, desgastante, arrasadora.

Eu pessoalmente não estava preparada para atravessar um momento tão constrangedor, porque além deste malvado vírus que na minha opinião alguém criou, algo que vai destruir a nossa estada no planeta Terra, tudo em prol da ambição humana e consequentemente para o confinamento que estamos a passar, mas há uma outra coisa que eu sinto, que é insegurança, incerteza, desânimo e medo do futuro.

Que vai acontecer?

Como vai acabar?

Será que vai acabar?

Vamos ter de andar de máscaras, a falar com metro e meio de distância da outra pessoa?

Vamos ter de andar a tocar em tudo com luvas?

Até medo de respirar parece que temos…

Tenho muita pena das crianças do nosso mundo, pois penso que para elas o futuro está muito complicado, ou talvez não, talvez esteja a ver tudo negro à minha frente.

Os nossos avós deixaram-nos um planeta limpo, saudável, honesto, e nós vamos deixar às crianças do seculo XXI, um planeta sujo, não muito saudável, e onde a corrupção, se implantou de uma forma transversal ao nosso mundo de hoje. Neste mundo de hoje, onde se criam vírus para destruir tudo e todos, em prol do dinheiro…pura ganância humana.

A Primavera chegou, indiferente a tudo isto, trouxe as andorinhas, os passarinhos andam felizes e entoam os seus cânticos e as flores crescem lindas e perfumadas, como se nada se passasse, não precisam de nós.

O Verão, também não sabe de nada e quando chegar o dia, ele chegará, como sempre o faz, o campo e a praia estarão lá para nós, mas se não formos, eles lá estarão felizes, porque eles não sabem de nada e não precisam de nós… E Nós, de que precisamos? 

Talvez, aprender a viver, a respeitar, não só os seres humanos, mas respeitar os animais e a nossa Mãe Natureza, porque Nós é que precisamos deles, eles não precisam de Nós.

Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

Aluna nº 1658

16 Abril 2020


Título: Brindo à vida

Autor: António Henriques

BRINDO À VIDA

Brindo à vida, erguendo a minha taça, nestes momentos difíceis que vivemos.

Brindo à vida, olhando as ruas que são tão tristes e vazias, sem ela.

Brindo à vida, tendo saudades de ver crianças a brincar nos parques e jardins, para nos aquecerem as almas com os seus sorrisos.

Brindo à vida, embora querendo mas não podendo, abraçar todos os amigos e familiares que estão em casa confinados, como eu.

Brindo à vida, conhecendo a terrível ameaça que pesa sobre toda a humanidade.

Brindo à vida, em comunhão, com todos os companheiros que perderam as suas vidas na frente da batalha.

Brindo à vida, com profunda gratidão, pela bravura daqueles soldados que estão na linha da frente do combate, também, por todos os outros que são essenciais e apoiam a rectaguarda.

Brindo à vida, mesmo sabendo que a luta é dura e difícil, mas tendo a certeza que vamos ganhar, porque o homem é maior que o seu próprio medo.

Brindo à vida, sempre que a noite me traz frios e horríveis pesadelos.

Brindo à vida, mesmo não sabendo quando a irei perder.

Brindo à vida, sem saber sequer o que o amanhã possa trazer.

Brindo à vida, embora vendo que esta, que deveria ser a melhor altura para todos estarem unidos, certos países não o querem fazer. Este é o tempo de dar e partilhar e não de dividir.

Brindo à vida, esperando que todos possam aprender com os erros cometidos e que o futuro possa ser melhor, mais justo, mais feliz.  

Brindo à vida, hoje, amanhã e sempre, erguendo a minha taça a transbordar de esperança, pedindo que todos me acompanhem neste brinde, dizendo-vos, que mesmo nas piores circunstâncias, a vida encontra sempre um caminho para prosseguir.

                       BRINDO À VIDA

ANTÓNIO HENRIQUES

MARÇO 2020


Título: O que te faz feliz

Autora: Arlette Alves de Sousa Pereira

O QUE TE FAZ FELIZ

Há tanta coisa, tanta coisa…  

Pequenos nadas, me satisfazem

Basta um olhar, um sorriso, um aceno…

Coisas simples…me dão prazer

Olhar, cheirar uma flor…

Um beijo, um abraço de amor

Uma orquídea “me olhando”, no seu simples existir…

Um olhar de criança…me sorrindo

Um grito de amor, para além da conta; ai, viver…!

Há tanta coisa, tanta coisa…

Um simples passeio à beira mar…

Um refúgio no silêncio, para meditar!

Uma canção, um beijo ao luar…

Um campo colorido, parecendo a mais linda tela…

Banhos de mar, adormecer, sonhar…    

Uma roupa nova, mesmo “a matar”

Uma ida ao cinema, teatro, jantar…

Boa cavaqueira e um belo, licor a saborear…

Pessoas bonitas, que se deixam amar…!

Há tanta coisa, tanta coisa…

Eu, quase não as sei decifrar…

Manta de retalhos, bordados a preceito…

“O chamar, d’um coração” a meu jeito

Um poema, me inebriando a alma

Gente boa, pacata…calma

Ai, meu Jesus…vós, estais na cruz

“Fruta madura” …alguém, que me seduz

Metro a metro… “alcateia de lobos ferozes”

Armadilhas da vida, querendo comer as nozes” …!

Há tanta coisa, tanta coisa…

Que eu queria eternizar…

Desde o nascer…até, um dia findar (morrer)

Coisas belas, coisas minhas…coisas

Um sonho de menina, num afago de mulher…

Beijada ao entardecer…

Nos braços do homem…que “a faz viver”

Entre “nuvens e loucuras”, mas também de pés no chão…

Rosas vermelhas, cor da paixão; ai, ai paixão…!

Há tanta coisa, tanta coisa…

Que, me apetecem dizer…coisas

Ter saúde, ter trabalho, ter amor, família e amigos!

Viajar no tempo, com todos os mais queridos

Ser feliz e dar felicidade aos demais…

Sentir-me útil, fazendo feliz alguém

“Doces palavras”, risos e lágrimas…mãe

Obrigada à vida, aos sonhos, realização…

Obrigada, obrigada Senhor: sou feliz, sou feliz, feliz…!!!!

Arlette Alves De Sousa Pereira


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 15-7-2020

 

Título: Pinturas em Tela

Autora: Aida Matos

 

 

 

 

 
 
 
 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 13-7-2020

 

Título: O Que Me Faz Feliz

Autor: Eliseu Pinto "O Gralha"

O QUE ME FAZ FELIZ

É, o deslumbre de petiz

Correndo atrás de borboletas

Com que me envolvo

Nas cores da primavera

Deixando as obsoletas

E dogmáticas cartilhas

Como suportes da prateleira

Onde poiso, o vaso das maravilhas.

Pois, quer se queira, ou não queira

O mundo vai sempre rodando

Ainda, que por vezes, recuando.

O que me faz feliz

É sair, do não crer, acreditando

E libertar-me da capsula do tempo

Planando no céu, dum lindo sorriso

Escutando o eco, do “grito do Ipiranga”

Propagando-se pelas quebradas

E sentir-me aconchegado, pelas fadas

Que me envolvem nos seus véus

E me levam, pelos caminhos do bosque.

E agora mais terra a terra, digo:

O que me faz feliz

É colher limões.

Sim, colher limões

E olhar, a bela fruta, como a tosões

Não de ouro; mas, de saúde.

E também me faz muito feliz

A alegre reunião anual

Da família, em minha casa

No dia de Natal.

O que me faz feliz

É estar com amigos a petiscar

Beber uns copos, cantar

E porque não, dizer umas parvoíces.

E animar os mais idosos, que estão nos lares

Com poemas e cantares

E receber, a ambicionada paga de sorrisos.

O que me faz feliz

É ver que há jovens a crescer

Já tão, ou mais adultos, que os adultos

Conscientes

De que o planeta terra, precisa de humanos

Responsáveis e inteligentes.

O que me faz feliz

É ter, a alegria de poder

Estar feliz, porque a vida

Me convida a viver.

Eliseu Pinto  “ O Gralha “  02-03-20


Título: O Que Me Faz Feliz

Autor: Gilberto de Paiva

O QUE ME FAZ FELIZ

Só o título da epístola sobre o qual eu vou escrever já me faz feliz. A palavra feliz está associada à felicidade, por isso, quando se é feliz é sinal que há felicidade sendo assim são da mesma família e para se ser feliz tem de haver motivos para se procurar a felicidade.

Falando de mim próprio, faz-me feliz ao lembrar-me do meu passado quando era ainda muito jovem. Provavelmente há de haver alguém no local onde se vão ler estas duas páginas, e digo isto porque pode haver mudança de sala, que já leu algo sobre mim quando eu não era feliz.

 Ora aqui está faz-me feliz lembrar o que passei quando nem sequer tinha onde dormir e agora ter uma casinha para mim e minha mulher, a Rosa, onde foi criado e educado o nosso filho saindo de casa para a vida tal e qual como os passarinhos quando deixam os ninhos que os seus progenitores construíram para ali se criarem e aprenderem a voar.

Faz-me feliz na hora em que os meus netos me encontram ou me vão visitar, por agora acompanhados dos pais, e que, na minha maneira de ver estão a ser educados, não exatamente como a Rosa e eu educámos o Paulo mas ele e a Anabela fazem os possíveis para lhe incutir no espirito de que têm de respeitar os seus semelhantes a fim de eles serem respeitados também, mas nunca deixando que alguém os humilhe.

Faz-me feliz viver a vida intensamente apreciar o que há de belo e a beleza que a vida nos dá desde ver as serras, a água a correr pelo seu leito, as bonitas paisagens principalmente na primavera quando os campos estão floridos enfim uma infindável maneira de ver, ter amigos, daqueles do peito, aqueles que eu escolho, sim porque eu escolho-os, embora se diga que os nossos amigos outros amigos têm, mas também se diz que quem não arrisca não petisca. Apesar do que atrás disse vale a pena ter amigos para que tenhamos um pouquinho de vida social a não ser que estejamos nesta vida por ver a estar os outros.

Faz-me feliz lembrar e dizer por onde ando que fiz parte dos Órgãos Sociais da ARIPSi, Associação de Reformados e Idosos da Póvoa de Santa Iria, como voluntário durante dez anos, primeiro como vogal da direção depois como secretário e mais tarde como vice-presidente. É sempre agradável darmos algo de nós para bem da sociedade foi o que eu fiz não o digo com vaidade mas sim com um bocadinho de orgulho de dever cumprido.

Como sou humano faz-me feliz pensar também nos outros, naqueles que não têm um teto, nos que são abandonados pelos seus parentes mais próximos, nos que por vezes nem direito a uma sopa quente têm e que os nossos governantes por muito que prometam esquecem-se facilmente disso. Para fundamentar esta afirmação que escrevi neste parágrafo lembrei-me do que se está a passar com a migração na Europa. Parece uma contradição, mas o que eu quero dizer é que há uma antítese entre ser feliz e ver tristeza nos que atrás falei apoiada num sentimento profundo.

Faz-me feliz ter uma mulher que me ama e que eu amo ao mesmo tempo. Uma esposa que gosta de me ver bem, que gosta que eu me apresente devidamente perante os que me rodeiam e com as pessoas com quem contato. É bom ter alguém que gosta de me ver bem e isso faz-me feliz saber que há cumplicidade entre nós.

Faz-me feliz saber que lido e confraternizo com muitas mulheres e que fazem plena confiança em mim. Por exemplo tenho uma garagem que dista seiscentos metros da minha residência, local onde eu guardo o meu carro, e por isso passo muitas vezes por baixo das janelas de algumas dessas senhoras e são elas que me dão a salvação dizendo bons dias ou boas tardes Sr. Paiva consoante as horas que ali passo ou quando estava na ARIPSI e transportava as utentes ou o grupo coral e teatral da instituição enquanto alguns homens riam e troçavam dizendo como eu ouvi várias ocasiões, lá vai o Paiva com as sua virgindade, é lógico, que era um ato de gozo, ao mesmo tempo que me faz feliz dizer que não rompo as calças nos bancos dos jardins.

Todos nós, incluindo-me a mim próprio, podemos ser felizes cada um à sua maneira nem é preciso haver muita exuberância. Basta que sejamos nós mesmos, que utilizemos um léxico humilde, para transmitirmos o que nos vai na alma, aos que nos rodeiam e com os que lidamos.

Para terminar, faz-me feliz saber que a Igreja da aldeia onde eu nasci e vivi até os meus vinte anos, vai passar a ser uma aldeia histórica de Portugal e porquê? Porque recentemente a Direção Geral do Património Cultural abriu o procedimento de classificação da Igreja Paroquial de Videmonte concelho da Guarda. Na proposta a D. G. P.C. Explica que o templo está localizado na praça central rodeado por alguns dos principais edifícios da povoação, nomeadamente, a casa paroquial e a junta de freguesia. Trata-se de um templo de uma só nave de planta em cruz latina construída em estilo barroco. No exterior apresenta a fachada principal rebocada e pintada terminada em cornija recortada à laia de frontão curvo e ondulado coroado por cruz latina de cantaria. O interior entre outros elementos destaca-se a abobada principal em madeira, pintura em tábua e tela que reproduz a obra de Murillo. Recentemente foi descoberta uma pintura mural no altar das almas consagrado a S. Francisco de Assis.

Ao escrever esta passagem, quem me conhece e sabe de onde eu venho, pode parecer uma contradição, olhando ao que lá passei, mas os tempos mudaram e recordar é sempre bom.

Resumindo e concluindo. Faz-me feliz ser quem sou, preciso, conciso sem que para isso tenha de ser erudito.

Póvoa de Santa Iria,07 de Março de 2020

Gilberto de Paiva


Título: O que me faz (ou fez!..) feliz

Autor: Emílio Duarte

O que me faz (ou fez!..) feliz.

Quando era miúdo e mais tarde, já rapaz, era feliz sempre que podia frequentar a biblioteca pública do bairro onde residia. Era lá que me sentia “enorme” a folhear jornais, revistas e livros que me ajudaram a crescer.

Quando jovem, sentia-me feliz e hoje recordo com alguma saudade, os bailes numa colectividade popular de bairro onde juntamente com amigos, ensaiámos e praticámos os primeiros namoros.

As praias, o mar, foram desde muito novo, o meu porto de abrigo. Começava cedo o meu verão, logo por volta de Abril. Acampávamos nesses dias e só findávamos no final de Setembro. Eram fins-de-semana e férias no local sagrado. 

Normalmente estamos felizes, mas poucas são as pessoas que estão-são felizes. De facto, existem diferenças entre as duas condições.

Estar feliz é um momento efémero em que vivemos, após solucionarmos um problema que nos tirou grande parte do nosso sossego.

Para sermos feliz só precisamos aproveitar o que temos.

É inevitável que este meu pensamento passe por referir alguns aspectos que desde logo me preocupam e levam a reflectir, como o farei a seguir:

A vida de uma pessoa sem condições minímas para sobreviver na Índia, no Bangladesh, em África, ou ainda, habitantes em campos de refugiados, estão felizes?

Mais, estar feliz é viver permanentemente na miséria em bairros de lata, passar fome, ter doenças sem assistência médica ou social, sem habitação condigna, pergunta-se?

Tais faltas de condições, fazem alguns seres humanos felizes, volto a perguntar?

No entanto e indo ao encontro do tema, que nos é proposto, o que me faz feliz é estar com a família, não estar doente, ter e ver amigos, ler, escrever, ver chover estando á janela, apanhar sol, ver concertos de música, viajar e tantas outras coisas…

Sou feliz quando tenho por perto o meu filho e os meus netos. Infelizmente a angústia de muitos de nós, pela ausência forçada ou necessária, motivada por uma vida melhor dos nossos rebentos, limita-nos essa felicidade.

Fui feliz e continuo a ser com o crescimento do meu filho e mais tarde dos netos. Quando tenho oportunidade, assisto aos treinos e jogos do meu neto mais velho e vou passear e levo à escola, a irmã. O problema é só um: a distância que nos separa…

Apesar de falarmos do nosso presente “ o que nos faz feliz”, as viagens em trabalho tornaram-me feliz porque me ensinaram estratégias e aprendizagens que me foram úteis na vida profissional passada. Por esse motivo, também fui feliz a trabalhar.

Porém e de volta ao presente, existem situações na vida em que não estamos felizes, muito pelo contrário ficamos triste, com agonia, magoados e de certa forma a chorar. No entanto no nosso interior existe uma felicidade tamanha e uma crença que esse “mal” seja passageiro. 

Uma pessoa pode estar feliz, mas não necessariamente alegre. Há pessoas que vivem a sorrir, parecem contentes, mas mesmo assim não se consideram felizes. Por isso, sejam felizes!

Emílio Duarte

9-2-2020


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 10-7-2020

 

Título: Artes na Pandemia

Autora: Inês Martins

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 8-7-2020

 

Título: Como Surgiu o Víros Mundial

Autora : Maria José Domingos

Como surgiu o vírus Mundial

Estava a passar a ferro quando me surgiu uma luz, e assim vou partilha-la convosco.

Como surgiu o vírus Mundial?

Eram 5 horas de uma manhã quente,  pois naquela época em Deli, os termómetros raramente baixavam dos 42 graus Celcius, e por isso uma mulher jovem já nadava na piscina do hotel.

Fazia-o sempre que tal acontecia, pois só àquela hora podia nadar na piscina do hotel,  ainda não havia ni ninguém,  e não o podia fazer quando outros estivessem presentes.

Entregava-se ao ligeiro fresco da água, quando sentiu um ligeiro ondular na piscina, e não havia vento. Todo o seu corpo ficou alerta, parou de nadar, Olhou em volta e viu-o.

Assustou-se e saiu imediatamente da água, apesar de estar vestida do pescoço aos pés, sentia-se nua, e correu para a toalha que pousara na espreguiçadeira.

Enrolou-se completamente, e pegou no vestido comprido.

Mas, para seu espanto pousado no vestido, estava um gracioso ramo de miosótis.

Lindo, perfumado, com as pequenas flores ainda quase todas fechadas, que fazer? Como tinha ido ali parar? Teria sido o seu companheiro de piscina?

Olhou discretamente, e viu que quem nadava descontraidamente era um homem ocidental, talvez americano ou inglês, poderia ser um europeu em negócios de meia-idade, teria 60 anos?

Tinha dificuldade em calcular a idade de outros seres que não os indianos.

Agarrou no pequeno ramo e aspirou o seu perfume único, nunca ninguém lhe tinha oferecido uma flor, e agora tinha ali um raminho das suas flores preferidas, que fazer?  Levá-lo?  E depois? Teria que o esconder, pois não acertaria nas justificações.

A tentação era grande, aspirou novamente o perfume, ainda a pensar.

Mas, dentro de uma flor do pequeno ramo, uma figura invisível saltitava e gritava, podia dizer-se que "berrava a plenos pulmões ", leva-me.  E estava a ficar assustado com a indecisão da jovem mulher. E com uma jogada de mestre, pulou com mais força para que a flor ao seu lado se abrisse ligeiramente e soltasse mais um pouco o seu aroma.

Assim aconteceu.

O raminho instalou-se tranquilo no bolso do vestido largo.

Foi para o quarto, fez as malas e preparou-se para partir com o seu esposo para mais uma viagem por vários países.

Primeira paragem uma grande cidade na China, nem sabia o nome.

Verificou as flores que tinha guardado num saquinho leve de algodão, estavam mais abertas, e deixou-as um pouco na casa de banho de outro hotel para saciarem a sede.

Ali ficaram uns dias, podia nadar na piscina a horas mais tardias e apreciava os passeios que fazia no parque perto, onde muitos residentes, alguns já de certa idade vinham todos os dias fazer a sua ginástica matinal, e trazer a sua ave para confraternizar com as outras.

E, chegou o dia de abalar para outras paragens, iria um pouco mais longe, Passaria pelo Irão, depois iriam uns dias para Itália, país que lhe provocava muito desconforto e ansiedade, pois pelo que tinha lido era muito diferente do seu.

E o pequeno ser que estava na flor?

Pois esse pequeno ser saltou para a mão do funcionário do primeiro hotel, lá na China e depois para o seu companheiro de transporte público, mas como atrevido e mauzinho que é, deixou de estar sozinho, arranjou um exército e começou o seu ataque a todos o que apanhava desprevenidos.

E assim o vírus ia passando de mão em mão, contente e feliz, ria e continuava saltitando na corrente de ar que paira sobre todos os seres Humanos.

Mas também podemos incluir outros seres.

19 Março de 2020

Maria José Domingos


 

Título: Esperança

Autora: Luísa Faria

Esperança

Envolvi-me num manto de Esperança, protegendo-me do Medo, mas não fui rápida o suficiente e, ele o Medo, aprisionou-me. Nas minhas mãos, seguro um pequeno fragmento, que ele não roubou de mim. Agora sozinha, caminho numa estrada, submersa por uma húmida e densa neblina.

Com os meus passos cadenciados, um depois do outro, cada vez mais rápidos. O meu coração bate descontrolado, quebrando o silêncio calado, acordando os pássaros, abrigados nas frondosas árvores da estrada. Um cheiro a terra molhada paira no ar.

Caminho, por um caminho, que sinto, incerto.

No Mundo, falta a Esperança e o tempo escasseia. E, eu sinto em mim o peso do Mundo.

Atravesso a densa neblina, raios de sol acariciam o meu rosto e aquecem o meu coração.

Parado à beira da estrada, uma figura que já conheço, espera por mim.

Uma figura bastante magra, de longos cabelos e barba brancos e de olhos azuis, tendo no seu rosto, uma expressão de pura serenidade. Veste a mesma túnica de sempre, simples, com uma faixa de cor azul celeste, até aos pés, que continuam descalços.

Tudo em mim mudou. O meu corpo, envolvido em algo muito suave e transparente, flutua numa tranquilidade, sem medo.  

Ele, continua parado e olhando para mim com um olhar de conciliação, pergunta:

- O que procuras desta vez, Luísa?

- SENHOR, peço e imploro a Vossa ajuda, para salvar o Mundo, que se está a desmoronar. Respondi. Ao qual, Ele, com a sua melodiosa voz, respondeu:

- Não achas que é pedir muito, Luísa?

- Sim, SENHOR. Sei que é pedir muito, mas o Mundo precisa de salvação,

 SENHOR. Respondi.

- O que ofereces em troca de tão altíssimo favor?

Eu respondi com toda a minha humildade.

- SENHOR, nada mais me resta senão o Medo que roubou toda a minha Esperança. Ao pronunciar, Esperança a, minha mão iluminou-se, deixando sair do pequeno fragmento, que eu ainda segurava na mão, um brilho de luz intenso.

ELE, ao visualizar aquele intenso brilho, serenamente, diz:

- Luísa, ainda tens tempo. Tens a chave, que precisas para abrir a porta certa. O tempo urge, coloca-a na fechadura e entra.

Sem medo e muito serena, entrei. Um Mundo novo esperava por mim.

Pequenos seres luminosos de asas transparentes, moviam-se a uma velocidade, difícil de acompanhar com os meus olhos.

Depressa fiquei cercada por uma imensa luz, e um dos pequenos seres, voando até mim, diz:

- Toma Luísa. Entregando-me um pote cheio de pequenos pontos luminosos.

Está tudo preparado, Luísa. Depressa, vai salvar o Mundo!    

- Obrigada, ainda disse, mas já todos tinham desaparecido.

Abri os olhos…e uma lágrima desceu pelo meu rosto.

Doeu perceber, que, o sonho que tinha sonhado, não exista.

O Mundo continua num grande e aterrador Silêncio e Sofrimento e precisa de ESPERANÇA para a incerteza dos dias que todos estamos a viver.

O MUNDO PRECISA DE TODA A NOSSA AJUDA.

Luísa FARIA

Março 2020


 

Título: Porque Insistem

Autor: António Henriques

PORQUE INSISTEM

Olhei o mar forte e impetuoso.

Ao contemplar esse imenso azul, chorei. Chorei lágrimas salgadas e azuis como as suas águas. Mergulhei na imensidão que me abraçava, perdi a noção do tempo e do espaço, era um prateado peixe nadando ao sabor da corrente, viver, apenas viver, era o mais importante.

Fui até ao campo. Deitei-me num prado rodeado de flores, multicores.

Meu corpo aos poucos foi-se diluindo, passou a ser composto pelo mundo vegetal que o cercava. Senti insectos que zumbiam há minha volta, o sol que me aquecia e o suave afago do vento, envolto em doces aromas, serenamente, adormeci.

Dirigi-me à floresta. Deixei-me envolver pelo verde profundo do arvoredo.

Minhas pernas lançaram raízes na terra. Meu corpo cresceu, cresceu, rumo ao Céu. Abri os braços e as mãos, deles brotaram ramos e folhas. As aves vieram e pousaram em mim, embalando-me, com seus belos trinados e cantos. Era um gigante, tal como outros, preso ao chão, mas feliz.

Subi ao pico mais alto, da serra mais alta. Senti-me a flutuar, era um floco de neve caíndo, que, junto com outros, íamos formando o imenso manto branco que a cobria. Branco, cor da pureza. Senti-me em paz.

Mas sabia, sabia que tinha que voltar à cidade dos homens. Esse lugar cinzento e triste, apenas alguns oásis verdes, espalhados ao acaso, lhe davam alguma cor. Onde o desespero e a dor tomavam de assalto a vida.Onde a pobreza e a miséria calhavam sempre aos mesmos. Onde as desigualdades eram gritantes e a corrupção imensa.

Também a violência se fazia sentir, quase sempre, contra os mais fracos e indefesos.

Homens, esses ingénuos fabricantes de sonhos. Orgulhosos proprietários de ilusões. Engenhosos artífices do mal. Sómente a ganância e o lucro a qualquer preço, os move.

Homem, o próprio lobo do homem, o seu mais obstinado algoz.

Se a morte em todos é certeza, se existem cores tão belas na Natureza, porque insistem, porque insistem os homens,

Em pintar a vida de negro!

António Henriques

Abril 2019

 

 


Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 6-7-2020

 

Título: Pinturas

Autora: Carmelinda Fernandes

 

 

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Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 1-7-2020

 

Título: O QUE ME FEZ E FAZ FELIZ

Autora: Maria Fernanda Calçada

O QUE ME FEZ E FAZ FELIZ

Dizem que a felicidade está onde cada um a põe. Ser ou estar feliz, em termos simples, poderá definir-se por Estar bem com a vida. E eu estou bem com a minha; talvez com alguma presunção, acho que sou merecedora do que tenho, e não quero desistir de ser feliz. Falar sobre este tema, leva-me inevitavelmente a um relato intimista. Na vida há ganhos e perdas e eu, como todos, aliás, tive ambos; vi partir pais, parentes, amigos., e como era de calcular não fui feliz nesses tempos. Mas fui feliz na minha infância, fui e sou feliz no casamento, fui feliz no nascimento dos filhos e muito mais tarde dos netos. Tenho a felicidade de ter dois filhos maravilhosos, que nunca me deram desgostos, e estão sempre presentes quando necessários

Recordo bem os dias felizes de quando senti os primeiros movimentos, dos meus bebés na barriga, dos seus nascimentos, das primeiras palavras que balbuciaram, dos primeiros passos, a aventura do primeiro dia de aula…recordo que fui feliz quando íamos de armas e bagagens para o mês de férias na praia, primeiro na Nazaré e depois na Ericeira. Agora, vejo que era uma canseira para mim, mas na altura que feliz que eu andava! Como sempre gostei de viajar, recordo os dias felizes quando, num cruzeiro visitei os fiordes na Noruega; quando na ilha grega de Santorini, num grande grupo, subi encavalitada num burrito (coitado do bicho.) até à sua capital, Fira; também estava feliz quando de gôndola conheci os canais de Veneza, e tantos sítios mais que não enumero, por ficar fastidioso.

Mas também fui feliz, e ainda o fico quando, em família, fazemos piqueniques no campo, atividade que praticamos com frequência. Sinto-me feliz quando por vezes estou em frente de um mar lindo, com ondas mansas, em dias de sol; sinto-me em paz. São pequenas coisas, mas com grande significado para mim. Fui muito feliz quando o meu filho mais velho se casou, e também muito emocionada, pois foi o primeiro “pintainho” a deixar o ninho… Fiquei feliz, anos volvidos, quando, depois de atravessar  um divórcio com duas crianças pelo meio, refez a sua vida, com uma companheira que lhe proporciona uma vida plena e harmoniosa. Quando foi a vez da filha, fiquei feliz, mas, à mistura com o sentimento da perda, visto a casa ficar ainda mais vazia. Fico feliz por verificar que eduquei (melhor dizendo, educámos,) os filhos, de molde a que hoje sejam pessoas integras e realizadas; fico feliz, ao ver que eles próprios estão formando os filhos nos mesmos valores; acho que cumprimos bem o nosso dever. Fico feliz ao ter consciência de que fui, e ainda sou a retaguarda dos filhos, sempre que necessário. Fui muito feliz quando ajudei a criar os meus netos, cuidando deles, até ingressarem nas creches ou infantários. Fiquei feliz, quando, depois de tempos de ansiedade e sofrimento, algumas doenças preocupantes foram superadas com sucesso. E fico feliz, quando a minha filha requer a minha opinião e conselho; pois não é para ficar feliz, quando ela ao pretender escolher uma qualquer peça de roupa, me leva com ela, e diz:

-Mãe, olha para mim e diz-me se esta cor fica bem com a minha cara! Quero saber a tua opinião! Fiquei feliz com o nascimento dos meus 3 netos lindos (gostava de ter uma neta, mas não calhou …) e já agora ficaria muito feliz de viver mais uns anitos para o neto maior me dar um bisneto, (adorava ser bisavó,) ver o Tim tirar o brevet de piloto que tanto deseja e o mais novo ainda sem projeto bem definido continuar a ter as boas notas de agora e tirar o seu curso.

Fico feliz nas festas de Natal quando somos 13, sem superstições, nos reunimos alegremente à mesa, e a seguir trocamos prendas! Gosto imenso da agitação própria dos preparativos para a ceia de Natal, e até me atrevo a fazer o bolo-rei. Mais uma coisa que me deixa feliz: quando aqui na Universidade adquiro mais conhecimentos; dá-me estímulo para continuar; por exemplo agora fico feliz comigo mesma, de cada vez que, com a ajuda da minha professora vou desvendando os mistérios do WORD!!!

26-02-2020

Maria Fernanda Calçada


 

Título: Momentos de mim

Autora: Maria Fernanda Martins Rodrigues Gomes

MOMENTOS DE MIM

Sentada à beira-mar,

Escrevo devagarinho,

Meu nome na areia molhada,

Em que a onda vem e apaga,

Onde abraço com carinho,

E falo com ela baixinho,

Em tom de gargalhada

Dos meus olhos de menina.

 Dos meus dedos que me guiam,

Ouvidos que olham o céu,

Riscos de espuma que escrevo eu,

Em arco-íris vestido de cores,

E todos os astros alumiam,

Este oceano de amores.

O sol quer-me beijar,

O vento toca de mansinho,

Trazendo gotas de mar,

E veste-me devagarinho,

De algas, conchas e limo!

É esta música que me acalma,

Com o mar em forma de dança,

Escrevendo felicidade,

Em letras verdes de esperança!

8 de Março 2020

Maria Fernanda Martins Rodrigues Gomes


 

Título: Às voltas coma felicidade

Autor: João Batista

Às voltas com a felicidade

O que me faz feliz é a ausência de dor! Sim, a minha e a dos outros - aqueles que amo e estimo - seja ela dor física ou espiritual.

O que me faz feliz? A persistência da dúvida, a persistência da pesquisa pelo princípio das coisas, pelo princípio do universo.

Também me traz felicidade a descida do número de casos de covid 19, agora que, segundo os especialistas na matéria, ultrapassado o pico, caminhamos para o domínio da situação, ainda que muito longe de a debelar, o que certamente só acontecerá com a vacina.

Quando falamos de felicidade – o sentimento experimentado por quem está feliz – em regra, somos levados a pensar no sorriso e no riso, na alegria e na euforia.

Mas, se nem sempre choro quando atingido pela dor, porque hei-de sempre rir quando ela está ausente? Posso estar sério e meditabundo e, no entanto, estar feliz.

Ténue, muito ténue, pode ser a fronteira entre o estar feliz e não o estar.

A esta fronteira há quem chame ataraxia. Curiosamente, rima com alegria e euforia, parecendo estar mais do lado destas do que do lado da dor; mas isto já é poetar, deixo isso para quem sabe, os poetas.

Na verdade, felicidade rima com serenidade e tranquilidade. Faço jus a essa rima e continuo neste estado de quietude, enquanto me deixarem, porque o mundo vai adiante e interpela-me. Sempre.

João Batista

Atelier de escrita e leitura

24-04-2020


 

Atelier de Escrita e Leitura Publicado a 26-6-2020

 
 

Título: O QUE ME FAZ FELIZ

Autor: António Fernando Roqueiro Ramalho

O QUE ME FAZ FELIZ

Tudo me faz feliz!

O conceito de felicidade é pessoal e subjectivo, eu não fujo à regra!

Em primeiro lugar se estivermos felizes connosco próprios e se por empatia conseguirmos transmitir esse estado de felicidade ao próximo por actos ou atitudes, tanto melhor, não é uma atitude utópica!

Tive uma infância saudável e feliz num meio rural despoluído e recheado de mentes simples mas encantadoras envolvidas no trabalho árduo do campo, mas sempre cantando lindas canções!

Uma adolescência recheada de felicidade na família com pais, avós e bisavós, na escola na companhia de colegas e professores, que ainda hoje nos reunimos anualmente, com actividades nas férias que me enriqueceram e descobriram outros Mundos.

Amores e desamores de estudante, próprios da idade e das circunstâncias, o twist era o tema em voga numa época que nos encheu de felicidade!

Vindo da aldeia para a capital não foi um choque nem um salto para o desconhecido mas sim uma sensação com um misto de liberdade, grandeza e deslumbramento pela abundante oferta de escolas e condições para trabalhar, divertimento e bem-estar, uma felicidade!

O primeiro emprego, o primeiro ordenado, as primeiras férias remuneradas, o reconhecimento do nosso trabalho foram momentos de enorme felicidade.

O trabalho em equipa, o contacto com o estrangeiro, as novas tecnologias conseguiram contribuir e concretizar algumas das nossas ambições, tornando mais feliz a nossa existência.

O serviço militar em teatro de guerra não me coibiu de ser feliz e proporcionar aos outros que estavam por perto desfrutar de momentos de intensa convivência e felicidade.

Tive uma madrinha de guerra norte-americana, que loucura à época, mas que felicidade ir até àquelas paragens e ser correspondido!

Ter constituído uma família, ter sido pai é um sentimento de felicidade que extravasa o perímetro do legado que os nossos pais, avós e bisavós nos deixaram, foi duma grandeza que se consolidou ao longo dos anos.

Passamos a ser sentinelas atentas a todos os movimentos nas mais variadas vertentes tendo a responsabilidade de intensificar e garantir uma confiança sólida àqueles que trouxemos ao Mundo.

Ser avô é fortalecer e consolidar essa felicidade com uma responsabilidade acrescida e mais abrangente já que temos que ser sentinelas e guias com múltiplas funções para seres sensíveis com personalidades distintas que nos absorvem e provocam uma enorme e insubstituível alegria.

Nisto chegou o dia da reforma e simultaneamente chegou também o voluntariado facto que nos obriga a conviver com realidades, cumprindo tarefas que desconhecíamos, não sabíamos realmente da sua existência, ir a sítios distantes das mais elementares condições de bem-estar mas que nos abrem as portas para um Mundo ávido de felicidade tentando contrariar esse desígnio.

Ao mesmo tempo vem a US, projecto de incontornável e feliz iniciativa que conseguiu congregar as mais variadas personalidades, carácteres e saberes motivando e proporcionando a todos nele inserido um são convívio e partilha de conhecimentos onde todos se devem sentir e fazer os outros felizes com qualidade!

Não percamos a oportunidade de aproveitar e desfrutar a vida com felicidade!

António Fernando Rouqueiro Ramalho


 

Título: SER FELIZ

Autora: Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

SER FELIZ

Sempre gostei muito de ler e escrever, é algo que me faz sentir feliz, calma, tranquila…

Ler, com mais ou menos regularidade ainda o faço, mas escrever, já há uns anos que não o faço, não por não querer, mas devido a toda a azáfama e preocupações do dia-a-dia e talvez por falta de motivação.

Perante o desafio que me fizeram para integrar este grupo de leitura e escrita, o qual agradeço muito, tive motivação e incentivo, para voltar a escrever.

Desde que me lembro de existir que sempre me senti feliz com as pequenas coisas do diaa-dia, nunca fui de grandes exigências.

Na minha infância, adorava brincar na rua, andar de trotineta, bicicleta, saltar à corda, andar de carroça, sentia-me extremamente feliz quando ia esperar por um vizinho da rua que tinha uma carroça, subia e lá ia sentada numa rude tábua de madeira cheia de lascas, toda feliz ao lado dele.

Fui crescendo e a minha felicidade passava por ter amigos, estudar e passar de ano, ir de férias para a praia, a única regalia que tive, pois os meus pais tinham as suas dificuldades e naquela época a frase era: tem de se poupar para uma doença, pelo que também não podia pedir muito.

Festas de aniversário, mascarar-me no Carnaval, visitas de estudo, viagens de finalistas, coisas que os meus amigos faziam, não tive nada disso, não havia dinheiro…mas eu era feliz!

Fazia-me muito feliz, ir buscar livros à carrinha da Gulbenkian que passava regularmente e posteriormente, fiz-me sócia do Círculo de Leitores e a parca mesada que o meu pai me dava, era cuidadosamente gerida para poder comprar livros.

Pode parecer tristonho, mas isso fazia-me muito, muito feliz. 

E eis que cheguei à idade adulta, comecei a namorar, casei e o dia do meu casamento foi um dos dias mais felizes da minha vida e que me tem feito feliz até hoje, por todos os momentos a dois ou até pelo simples momento de olhar para uma das inúmeras fotos daquele dia, espalhadas pela casa e recordar…porque recordar faz-me feliz e dá-me força e alento para superar os momentos menos bons.

Tenho duas adoradas filhas, e tenho sido imensamente feliz, todos os dias em que elas também estão felizes. 

Fez-me feliz, os seus sorrisos, a primeira vez que me chamaram de mãe, os primeiros passos, o primeiro dia de escola, etc.

Fazia-me muito feliz, ler um livro na cama com elas, antes de adormecerem, era um momento de felicidade, do qual elas não abdicavam.

Ver as minhas filhas crescer, fez-me muito feliz.

Fez-me feliz, as viagens que fiz, as férias na praia em família, as festas de anos das minhas filhas, mascara-las no Carnaval, poder partilhar as suas alegrias e ampará-las nas suas tristezas.

Sempre adorei animais, nunca pude ter, os meus pais não deixavam e assim quando pude ter o meu primeiro gato, senti uma felicidade imensa, era uma companhia que eu tanto precisava, foi das poucas coisas na minha vida, que exigi. 

Chegar a casa e estarem os dois à minha espera atrás da porta, roçarem-se nas minha pernas, é sempre um momento feliz.

Adoro, quando os meus dois felinos vão para o meu colo, sentir o calor que emanam e a tranquilidade da sua respiração que é algo que me acalma e tranquiliza. 

E hoje, com 60 anos, continuo a não exigir muito, faz-me feliz ter ao meu lado o meu companheiro, de quase 40 anos, meu porto de abrigo, darmos um simples passeio de mão dada à beira do rio, à beira do mar, um jantar a dois, um almoço com a família.

Relembro sempre com felicidade, sentada no meu escritório, olhando a parede cheia de fotografias, de toda uma vida passada a dois e de momentos muito felizes com as nossas filhas.

Espero ainda ter mais algum tempinho para ser feliz, especialmente com o meu companheiro, com saúde e muita vontade para viver, sorrir e amar, junto de todos os que gostam de estar junto de mim.

Maria do Carmo Roldão Fernandes Nunes

Aluna nº 1658


 

Título: O QUE ME FAZ FELIZ

Autor: Lino Solposto

“O QUE ME FAZ FELIZ”

Quando respeito e sou respeitado,

Quando sou livre e não obrigado,

Quando amo e sou amado,

Quando reconheço que estive errado.

É estar bem comigo próprio,

Sem raiva ou sequer ressentimento,

É estar contra a injustiça,

É ser contra a miséria,

E contra alguns charlatões,

Que mascarados de políticos,

Ajudam a conspurcar a Terra.

Também me faz feliz, estar vivo,

Poder manifestar sentimentos,

Poder ouvir e ser ouvido,

Não impor qualquer ideia ou vontade,

Antes, respeitar argumentos.

Passear pela beira-mar,

Inalar a maresia,

O ininterrupto vai e vem das ondas,

Desafiando à poesia,

E ver o astro rei caído no horizonte,

Com os últimos raios do dia.

É ter família e amigos,

É um serão à lareira,

É beber um copo de vinho,

Proveniente da minha parreira.

Lino Solposto

 


Atelier de Escrita e Leitura

(Onde damos aromas e sabores ás letras)

  Objectivo:

- Incentivar a escrita de textos próprios, baseados num tema, selecionado anteriormente pelo grupo coordenador.

- Leitura dos textos em grupo e participação na Roda de Leitura, promovida pela Associação de Alunos da Universidade Sénior.

- Construir um livro no final do ano, com os textos apresentados pelos participantes.

 

Normas de participação

1- Os textos devem ser escritos, pelos próprios e nunca publicados, em “Arial 12” de preferência e no máximo de 2 folhas

   A4 separadas, ou 1 folha A4 frente e verso.

2- Todos os textos devem ser assinados e enviados para o e-mail “Atelier.Escrita.Leitura@gmail.com” ou entregues em papel na

    Associação de Alunos.

3- Devem ser entregues entre 7 a 10 dias após a definição do Tema.

4- Os textos a ser lidos na Roda De Leitura devem ter a autorização do próprio, e serão sujeitos a um sorteio anónimo efectua-do pelo

    grupo coordenador, composto pelos 3 elementos: Maria José Domingos, Cândida Cardante Martins, Emílio Duarte

5- Os textos lidos na Roda de Leitura podem ser lidos pelo próprio, ou por outro elemento, por ele designado.

6-  A participação implica a aceitação destas normas.

7-  A Associação de Alunos é o nosso apoio para a marcação de salas, visitas de estudo, e para outro de tipo de material  necessário.

 

 4 de Janeiro de 2020

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